Se você já disse alguma vez na vida:
“Precisamos resolver este problema entre nós”, saiba que sua intenção é valiosa, porém, a direção pode estar equivocada.
Muito do que se busca hoje com a comunicação, especialmente em tempos de teorias sobre violência ou não violência, é falar para ser ouvido. Todos queremos vivenciar o deleite de ter nossa fala acolhida, nossos pedidos atendidos ou até sermos congratulados pelo valor do que dizemos.
Acontece que, neste jogo de “eu falo, o outro ouve, entende e faz”, esquece-se que o Outro também cria essa expectativa.
Seja um colaborador, um filho, o presidente da associação ou seus pais: todos temos o mesmo direito de querer ser ouvidos. Ou não?
Sim, temos.
E sei que você também respondeu que sim ao ler essa pergunta.
Contudo, na prática, a convivência com verdades ou modelos diferentes de comunicação causa muito estremecimento. É ameaçador falar para alguém que pode não ouvir, não querer, não entender, ou simplesmente não permitir sequer que você fale.
E, diante dessas ameaças, como não é socialmente aceito correr para se esconder debaixo da mesa ou atrás da parede mais próxima, nos escondemos de outras formas:
● na violência,
● no reforço de hierarquias,
● nos castigos e no silêncio fúnebre (o famoso “gelo”),
● nos desvios de assunto,
● nas piadas e nas “brincadeiras com fundo de verdade”.
Tecnicamente, todas essas formas de desviar a comunicação têm nome. Mas, neste momento, a técnica apenas nos afastaria da realidade. Devo destacar aqui que o intelectualismo também pode ser uma fuga insegura e de alta violência psicológica, como na frase:
“Você sabe com quem está falando?”, mas este é um tema para outro momento.
Voltando às fugas:
Nos sentimos ameaçados pelas diferenças e estamos nos afastando da comunicação clara e autêntica – e aí mora um grande perigo.
Vivemos em um país onde 90% das empresas são familiares, mas apenas 12% sobrevivem à terceira geração, e 3% chegam à quarta.
Ainda, 47,8% dos divórcios acontecem em menos de 10 anos de casamento.
Será que já podemos nos humildar (permitindo este meu neologismo) e admitir: somos seres humanos que precisam de um curso de atendimento humanizado?
Reconhecer-se como um ser em eterna formação, e reconhecer nas relações a fonte de aprendizado sobre o que significa viver, é o caminho para sairmos da posição de quem resolve problema com pessoas para quem resolve com pessoas, os problemas.
Chegou a hora de usarmos nossa comunicação para assumirmos nossas vulnerabilidades, receios e conquistas – sim – mas de um lugar de humildade, para que possamos caminhar para as pessoas e não contra elas.
Quando me coloco como alguém disponível para me comunicar, sabendo que todo e qualquer conflito que ocorrer será um convite para colocar a pessoa ao meu lado e o problema do outro lado, aí sim terei motivos suficientes para a comunicação não violenta e razões para melhorar continuamente a minha forma de comunicar.
Comunicar é tornar comum.
Eu entrego o que há em mim e abro espaço para o que há no outro.
O contrário – eu com o meu, você com o seu – é o divórcio. E não falo apenas de casamento.
Chamada para ação:
E você, tem colocado as pessoas do seu lado e o problema do outro? Ou tem colocado o problema entre vocês? Comente aqui como tem sido a sua experiência com a comunicação.
(*) CAROLINA AMORIM é Mentora Corporativa em Comunicação Não Violenta | Psicoterapeuta de Jovens e Famílias | Especialista em Desenvolvimento de Equipes e Cultura Organizacional.
Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br
Clique aqui e faça parte no nosso grupo para receber as últimas do HiperNoticias.
Clique aqui e faça parte do nosso grupo no Telegram.
Siga-nos no TWITTER ; INSTAGRAM e FACEBOOK e acompanhe as notícias em primeira mão.