A Câmara dos Deputados tem 513 parlamentares. Mas no Instagram, o debate político parece caber em uma van: apenas 14 deputados concentram mais da metade de todas as interações geradas no semestre.
Nikolas Ferreira (MG), Bia Kicis (DF), Erika Hilton (SP), Gustavo Gayer (GO), Kim Kataguiri (SP) e Guilherme Boulos (SP) são alguns dos nomes que, gostemos ou não, dominam o fluxo de atenção digital da política nacional.
Os números não são de achismo. O relatório “Monitoramento de Performance Digital dos Deputados Federais”, elaborado pelo autor com base em dados extraídos da plataforma Fanpage Karma, analisou mais de 601 milhões de interações nos perfis oficiais dos parlamentares no Instagram entre 1º de janeiro e 30 de junho de 2025.
A constatação é direta: a influência política digital está concentrada nas mãos de poucos, ao passo que a maioria mantém uma presença razoável, mas sem relevância significativa.
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Juntos, os 14 parlamentares tiveram mais de 307 mil interações no Instagram. Fonte: Lincoln Xavier/FanpageKarma; interações entre 1º de janeiro e 30 de junho
Alguns disputam cliques com estratégias bem definidas. Outros abdicam de comunicar seu mandato com intencionalidade. Em seis meses, por exemplo, o deputado Fábio Schiochet (SC) não publicou absolutamente nada autoral em sua conta oficial. Já o deputado Luiz Fernando Faria (MG), com apenas 19 publicações no semestre, somou menos de mil interações.
Há também o caso de quem posta demais, mas comunica de menos: Capitão Alden (BA) e Evair de Melo (ES) lideram em número de postagens, com média de 13 por dia, mas não figuram entre os parlamentares com maior engajamento, eficiência ou crescimento qualificado. O volume, quando desconectado da audiência, vira ruído.
Por outro lado, parlamentares como Nikolas Ferreira lideram com folga, acumulando 78 milhões de interações com apenas 50 publicações no semestre — um desempenho que comprova que eficiência digital não é sobre frequência cega, mas sobre relevância, timing e identidade clara. Gustavo Gayer sustenta um dos desempenhos mais consistentes, equilibrando constância e impacto. Erika Hilton ativou novas audiências e conquistou mais de 600 mil seguidores no período. Já o Delegado Bruno Lima (SP) e o deputado Célio Studart (CE), com foco em pautas sobre proteção animal, aparecem neste grupo seleto.
Completam a lista dos 14 deputados mais influentes nas redes nomes como Mario Frias (SP), Carlos Jordy (RJ), Helio Lopes (RJ), Paulo Bilynskyj (SP), Marcel van Hattem (RS) e Sâmia Bomfim (SP) — cada um com sua narrativa e público segmentado.
Esse cenário não revela apenas vaidades digitais. Ele escancara uma nova camada de desigualdade política: a da atenção.
Em um ambiente onde os algoritmos premiam constância, narrativa e segmentação, os parlamentares que não dominam as redes perdem não apenas visibilidade, mas capacidade real de influenciar a opinião pública.
A verdade é que comunicar bem não é mais um bônus para o político contemporâneo: é pré-requisito. E não basta “estar” nas redes: é preciso ocupar com propósito. A autoridade, nesse novo campo de disputa, não se impõe pelo cargo, mas se conquista pela coerência, constância e capacidade de gerar conversa com quem importa.
Quem fala por falar vira ruído. Quem comunica com estratégia vira referência.
(*) LINCOLN XAVIER é estrategista em marketing político, com experiência comprovada em mandatos e eleições. Instagram: @linkdolincoln .
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