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Artigos Sexta-feira, 17 de Outubro de 2025, 13:50 - A | A

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Sexta-feira, 17 de Outubro de 2025, 13h:50 - A | A

BRUNO SOLLER

Apelo social versus experiência administrativa: dois atributos se enfrentam no histórico segundo turno boliviano

BRUNO SOLLER

Um país paralisado por falta de combustível, assim, a Bolívia governada por Luís Arce, que nem mesmo teve coragem de buscar a reeleição, chega às urnas no dia 19 de Outubro. Com pessoas vivendo em carros, filas quilométricas nos postos, escolas e hospitais fechados, e a produção sem qualquer capacidade de escoamento, a crise de abastecimento do país andino se converteu no tema central da campanha do histórico segundo turno das eleições. Todo o resto parece ficar em um segundo plano quando a questão vira de sobrevivência. A influencia de Morales, grande personagem dos últimos 20 anos da política nacional, o combate ao narcotráfico e a sonhada saída para o mar parecem nem ser mais temas de discussão, devido a gravidade da crise econômica que assola a Bolívia.

Duas perspectivas se apresentam neste ínterim para oferecer soluções de como resolver esse problema. De um lado, o ex-presidente Jorge Tuto Queiroga, que tem um laço histórico com o seu oponente, já que ocupou o ministério da Economia, durante o governo de seu pai, mas que cresceu na política, mentorado pelo ex-presidente Banzer, de quem foi vice-presidente e o sucedeu, assumindo o mais alto posto do país. Do outro, Rodrigo Paz, imagem e semelhança de seu pai, que presidiu a Bolívia no final dos 80 e início dos 90, e que tem no carisma e simpatia seus maiores ativos.

Enquanto Queiroga vende experiência e técnica, Paz vende afago e discurso de força popular. O nacionalismo de Evo Morales segue presente no consciente boliviano e ambos tentam explorar, cada um a seu modo esse importante sentimento, que pode pesar sobremaneira na hora da decisão do voto. Em épocas de crise extrema, a história mostra que discursos populistas nacionalistas tendem a crescer e ganhar corpo, como uma forma de dizer que o país se basta e reforçar uma coletividade que pode ser resgatada como mola propulsora de autoestima de bando.

Nesse sentido, Queiroga parte para um debate sobre a posição estratégica da Bolívia nos acordos internacionais, criticando o multilateralismo, o protocolo Mercosul-União Europeia e defendendo uma Bolívia livre para o mercado internacional, mais focada nos acordos diretos e com forte viés de exploração da riqueza natural para exportação. Já Paz, tem como slogan principal de campanha, o “Platita para Todos”, um programa de ampliação de crédito, redução de impostos e aumento do Renta Dignidad,
parecido com o brasileiro Bolsa Família.

A relação com o FMI é outro ponto de diferenciação entre os postulantes. Inspirado pelo presidente argentino Javier Milei, Tuto Queiroga tem admitido que recorrerá ao fundo internacional para buscar um empréstimo, com o objetivo de equilibrar as contas do país e poder sobrar recursos para novos investimentos diretos, que induzam crescimento. Para Paz, todavia, não há qualquer hipótese dessa busca, já que o candidato reafirma, que a Bolívia precisa de um choque interno de combate à corrupção e diminuição da estrutura estatal para que possa fazer os investimentos certos. Terror dos países latino-americanos na década de 90, o FMI é uma opção polêmica pelos resultados já alcançados na história, mas viável para quem precisa de injeção de capital para conter crises. No frigir dos ovos, a capacidade de gestão é o que define se a ajuda vira sonho ou pesadelo.

As sondagens de opinião têm apontado um empate técnico entre os candidatos, mas sempre colocando o ex-presidente Queiroga numericamente à frente. A explicação para isso é a migração maior de votos de Samuel Doria Medina, terceiro colocado no pleito, para Queiroga do que para Paz, mostrando uma virada sobre o resultado oficial de primeiro turno. O que, no entanto, as pesquisas ainda não conseguiram dimensionar é para onde vai o voto nulo do primeiro turno, feito em protesto pela não presença de Morales na eleição.

Com a crise crescente, há uma expectativa de que parte desse eleitorado não faça uma escolha política do não voto, mas sim decida comparecer e escolher um projeto para o país. Pesquisas qualitativas apontam que Rodrigo Paz penetra melhor nesse eleitor do que Queiroga e, por isso, o candidato tem abordado mais a saída social da crise do que propriamente a tecnicidade das propostas. Seu discurso se assemelha com o princípio de Evo, com dogmas como o fortalecimento da pátria e o dinheiro para o povo, além de um inflamado embate com as instituições corruptas, quase uma atualização do posicionamento de ascensão do líder cocaleiro de outrora.

Do ponto de vista geopolítico, com a temerária relação entre Estados Unidos e Venezuela, caso os bolivianos optem por Queiroga, o alinhamento com Donald Trump, Milei e Noboa, do Equador, parece ser automático. Já, em relação a Paz, não dá para cravar qual seria sua real posição. Seu discurso é de condenação ao chavismo, mas não é tão enfático como Queiroga no apoio às medidas norte-americanas.

O mundo andino tem passado por uma convulsão social econômica bastante acentuada. O Peru, com sete presidentes em apenas dez anos, o Equador com paralisações e protestos pela crise do diesel, Chile e Colombia, com presidentes com baixíssima aprovação popular e a Bolívia envolta em uma das suas maiores crises econômicas da história. Entretanto, se a democracia não é perfeita, pelo menos ela gera expectativas e, hoje, a Bolívia está repleta dela. O futuro do país está nas mãos de seu povo, que decidiu dar um basta em um modelo de governo que se esgotou e tem em duas candidaturas oposicionistas novos projetos para o país. Dois perfis distintos, com atributos muito claros, mas que vendem uma nova página para ser construída pelos bolivianos. A torcida, contudo, é que independentemente do vitorioso, quem saia ganhando seja a Bolívia.

(*) BRUNO SOLLER é Cientista Político - PUCSP, Especialista em pesquisas, estratégia eleitoral e advocacy, e diretor do Instituto de Pesquisas Quaest Big Data.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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