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Artigos Sexta-feira, 04 de Julho de 2025, 10:51 - A | A

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Sexta-feira, 04 de Julho de 2025, 10h:51 - A | A

MARCELO SENISE

O algoritmo já decidiu seu voto. Você só não sabe

MARCELO SENISE

O que você está prestes a ler não é ficção científica, mas a realidade brutal da política brasileira. Acabamos de testemunhar o ponto de não retorno: a inteligência artificial não é mais uma ferramenta de campanha, mas o próprio campo de batalha onde a democracia está sendo silenciosamente desmantelada. E o mais aterrorizante é que a maioria de nós ainda acredita estar no controle.

A união profana entre a Inteligência Artificial Preditiva e a Inteligência Artificial Generativa criou um monstro. De um lado, a IA Preditiva, um olho que tudo vê, vasculha cada clique, cada curtida, cada suspiro digital. Ela mapeia seus medos, suas esperanças, suas vulnerabilidades mais íntimas. Sabe o que te irrita, o que te comove, o que te faz compartilhar. Do outro, a IA Generativa, um artista sem alma, usa esses dados para fabricar realidades. Vídeos hiper-realistas, áudios convincentes, textos que parecem sussurrar diretamente em sua alma – tudo criado sob medida para você, para o seu perfil, para o seu momento.

Não se iluda: a política tradicional morreu. O que vemos hoje é uma orquestração fria e calculada por engenheiros sociais que dominam essa tecnologia. Eles não estão apenas vendendo um candidato; estão hackeando sua percepção da realidade. É crucial entender que, se a oposição, e a direita em particular, há anos vinha refinando a arte da guerra digital – instigando o medo e a polarização, criando seus próprios "Estados opressores" e simulando catástrofes virtuais – agora assistimos à primeira ofensiva claramente planejada da esquerda a este arsenal. Isso transforma a disputa em um duelo de narrativas ainda mais feroz e orquestrado.

O verdadeiro diferencial, o pulo do gato dessa estratégia, é a engenharia de engajamento dos influenciadores digitais. Eles não são apenas multiplicadores — são catalisadores treinados que colocam os algoritmos das plataformas para trabalhar com absoluta intensidade. É a coordenação de centenas de influenciadores em chamadas estratégicas que faz o conteúdo atravessar todas as barreiras, transformando mensagens em trending topics em questão de minutos. Só assim a mensagem fura a bolha, toma um espaço gigantesco no debate e conquista até os públicos historicamente adversários.

Com isso, a engrenagem é brutal: a IA preditiva rastreia humores, identifica rupturas de discurso, antecipa dúvidas e revoltas. A IA generativa cria vídeos, textos, imagens e memes sob medida — mas é o disparo sincronizado por influenciadores que obriga a própria arquitetura das redes a reconhecer importância e distribuir alcance massivo. O resultado é que setores hostis à pauta acabam inundados por conteúdos cirurgicamente preparados, potencializando organicamente o discurso favorito.

O duelo entre o PT e a oposição é apenas o laboratório. Enquanto um lado dramatiza o sofrimento do povo com impostos fabricados por IA, o outro simula o caos de um Estado inchado, também com imagens sintéticas. Nada ali é espontâneo. Cada detalhe é pensado. Cada cor, cada rosto sofrido, cada lágrima digital. O que vemos já não nos pertence: pertence à guerra da narrativa especular, em que a IA vira o mais novo personagem político — o roteirista oculto das emoções coletivas.

Os resultados são instantâneos e inegáveis. Em menos de 48 horas, campanhas digitais estruturadas por IA, com apoio massivo de influenciadores, ultrapassam 10 milhões de visualizações — um patamar inédito para certas legendas brasileiras. A estratégia surte efeito em tempo real, transformando intenção em engajamento. Como venho alertando há meses, isso é só o começo.

Estamos navegando em águas perigosas, sem ter a menor ideia de onde essa primeira ofensiva lastreada na tecnologia de IA pode nos levar. A cada ciclo eleitoral, a máquina aprende, refina e se torna mais letal. A esperança de um debate plural e espontâneo se esvai à medida que a IA impõe pautas, emoções e silêncios, sem assumir autoria e sem dar chance ao contraditório. O risco é que percamos todos a capacidade de ouvir, ponderar, analisar — e passemos a “consumir” política como se consome reality show: torcendo, curtindo, odiando, sem distinguir o que é fato do que é efeito especial.

O futuro da democracia está em jogo. Não é mais uma questão de "se", mas de "quando" a linha entre a verdade e a manipulação se tornará completamente invisível. Você ainda acredita que suas reações são suas? Que suas opiniões são fruto de sua própria reflexão? Ou será que já estamos vivendo sob o domínio de uma vontade que nunca foi verdadeiramente nossa, programada por algoritmos que sabem mais sobre nós do que nós mesmos? O tempo para reagir está se esgotando. Ou exigimos transparência, ética e limites para essa engrenagem agora, ou seremos apenas o eco programado do algoritmo.

(*) MARCELO SENISE é Presidente do IRIA – Instituto Brasileiro para a Regulamentação da Inteligência Artificial. Sociólogo e marqueteiro político. Fundador da Social Play e CEO da CONECT IA. Especialista em inteligência artificial aplicada à Comunicação Política. Twitter: @SeniseBSB | Instagram: @marcelosenise

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