Referências no MMA mundial, os irmãos Antônio Rogério (Minotouro) e Antônio Rodrigo (Minotauro), já aposentados do tatame, mas não fora deles, realizam um dos seus sonhos: levar as artes marciais para o Brasil. Os irmãos Nogueira, como são conhecidos, lançaram recentemente no país o projeto 'Esporte para além das Fronteiras, Lutas' e pretendem ganhar escolas de todo o país.
Felipe Carvalho
Nascidos em Vitória da Conquista, na Bahia, os irmãos ganharam o mundo. Rodrigo Minotauro, único lutador na história a ganhar os cinturões dos pesos-pesados do UFC e PRIDE. Seu irmão gêmeo, Minotouro, também foi campeão interino do peso-pesado do UFC, campeão do World Extreme Fighting (WEF) em 1999, campeão do Rings: King of Kings, em 2000 e é ex-campeão peso pesado do PRIDE.
Os irmãos estiveram na semana passada em Várzea Grande para lançar o projeto Esporte para além das Fronteiras, em parceria com a Prefeitura de Várzea Grande.
A equipe do HNT conversou com os atletas, que contaram um pouco sobre a vida e os novos planos nas artes marcias. A entrevista começa com Rodrigo, que contou como começou a treinar aos 4 anos de idade e ganhou o mundo com esporte.
“Eu comecei a treinar aos 4 anos de idade.Naquela época, não tínhamos tatame, treinávamos em casa em dois colchonetes, eu e Rogério. Usávamos quimono emprestado, alugávamos fitas k-7 de lutas e repetíamos os movimentos. Depois, minha mãe, que era professora de educação física, comprou uma academia. A gente tinha uma obrigação, todo mundo tinha que praticar esporte. Eu e o Rogério começamos no judô. Foi assim que as artes marciais entraram nas nossas vidas”, conta.
Aos onze anos, Minotauro sofreu um grave acidente ao ser atropelado por um caminhão, ficou 25 dias em coma e passou um ano internado no hospital. Uma cicatriz nas costas se tornou uma forma simples de diferenciá-lo do seu irmão gêmeo.
“Fui atropelado por um caminhão no começo da adolescência, depois, tive outro acidente, onde perdi quase 80% da minha visão do olho direto, mas ainda assim eu não desistir de ser um atleta, de ser um empresário, porque a arte marcial me troux, autoestima, confiança, resiliência, metas. Conheci mais de 50 países através da luta. E todos esses benefícios que eu tive foi através do esporte, das artes marciais. E hoje é nosso sonho é meu projeto de vida passar esses benefícios para crianças”, salienta.
Os primeiros destaques internacionais da dupla foram no Pride, competição em que Rodrigo se sagrou campeão dos pesados e Rogério fez combates memoráveis. Famoso pelo alto calibre de finalizações e poder de superação dentro e fora das arenas de luta, Minotauro chegou ao Ultimate em 2007, quando também faturou cinturão, o interino dos pesados, um ano depois. Minotouro subiu ao octógono da organização pela primeira vez em 2009.
Os irmãos Nogueira viajaram o mundo representando o Brasil no esporte.
“Com das artes marciais tivemos a oportunidade de conhecer o mundo: Japão, China, Emirados Árabes, Dubai, Estados Unidos, representando o Brasil no esporte. Quando a gente está no tatame, a gente só pensa em vencer, conquistar títulos, mas quando chega em determinado momento da carreia, a gente começa a pensar em um legado que a gente quer deixar, e nós, com certeza, estamos deixando um com esse projeto”, reforça Minitouro.
Rogerio também relembra a triste fase, quando o irmão sofreu uma acidente e o quanto o esporte foi fundamental para recuperação dele.
“Ele teve um acidente ainda na infância, no começo da carreira, tinha 11 anos de idade, e o esporte foi fundamental para a recuperação. Quando ele voltou, voltou com tudo, Minotauro é um ídolo, é um prazer estar ao lado dele até hoje”, dispara.
Os campeões dos octógonos em suas lutas pelo mundo foram adquirindo experiências e habilidades únicas. Em 2008, eles decidiram criar o Instituto Irmãos Nogueira, uma academia de artes marciais no Rio de Janeiro rodeada por comunidades carentes, onde ninguém paga para aprender a lutar.
LEGADO
A experiência nos octógonos com superação, disciplina, resiliência e determinação sempre estive presente na vida dos lutares, desde o início até́ o sucesso nas principais organizações de MMA, PRIDE, Jogos Pan-Americanos e UFC, que levaram os irmão a desenvolver a metodologia 'Team Nogueira', aplicada no instituto e nos projetos, como o Esporte para além das Fronteiras.
“Nós realizamos um estudo por dez anos. Em 2019, iniciamos o projeto e, em fevereiro, aplicamos na primeira escola em Alagoas. As pessoas acham que tudo tem um limite, mas no esporte, não limites para quem sonha. A criança que está inserida no esporte, quando se porta com fundamento nas artes marciais, ela é uma criança mais disciplinada, concentrada, tem alto controle", avalia Minotauro.
Para Minotouro, passar essa experiência para crianças é gratificante, é a realização de um sonho. O projeto Esporte para além das Fronteiras, Lutas foi lançado em fevereiro de 2022 e já foi instalado em duas cidades, em Maceió, no Alagoas, e Várzea Grande, na última semana.
“É muito importante para crianças estarem inseridas no programa esportivo, ainda mais dentro de uma escola, como é caso. O pai não precisa levar para uma academia, o esporte já está dentro da escola. Eu tenho certeza de que para famílias vai ser um grande presente”, comenta Rogério.
Minotauro falou também fala sobre as técnicas que são aplicadas nas aulas. “A repetição é o segredo para qualquer exercício, principalmente no esporte, nas artes marciais, então, você tem que repetir para fazer de formar correta”, conta.
Os irmão pretendem levar o projeto para todo o Brasil. Esporte para além das Fronteiras, Lutas foi desenvolvido para acontecer dentro das escolas no ensino fundamental, ou seja, para crianças a partir dos 4 anos de idade.
“É caminho longo pela frente, a gente quer deixar um legado para essas crianças da melhor forma junto com a educação dentro da escola. Existem duas formas de educar uma pessoa, disciplina na educação e no esporte, mas um esporte de forma prazerosa. O esporte traz superação”, frisa Minatauro.
Rodrigo finaliza a entrevista dizendo que vai estar no tatame até ficar velhinho. “O esporte nunca vai sair da minha vida, eu quero estar velhinho, com quimono e a faixa vermelha, ensinando as crianças”.
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