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Artigos Terça-feira, 19 de Março de 2013, 09:00 - A | A

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Terça-feira, 19 de Março de 2013, 09h:00 - A | A

Quando falta diálogo, bom senso e habilidade

Muito se falou, muito se escreveu e muito se discutiu a respeito do recente episódio das moradias estudantis na UFMT, que culminou com a ação desastrosa da Polícia Militar. Um assunto doméstico que poderia ter sido resolvido de forma administrativa ...

AFRANIO MOTTA

Divulgação


Muito se falou, muito se escreveu e muito se discutiu a respeito do recente episódio das moradias estudantis na UFMT, que culminou com a ação desastrosa da Polícia Militar. Um assunto doméstico que poderia ter sido resolvido de forma administrativa acabou gerando polêmica, desencadeando descontentamento e revolta dos discentes, ganhando visibilidade na mídia e trazendo à tona a fragilidade das relações institucionais.

Vídeos, fotos, posts e comentários ganharam espaço nas redes sociais, talvez o mais democrático fórum para garantir o direito de opinião do cidadão, independente da posição que ocupa na sociedade.
Evitei até agora emitir qualquer opinião ou fazer juízo a respeito da questão. Primeiro para não ser contaminado pela emoção dos fatos, o que certamente reduziria as possibilidades de um julgamento isento de clareza e imune de interferência. Segundo, porque mesmo que indiretamente sou personagem deste fatídico acontecimento, já que a UFMT é a instituição que ha quase 20 anos tenho o orgulho de pertencer como docente.

E é exatamente por fazer parte da UFMT e por acreditar que nada, nem nenhum episódio podem ferir a imagem da instituição, que nos últimos 42 anos vem atuando como centro gerador de conhecimento, cumprindo seus princípios institucionais de compromisso social; democracia; inclusão; interação; formação e autonomia, que decidi me manifestar com objetivo de contribuir para trazer os fatos à luz da razão.

Como uma questão simples e de fácil solução ganhou proporções inesperadas e resultou em violência e desrespeito aos direitos individuais de livre manifestação. Onde está o erro? O que faltou? Essas são algumas perguntas que carecem de respostas e que são cobradas pela sociedade. É inegável que o investimento em assistência estudantil tem crescido na UFMT nos últimos anos, através da bolsa permanência e auxílios alimentação e moradia. O que não significa que o aluno carente possa ficar tranquilo, pois muitas ações ainda precisam e podem ser implementadas, ainda mais com a universalização das vagas implantada pelo ENEM. Com relação ao auxílio moradia, a UFMT possui cerca de cinco casas que abrigam em média oito alunos cada. Desses imóveis, alguns deles são alugados e seus contratos encontram-se vencidos e estão supostamente sendo questionados pelo Ministério Público. Por outro lado, a instituição acaba de construir dentro do campus uma Casa do Estudante com capacidade para abrigar 50 discentes. Simples, não? Os alunos hóspedes das casas alugadas poderiam ter sido reunidos e informados da situação e sobre um possível remanejamento para o novo imóvel, ouvidos sobre as possibilidades de solução do problema, envolvidos nas discussões já suas vidas e seus futuros dependiam disso. Certamente, tudo teria sido resolvido com diálogo e de forma pacífica e harmoniosa. Levando em consideração que a administração superior da universidade comunicou aos alunos moradores das casas estudantis quando tudo estava decidido, fica claro que não estava disposta a negociar, ou sequer ouvir a opinião dos alunos que seriam afetados pela decisão tomada de forma unilateral.

Analisando os acontecimentos posso afirmar que faltou diálogo, bom senso e habilidade para conduzir a questão, volto a repetir, doméstica e de fácil solução. Aos alunos, diante da falta de disposição da universidade em conversar, resolveram radicalizar e partiram para a única forma, pouco simpática, de chamar a atenção da sociedade. Foram para a avenida Fernando Correa e fecharam o trânsito, para desespero dos já estressados motoristas em função das interdições resultantes das obras de mobilidade urbana para a Copa do Mundo de 2014. Uma demonstração da ausência das mesmas habilidades que faltaram a administração superior da UFMT: Capacidade de dialogar e falta de habilidade e de bom senso em buscar alternativas que pudessem contemplar soluções legais e dentro dos princípios de justiça social.

Com a Polícia Militar não foi diferente, faltaram as mesmas qualidades e sobraram truculência e falta de informação. A afirmação do Comando Geral da PM de que a ação das consideradas forças de elite da Polícia Militar, Rotam e Força Tática, foi legítima, pode até despertar a revolta da opinião pública. Contudo, devemos reconhecer que a posição é coerente, já que como aparelho de segurança pública do estado, a atuação das Polícias nas situações de crise é uma obrigação constitucional, não podendo estas jamais se omitir. Errada e equivocada, no entanto, foi a forma de atuação no conflito, quando estudantes universitários foram tratados como marginais perigosos, e contidos como se colocassem em risco a segurança da população. Demonstrou a Polícia Militar total despreparo para atuar na pacificação de crises. Muito comum nesses casos, a PM envia ao local um negociador, que tem a obrigação de esgotar através do diálogo todas as possibilidades de um acordo pacífico. É assim até com sequestradores ou terroristas, porque não haveria de ser com manifestantes do movimento estudantil? No entanto a atuação contra os estudantes foi violenta, quando estes foram contidos com truculência, reprimidos a tiros de bala de borracha, arrastados, presos e vítimas de tortura psicológica. Advogados que se apresentaram em defesa dos alunos da UFMT, foram desrespeitados e da mesma forma agredidos moralmente, numa clara demonstração de violação do livre exercício da profissão. Pior ainda é saber que a PM anda rondando as casas dos estudantes como forma de intimidação, desconhecendo o fato de que os jovens idealistas, defensores de uma causa jamais se deixam intimidar.

Diante de tantas mazelas, nos resta acreditar que uma solução negociada possa ser encontrada, preservando a imagem da UFMT, garantindo os direitos dos estudantes e sobretudo mantendo o respeito às leis, aos poderes constituídos, aos valores democráticos, aos direitos individuais do cidadão e da liberdade de expressão.

Por fim deve ficar o exemplo de que pressão, coação, intimidação e chantagem são práticas que já deveriam estar extintas na academia, onde se pressupõe ser um ambiente livre e democrático de formação e valorização de uma cidadania consciente e crítica, onde a geração e propagação do conhecimento devem ser utilizados como forma de transformação da sociedade. Inexplicavelmente, essas práticas ameaçam voltar como forças ocultas, as mesmas talvez que já agiram em um passado não muito distante, dispostas a disseminar o medo e a insegurança. Isso não vai se repetir, pois estamos sempre alertas e dispostos a reagir, mesmo que tenhamos que apanhar em ações legítimas da polícia.

(*) AFRANIO MOTTA FILHO é formado em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda, mestre em Ciências da Comunicação e professor do quadro regular do curso de Comunicação Social da UFMT.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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