Sábado, 20 de Setembro de 2025
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Artigos Sexta-feira, 19 de Setembro de 2025, 14:48 - A | A

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Sexta-feira, 19 de Setembro de 2025, 14h:48 - A | A

JUACY DA SILVA

Dia mundial da limpeza 2025

JUACY DA SILVA

Ao publicar a Encíclica Laudato Si, em 24 de Maio de 2015, ou seja, há dez anos, o Papa Francisco, utilizando o Método da Igreja: VER, JULGAR/CELEBRAR e AGIR, pontuou diversos aspectos importantes quando se debruçou sobre a saúde do planeta, os direitos da natureza, a justiça social, a justiça climática e a justiça intergeracional.

Assim, ele destacou alguns aspectos que estão diretamente relacionados com a questão da LIMPEZA, seja no plano individual ou doméstico e também da limpeza dos biomas, ecossistemas, enfim, a importância da limpeza, como base da sustentabilidade, particularmente as questões da água, do saneamento básico e do lixo/resíduos sólidos.

Vejamos o que nos dizia Francisco. Há dez anos: “A terra, nossa casa, parece transformar-se cada vez mais num imenso depósito de lixo” LS 21; Toda a pretensão de cuidar e melhorar o mundo requer mudanças profundas nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as sociedades » LS 5; “Estes problemas estão intimamente ligados à cultura do descarte, que afeta tanto os seres humanos, os excluídos, como as coisas que se convertem rapidamente em lixo.” LS 22.

Em relação a questão da água na Encíclica Laudato Si (LS), ele nos exorta textualmente, “A água potável e limpa constitui uma questão de primordial importância, porque é indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas terrestres e aquáticos” LS 28; “Um problema particularmente sério é o da qualidade da água disponível para os pobres, que diariamente ceifa muitas vidas. Entre os pobres são frequentes as doenças relacionadas com a água, incluindo as causadas por micro-organismos e substâncias químicas” LS 29. Também o Secretário Geral da ONU, António Guterres, em Novembro de 2024, numa mensagem de vídeo dirigida aos negociadores na Coreia do Sul, durante o evento para buscar um acordo histórico contra a poluição plástica, (que lamentavelmente até os dias de hoje os países não chegaram a um acordo), disse textualmente que “até 2050 os oceanos poderão ter mais plástico do que peixes”, uma projeção baseada em estudos que indicam o aumento da poluição plástica e a sua acumulação nos mares, lagos, rios e córregos do mundo todo, afetando a vida desses sistemas, particularmente a vida marinha e a saúde humana. Desde 1992, quando a ONU aprovou a criação do DIA Mundial da água, passando pelo Dia Mundial da Limpeza, (Woarld Cleanup Day) que surgiu na Estônia em 2028, a preocupação com a questão do lixo, dos resíduos sólidos , com o saneamento básico e a qualidade do ar e da água, principalmente para consumo humano, tem estado na “ordem do dia”, tanto das “celebrações” de diversos organismos internacionais quanto na Agenda das discussões públicas em, praticamente, todos os países. Aqui cabe um destaque quando se diz que água não pode ser considerado apenas um bem a se comercializado pelo mercado visando o lucro a ser acumulado por algumas pessoas em detrimento de bilhões de pessoas; mas um direito humano fundamental, da mesma forma que os alimentos e a moradia digna. Assim, diante desses desafios que afetam diretamente a qualidade de vida, da saúde e bem-estar das populações, principalmente de grandes camadas populacionais de pobres, excluídos e moradores das periferias de todas as cidades e também de bilhões de “esquecidos” que moram no meio rural, não podemos mais nos omitir, “racionalizando” esta triste realidade como algo “normal”, que faz parte do processo de “desenvolvimento” mundial e nacional. Para colocar este tema e esses desafios na agenda das discussões públicas e não apenas nos discursos, demagógicos e manipuladores das elites dominantes e dos donos do poder, foi escolhido o Terceiro Sábado de cada ano, que, em 2025, é 20 de Setembro, como o DIA MUNDIAL DA LIMPEZA. Limpeza de nossas casas, de nossos quintais, de nossas comunidades, de nossos córregos, de nossos rios, dos mares e oceanos, de nossas praias e nossas cidades. É super importante que possamos refletir, dialogar e não apenas fazermos nossa parte diante desses desafios, mas também exigir que nossos governantes, deixem de se preocupar com sue privilégios, suas mutretas e pensem, de forma séria, na definição de implementação de políticas públicas que resolvam de forma rápida tais desafios e problemas que afetam mais de 2,5 bilhões de pessoas ao redor do mundo e mais de 110 milhões de pessoas em nosso Brasil. Defender a democracia, defender o Estado democrático de direito, defender a soberania popular e a soberania nacional não pode ser apenas meros slogans, mas sim, definir e implementar políticas públicas, inclusive um amplo programa de Educação ambiental crítica ou revolucionária, que possibilitem tanto o despertar da consciência ecológica, do cuidado com o planeta, nossa Casa Comum, quanto em seus resultados melhorem de fato as condições de vida da população, principalmente as grandes massas de excluídos, explorados, injustiçados, desrespeitados em seus direitos fundamentais com pessoas humanas, através de novos paradigmas que promovam mudanças e transformações profundas nos sistemas produtivos e nas relações políticas, e, também, nas relações de trabalho e de consumo. Sempre é bom refletirmos sobre dados concretos da realidade, tanto mundial quanto de nosso país, para percebermos a gravidade da falta de cuidado, no que tange, por exemplo as consequências do descaso com questões ambientais importantes como a limpeza das águas, dos solos, em cada pedaço deste território planetário, como já mencionado.

De acordo com estatísticas oficiais, de organismos internacionais (ONU), em 2024, mais de 3,4 bilhões de pessoas não tinham coleta e tratamento de esgoto e 2,2 bilhões de pessoas não tinham acesso a água tratada, 2,7 bilhões de pessoas não tinham acesso a coleta regular de lixo, sendo que dessas, em torno de 2 bilhões moravam em áreas rurais e 700 milhões nas periferias urbanas.

O resultado, muito claro, além da degradação do meio ambiente, ou seja, da natureza, como degradação dos solos e das águas e do ar, esta realidade também tem consequências severas para a saúde humana, saúde individual e também saúde pública, inclusive agravando a precariedade da falta de recursos públicos, orçamentários para atender a bilhões de pessoas que diuturnamente buscam por cuidados médicos, hospitalares, ambulatoriais, além de milhões e milhões de mortes e muito sofrimento. O número de mortes causadas no Mundo em 2024, por falta de saneamento básico foi de aproximadamente entre 1,4 milhão a 2,5 milhões de pessoas, sendo que dessas, mais de 70% eram crianças com menos de 5 anos, o que demonstra a tamanho do sofrimento para tantas famílias. A poluição do ar, causado pelo descaso com o lixo e outros poluentes, em 2026 causou a morte de aproximadamente 1,2 milhão de pessoas por infecções do sistema respiratório. Para o leitor menos avisado, provavelmente pode pensar “ ah, isto é uma realidade distante, de países extremamente pobres da África, Ásia ou Oceania e isto jamais vai me afetar no Brasil”, e por isso “não estou nem aí”. Todavia, como resposta, invoco, novamente a sábias palavras do Papa Francisco quando ele dizia “Tudo está interligado, nesta Casa Comum, o Planeta Terra” e mais, que não existem duas crises separadamente, de um lado uma crise ambiental (da natureza) e de outro uma crise política, social e econômica, mas sim, apenas uma complexa crise socioambiental, que, para a sua solução são necessárias medidas também complexas, integradas e, “em regime” de urgência, tal como o nosso Congresso acaba de aprovar para a anistia de golpistas do 08 de Janeiro e da “PEC da Blindagem”, aumentando seus privilégios e status de cidadãos de primeira classe enquanto o resto da população continuará sendo tratada como “cidadãos e cidadãs” de segunda classe perante o sistema judiciário brasileiro. No Brasil, em 2024, na área urbana nada menos do ue 20,8 milhões de pessoas não tinham coleta regular de lixo e mais de 25 milhões de habitantes rurais também não tinham acesso a este serviço público, ou seja, totalizando 45,8 milhões de pessoas. Além disso, praticamente metade dos municípios brasileiros não tem uma destinação correta do lixo coletado e menos de 10% do lixo coletado é reciclado, indicando alto índice de degradação ambiental por resíduos nocivos a saúde humana e uma perda bilionária de recursos financeiros.

Em torno de 110 milhões de pessoas não tem coleta e tratamento de esgoto, sendo comum, inclusive em inúmeras capitais e cidades de médio, grande porte ou até mesmo regiões metropolitanas de regiões consideradas ricas, como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e outras mais, esgotos escorrendo pelas ruas, populações “morando” ao lado de córregos, palafitas ou valões transformados em esgotos a céu aberto.

Mais de 15 milhões de pessoas que vivem nas áreas urbanas, principalmente nas periferias, também não tem acesso a água tratada e de qualidade, condição básica para limpeza e higiene doméstica, necessária para a saúde dessas famílias. E no meio rural a população continua a mercê do uso de água contaminada por agrotóxicos, mercúrio de garimpos e outras formas de poluição. A degradação ambiental também provoca centenas de milhares de atendimentos médicos, hospitalares e ambulatoriais, como relatórios recentes indicam que anualmente entre 50 a 80 mil mortes tem como causa a poluição do ar, número muito maior do que as mortes por assassinatos, feminicídios, por acidentes de trabalho e de trânsito, mas que não causam tanta consternação seja por parte de autoridades seja por parte da população em geral. A falta de saneamento e água potável no Brasil causou, em 2023, cerca de 11.544 mortes Em 2024, o número de internações ultrapassou 340 mil, sendo que 8.830 óbitos foram de idosos, que representam um grupo mais vulnerável a essas condições. Cabe ressaltar, no caso do Brasil, que a questão da limpeza, problemas de coleta, tratamento e destinação correta do lixo e de esgotamento sanitário e suas consequências para o meio ambiente/natureza e, também ou principalmente, para a saúde humana, são muito diferentes entre as diversas regiões, sendo que o Nordeste e a Região Norte/Amazônia Legal, que abrigam em conjunto mais 85 milhões de habitantes, ou seja, 40% da população brasileira; essas duas regiões ostentam indicadores socioambientais, principalmente relacionados com coleta, tratamento e destino do lixo e de esgoto, bem como de acesso a água potável e de qualidade, são semelhantes ou piores do que vários países extremamente pobres da África e da Ásia.

Todavia em meio a tudo isso, nossos empresários e nossos governantes demonstram um enorme ufanismo diante do nosso poderio, potencial e do desempenho de nossa economia, esquecendo desses números vergonhosos que dizem muito de perto para os níveis de desigualdades sociais, econômicas e políticas que caracterizam nosso Brasil.

Toda esta realidade deveria estar sendo objeto de nossas reflexões não apenas neste 20 de setembro, DIA MUNDIAL DA LIMPEZA, mas também ao longo de todos os anos, tanto e principalmente, por parte de nossos governantes, de nossos empresários, de nossas lideranças civis, militares, eclesiásticas, enfim, pelos donos do poder e suas “trupes” e “asseclas”, quanto, também da população em geral.

Ao invés de terem urgência em relação a temas que não dizem respeito aos interesses das grandes massas, mas apenas de seus próprios interesses, nossos parlamentares, nossos governantes e lideranças deveriam, no exercício de seus mandatos, cargos e posições dedicarem mais tempo, recursos e ações que transformem a realidade sofrida em que vive mais da metade da população brasileira. Vamos pensar nisso?

(*) JUACY DA SILVA é professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia integral – Região Centro Oeste. Email: [email protected]; Instagram: @profjuacy; Whatsapp: (65) 99272-0052.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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