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Artigos Sexta-feira, 09 de Maio de 2025, 15:58 - A | A

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Sexta-feira, 09 de Maio de 2025, 15h:58 - A | A

ANDHRESSA BARBOZA

Política das tripas ao coração

ANDHRESSA BARBOZA

O barulho do tiro no coração que levou a vida do “pai dos pobres” ainda ecoa no quarto principal do Palácio do Catete. Ir ao Museu da República é como entrar em um túmulo, com direito a sentir o cheiro frio do lugar onde aconteceu o suicídio do presidente Getúlio Vargas.

É tão mórbido quanto surpreendente sentir esse instante suspenso no tempo depois de tantos anos. Lá estão a cama, o pijama perfurado manchado de sangue e uma voz lendo a carta deixada como um Sísifo carregando sua pedra até o topo e a vendo cair para recomeçar.

É um espaço carregado de simbolismo, onde cada detalhe serve como recurso narrativo para perpetuar a imagem de um líder em sacrifício.

A materialidade da dor de um coração que sofre é usada para lembrar ao visitante que política, às vezes, sangra.

A história política brasileira é, antes de tudo, uma história de golpes e contragolpes, sempre movidos a comoções do coração do povo escondendo da sua razão os motivos reais, os interesses econômicos.

Não raro, quando os fatos parecem escapar à razão, é o sentimento que toma as rédeas da narrativa pública. A política é a ciência da performance, não basta trabalhar muito e mudar a realidade de uma cidade, estado ou país. É preciso conseguir narrar isso e performar bem, é preciso fazer com que as pessoas se sintam conectadas.

E as pessoas vão dar mil razões para justificar suas escolhas de candidatos, mas no final, a razão é visceral, “é do coração”.

E o tiro nele, no próprio coração, em pleno exercício do poder, foi uma escolha meticulosa de quem queria sair da vida para entrar na história de forma tão trágica.

O coração choca, mas ele também pode ser sinônimo de sensibilidade a serviço do bem comum.

Não é à toa que candidatas mulheres usam e abusam de logos e gestos remetendo ao coração.

Claro que não só elas, mas ligar o feminino às emoções é parte do arquétipo, do senso comum. Quando queremos dizer que um governador tem ações sociais, dizemos que mesmo sendo um gestor firme, ele é sensível.

Na comunicação política, essa exposição das entranhas tem diferentes formas e intenções.

Na última semana vimos uma outra figura presidencial apelando para exibição literal de suas vísceras nas redes sociais.

Mas, será que que a intenção era chocar para comover ou chocar para inflamar os ânimos em meio a processos judiciais que correm no STF?

Qual o limite entre sensibilizar e engajar na sua luta e causar repúdio?

A medida do uso correto do grotesco exige cálculo, e será que quem a utiliza domina a arte da empatia?

Expor as tripas mobiliza uma base já sensibilizada, isso é fato, porque se fala para convertidos, mas a repulsa que ela causa traz mais rejeição ou sensibiliza e comove?

Acima das tripas, o coração também é usado de forma simbólica e ele, ao lado do slogan “o amor venceu”, mobilizaram afetos que contrapunham o discurso da raiva e do medo.

Foi uma estratégia emocional, mas positiva, centrada na ideia de reconstrução e esperança.

O marketing político, nesse caso, apostou no afeto como linguagem universal, e venceu.

Esses dois polos – o das tripas e o do coração – refletem estratégias distintas de comunicação política.

Uma agressiva e visceral, combativa, contra tudo isso que tá aí, canaliza a insatisfação de um país com abismos sociais imensos, com analfabetismo funcional, com saúde pública sempre em escândalos.

A segunda estratégia, mais afetiva e agregadora, aposta na construção simbólica do bem comum, mas que reprime e ignora a raiva, a dor, a angústia de quem vive os problemas reais do país, o trabalhador que passa horas no transporte, a insegurança diante da violência.

Ambas são estratégias legítimas, mas ambas falam para convertidos.

Como profissional do marketing político, vejo que cada tempo e cada político exigem uma sensibilidade própria. Não podemos negar o sangue, a vida é visceral, mas o povo anseia por afeto.

Por outro lado, é importante deixar claro que não adianta o amor vencer se ele reprime e não encara os problemas sociais, a fome, a corrupção.

Também não adianta apelar para o grotesco em momentos críticos. Talvez seja hora de começar a nascer outros discursos políticos que agreguem das tripas ao coração.

(*) ANDHRESSA BARBOZA é jornalista e cientista social.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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