A professora de Língua Portuguesa Maria José Arruda virou alvo de críticas e foi acusada de praticar ‘blackface’ durante uma aula sobre o Dia da Consciência Negra, ministrada na escola estadual Alcebíades Calhao, no bairro Quilombo, em Cuiabá. Na ocasião, a educadora se pintou de negra para interpretar Mãe Bonifácia, figura lendária que viveu em Mato Grosso no período da escravidão e hoje dá nome a um dos principais parques da Capital.
Em conversa com o HNT, a educadora lamentou a repercussão negativa do caso, afastou as acusações de racismo e explicou que seu intuito era apenas de retratar a história "de uma linda mulher negra" de maneira lúdica aos estudantes.
“Não há nada de racismo, fui contar a história linda de uma mulher negra para os alunos, em alusão ao Dia dos Negros. Com o intuito de que eles nunca se esqueçam desta pessoa que marcou a história, ensinou seus costumes, cuidou dos negros açoitados, uma mulher que viveu no próprio bairro em que está localizada a escola. Não foi 'black face' porque eu estava toda caracterizada para contar e ilustrar uma história”, disparou à reportagem.
Arquivo Pessoal
Ação fez parte de programação do Dia da Consciência Negra da Escola Estadual Alcebiades Calhao, em Cuiabá
Conforme ‘Mazé’, como é conhecida entre os alunos, a repercussão negativa partiu de um grupo de WhatsApp do bairro.
“Eu publiquei algumas fotos no grupo do bairro, onde os alunos têm e fazem parte. Tudo que fazemos mostramos para a comunidade com o intuito de realizar a valorização do bairro e das pessoas. [...] Não entendi essa propagação, não há dolo, não foi uma ridicularizarão, o lúdico faz parte da didática”, destacou.
Segundo a educadora, a escola dividiu o Dia da Consciência Negra em duas programações, sendo a primeira realizada na última sexta-feira (17), no período vespertino, e na manhã desta terça-feira, um dia depois do feriado, no período da matutino.
“Como eram poucas apresentações, os alunos e professores me pediram para eu me vestir e contar a história da Mãe Bonifácia. De pronto, fiz. Não foi nada além de uma aula sobre a história de uma negra que viveu no bairro Quilombo, onde a escola está localizada. Só isso. Hoje, existe o parque onde há a escultura da mesma com os escravos, com a mesma vestimenta que tento representá-la. Todo ano a escola leva os alunos no parque e eu conto a história, só que este ano, por causa do calor, não levamos. Não há crime no que fiz. Sou humana, amo ser professora e o faço com esmero”, reiterou.
Arquivo Pessoal
'BLACKFACE'
Do inglês, black, "negro" e face, "rosto", a prática é considerada racismo, no entanto, não se configura crime. Isso porque, entre os ativistas da luta racial, a ação foi por muitos anos utilizada para ridicularizar pessoas negras e servir de entretenimento.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Estado de Educação (Seduc-MT) destacou que “a ação da educadora fez parte de uma culminância das atividades relacionadas a equidade na educação e ao Dia Nacional da Consciência Negra, que também ocorreu nas demais escolas da Rede Estadual de Ensino. Além de repudiar veementemente qualquer forma de racismo, reforça seu compromisso em garantir uma educação de qualidade, inclusiva e livre de preconceitos".
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