Depois de passar mais de dez anos só pagando dívidas, uma “herança maldita” deixada por várias gerações que passaram pela Colina Iluminada no Morro da Luz, o quase centenário Clube Esportivo Dom Bosco está começando a recuperar a sede social para dar a volta por cima, superando uma crise que parecia não ter fim e que culminou com o licenciamento do azulão da Federação Mato-grossense de Futebol, considerado uma “grande vergonha” pelos torcedores da velha guarda.
Procurador aposentado do Estado, advogado, professor universitário, jornalista e ex-radialista Adbar de Souza Salles, cumprindo o segundo mandato como presidente da diretoria executiva do Dom Bosco, conhece bem os problemas do clube, em virtude de uma profunda ligação que existe entre ambos. Salles chegou ao cargo há quatro anos, mas já foi inclusive atleta amador do Dom Bosco, que nasceu no Colégio Salesiano São Gonçalo, sócio, conselheiro, além de ter chefiado o Departamento Jurídico do clube por duas décadas.
Adbar Salles não revela o montante das dívidas que foram zeradas em mais de dez anos, mas o clube foi obrigado a se desfazer de uma área razoável de sua sede social na Colina Iluminada para evitar uma penhora. Ele acusa o ex-presidente Lino Miranda de ter “afundado” o Dom Bosco, chegando inclusive a oferecer como garantia do pagamento de uma dívida o fogão industrial da cozinha do Dom Bosco que o ex-presidente tinha transformado em “marmitaria” que ele próprio explorava.
O presidente do Dom Bosco classifica de uma simples e insuficiente ajuda, os valores que os patrocinadores destinam aos clubes para inserirem propaganda em seus uniformes. E critica o patrocínio do Poder Público ao futebol profissional, pois o governo já tem que construir escolas e hospitais para atender a população. Para Adbar Salles é preciso acabar com o “pão e circo” que iludia o povo nos tempos do Império Romano.
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Adbar Salles – O Clube Esportivo Dom Bosco teve sua origem no Colégio Salesiano São Gonçalo com um time de futebol amador dirigido e treinado pelo saudoso padre Remeter, um salesiano de origem alemã, apaixonado por futebol. Isso em 1925. No inicio dos anos 1960, uma plêiade de aficionados dombosquinos liderados pelo então presidente na época, o então tenente do Exército, Caraciolo de Oliveira (falecido a pouco tempo), resolveram construir um Clube Social num terreno de quase um hectare e meio, no Bairro Bandeirantes, adquirido da família Lima Avelino. Do futebol amador colegial para uma sociedade civil, o Clube Dom Bosco resolveu profissionalizar-se montando um time de futebol que ganhou vários títulos no Estado de Mato Grosso. Com a decadência da sociedade civil com o advento de novos padrões de vida em sociedade a partir dos anos 1990 e a falência o futebol cuiabano, o Dom Bosco, vergado por pesadas dívidas de várias gerações, licenciou-se da Federação Mato-grossense de Futebol, mantendo apenas o seu quadro associativo, já bem diminuto. Hoje o Clube Dom Bosco tenta restaurar sua sede para realização de eventos culturais, sociais e artísticos. É o que somos hoje.
HiperNotícias – É verdade que o Dom Bosco passou os últimos anos só pagando dívidas, principalmente das sucessivas gestões de Lino Miranda na presidência do clube? Qual era o montante dessas dívidas e a que se referiam as principais delas?
Adbar Salles – É verdade. Desde 2002 até a presente data temos nos preocupado em tirar o clube da bancarrota financeira gerada pela passagem desse cidadão pela presidência da sociedade. Somente agora, em 2013, conseguimos zerar as dívidas, isto sem prejuízo da diminuição de seu patrimônio físico. “Vão-se os anéis, porém mantém os dedos intactos”, diz o velho ditado popular. Mais de 2.000 metros quadrados foram diminuídos de sua área total de quase 14.000 metros quadrados para honrar os compromissos e manter a sede disponível para a sociedade cuiabana e sua cidade.
HiperNotícias – O quadro associativo do Dom Bosco continua fiel ao clube e pagando em dia as mensalidades? Quantos sócios o clube tem hoje?
Adbar Salles – O Dom Bosco tem hoje, aproximadamente, 60 sócios-proprietários em dia com suas obrigações financeiras e estatutárias. Mais de 1.000 antigos ex-associados foram desligados por falta de cumprimento ou inadimplemento dessas mesmas obrigações estatutárias.
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Adbar Salles – Sim, para o pagamento de dívidas pessoais do cidadão Lino Miranda na época .
HiperNotícias – A nova diretoria do Dom Bosco tem um plano, um projeto, para revigorar não apenas suas finanças, mas o clube como um todo?
Adbar Salles – Sim, em parceria com vários arquitetos do projeto/evento “Morar Mais Por Menos”, pretendemos até o ano de 2018 estar com toda sede do clube restaurada e funcionando 24 horas por dia, com eventos sociais, culturais e artísticos, além de um restaurante (bistrô) de categoria internacional. Ou seja, o Dom Bosco vai deixar de ser apenas uma agremiação do interior do Brasil para ser um ícone dos movimentos da sociedade cuiabana, vivificando as tradições e culturas da cuiabania e de Mato Grosso. Quem viver, verá!
HiperNotícias –Em relação a sua bela sede social no Morro da Colina, o que vai ser ou já está sendo feito para recuperar esse patrimônio do clube e que estava sendo dilapidado?
Adbar Salles – A Sede Social do Clube Esportivo Dom Bosco está vivenciando hoje um projeto de sua total restauração e modernização. Já foram gastos mais de um milhão de reais nessas reformas.
HiperNotícias – Agora existe uma diretoria completa trabalhando efetivamente para fazer o Dom Bosco “renascer das cinzas” ou o clube continua vivendo e dependendo de uns poucos abnegados dirigentes, como foi o caso durante muitos anos do saudoso Joaquim de Assis?
Adbar Salles – Infelizmente, a realidade é muito dura. Mas afianço aos seus leitores que àqueles que estão aqui conosco, como os ex-presidentes Álvaro Scolfaro , Antonio Gonçalo Souto de Arruda (Totó) e Paulo de Campos Borges, além da nova geração de dombosquinos – a 3ª – como é o caso do Fábio de Assis, neto do saudoso Joaquim Francisco de Assis, e os novos reforços como Francisco Anis Faiad , dedicam-se integralmente na defesa de nosso clube e dos problemas naturais que surgem decorrentes de sua própria e teimosa existência.
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Adbar Salles – Nós terceirizamos o futebol profissional do clube. Qualquer dombosquino que quiser montar uma equipe para participar de eventos programados pela FMF ou CBF, basta apenas constituir uma sociedade privada própria e fazer um projeto com orçamento próprio e submetê-lo à apreciação de nosso Conselho Deliberativo que decidirá a respeito. A apreciação do Conselho Deliberativo visa impedir a má e indevida utilização do nome do clube, de suas cores, distintivos e brasões em projetos mal elaborados que venham enxovalhar o nome e as suas tradições .
HiperNotícias – Como presidente do Dom Bosco, o senhor acha que a construção da Arena Pantanal pode ajudar o futebol profissional de Mato Grosso a voltar a ocupar posição de destaque no cenário nacional como aconteceu na década de 70 ou complicar ainda mais a vida dos clubes por causa dos altos custos de sua manutenção?
Adbar Salles – Devolvo ao repórter a pergunta: o “Verdão“ salvou nosso futebol quando foi construído? Continuamos entendendo que não e o falido futebol mato-grossense vive as custas de algumas pessoas endinheiradas. Aqui no nosso clube HOJE ninguém, mas ninguém mesmo, põe seu dinheiro próprio ou de sua família no clube. O clube tem que sobreviver com seus próprios recursos, de suas próprias receitas.
HiperNotícias – Nos últimos anos, o futebol profissional de Mato Grosso ganhou em quantidade, mas perdeu em qualidade, pois hoje apenas dois clubes – o Luverdense e o Cuiabá – estão em evidência. O que está faltando para o futebol se nivelar: dirigentes mais ousados como Joaquim de Assis (Dom Bosco), Rubens dos Santos (Operário), Lino Miranda (Mixto) ou investimentos mais pesados dos seus patrocinadores?
Adbar Sales – Falta investimento pesado no setor, menos do Poder Público. As empresas que vieram para Cuiabá e aqui ganharam muito dinheiro, tem quase que uma obrigação de colaborar financeiramente com os times locais. Mesmo porque o retorno publicitário e de marketing é líquido e certo. O que não acho certo é o Poder Público que tem de construir escolas e hospitais para maior parte da sua população, distribuir verbas para clubes privados, sob qualquer finalidade.Temos que acabar com a estória ultrapassada do “Pão e Circo”.
HiperNotícias – O dinheiro que os clubes recebem dos seus patrocinadores não é suficiente para manter bons times hoje no futebol mato-grossense?
Adbar Salles – Não é patrocínio, mas uma simples e insuficiente ajuda de custo. Para se ter uma ideia a TV Globo pagou neste ano R$ 500 mil para cada time do Rio de Janeiro como patrocínio ou venda da imagem no Campeonato Brasileiro; a repetidora da TV Globo em Cuiabá pagou pelo mesmo motivo, ou seja, para transmitir partidas do Campeonato Mato-grossense, a bagatela de 5 mil reais por partida. O pior é que todos os clubes receberam, sem reclamar.
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ZEZE 02/12/2013
ZEROU TODAS AS DIVIDAS????? PAGOU O IPTU TAMBEM PRESIDENTE??? EU ACHO QUE NÃO HÉIM???? TORCEDOR
1 comentários