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Política Domingo, 11 de Dezembro de 2022, 11:02 - A | A

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Domingo, 11 de Dezembro de 2022, 11h:02 - A | A

ENTREVISTA

‘Ex-tudo em MT’, Júlio Campos, por pouco, não virou presidente da República em 92

Recém-eleito deputado estadual com 33.800 votos conta bastidores de sua longa trajetória política

RAFAEL COSTA
Da Redação

Ex-prefeito de Várzea Grande, ex-deputado federal, ex-governador, ex-senador, ex-conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado) e, por pouco, ex-presidente da República Federativa do Brasil. Sim! Júlio José de Campos, natural de Várzea Grande, que neste domingo – 11 de dezembro – completa 76 anos, filho de Amália Curvo de Campos e Júlio Domingos de Campos - um dos políticos mais conhecidos e experientes de Mato Grosso, não assumiu o Palácio do Planalto por mero detalhe.

Meses antes da eleição presidencial de 1989, Júlio Campos, então deputado federal, foi convidado por um jovem de Alagoas, até então desconhecido pela maioria dos brasileiros, Fernando Collor de Mello, para ser convencido a disputar a vice-presidência da República. Houve ainda uma união de parlamentares da região Norte e Nordeste para convencer Júlio Campos a aderir ao projeto político. No entanto, nada disso foi suficiente.

Com uma eleição praticamente certa ao Senado, cujas pesquisas indicavam até 70% do eleitorado, Júlio Campos se recusou a trocar o certo pelo duvidoso. “Avaliei também que seria uma chapa difícil de ganhar aceitação nacional, pois seria liderada por dois Estados pequenos - Alagoas e Mato Grosso”, revela.

O resto, já está contado nos livros de história. Com a fama de "caçador de marajás", Collor foi eleito presidente da República em 1989, tornou-se o primeiro presidente a sofrer impeachment pelo Congresso Nacional em 1992, Itamar Franco assumiu o Palácio do Planalto, lançou o Plano Real que eliminou o dragão da hiperinflação que dominava a economia por décadas, episódio crucial para eleger em 1994 o sucessor, o então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso. 

Nesta entrevista exclusiva ao HNT, Júlio Campos fala das suas pretensões na Assembleia Legislativa e elege temas prioritários ao seu inédito mandato: industrialização, política habitacional, melhoria da educação pública e política para a terceira idade. 

HNT - O senhor chega a Assembleia Legislativa com o rótulo de político mais experiente de Mato Grosso. O que esse histórico pode fazer diferença no exercício do mandato?

Júlio Campos - Apesar da minha história, não me considero o mais experiente dos 24 parlamentares eleitos. Muitos que já estão ali e foram reeleitos tem larga experiência. Eduardo Botelho e Janaína Riva, por exemplo, exercerão o terceiro mandato. Há outros que são ex-prefeitos e com história construída no Parlamento. Fiquei 20 anos no Congresso Nacional, com três mandatos na Câmara dos Deputados e um no Senado. Acredito que posso contribuir muito com Mato Grosso, mas, tenho a humildade de dizer que devo aprender. O Regimento Interno da Assembleia Legislativa é diferente da Câmara dos Deputados e Senado. Sempre desejei ser deputado estadual e só agora realizo este sonho. Tenho muito a contribuir com boas ideias e patrocinar bons debates, fazer que o Legislativo tenha mais independência e esteja inserida na sociedade com debates importantes.

HNT - Quais temas são considerados prioritários em seu mandato para defendê-los como políticas públicas junto ao Executivo e patrocinar em debates no Legislativo?

Júlio - A regularização fundiária e a construção de casas populares serão algumas das minhas bandeiras. Hoje, em Mato Grosso, muitas famílias têm a casa, o terreno, mas não tem o título que atesta a regularização, o que impossibilita financiamentos bancários para compra e venda e a transmissão do bem para a herança. Não entendo como Estado que tem uma lei em vigência que determina 25% do dinheiro arrecadado do Fethab (Fundo Estadual de Transporte e Habitação) e com arrecadação recorde a cada a ano enfrenta déficit habitacional com 100 mil pessoas aguardando uma casa para morar. O governador Mauro Mendes já incluiu no plano de governo de 2023 a 2027 a construção de, no mínimo, 40 mil casas populares. O cidadão de classe média e pobre depende muito desta política pública para ter acesso à moradia. Eu fiz o CPA, Morada do Ouro, Tijucal, Santa Amália em Cuiabá, Santa Isabel, Dom Bosco em Várzea Grande, São José I e II em Rondonópolis e tantos outros pelo Estado. 
Hoje, o cidadão para ter acesso a um imóvel pequeno tem que dar entrada de R$ 20 mil e pagar parcelas acima de R$ 1 mil mensal. É uma minoria que consegue isso.  

HNT - Há alguma bandeira relacionada à economia?

Júlio - Eu pretendo defender a agroindustrialização do Estado. Mato Grosso é campeão nacional na produção de soja, carne e algodão. Porque não incentivar que 25% a 30% desta tonelada de produção de grãos e carne não seja industrializada em nosso território? É blefe dizer que Mato Grosso carece de transporte, logística e energia para industrializar o Estado. A nossa energia 70% é exportada. A ferrovia já chegou em Rondonópolis, em três anos estará em Cuiabá e, no máximo creio eu, cinco anos para chegar em Lucas do Rio Verde. 

Tem que ser preparado um programa de incentivos fiscais e conscientizar nossos grandes empresários e multinacionais para que Mato Grosso seja industrializado. Uma indústria gera mais de 1 mil empregos. Quando fui prefeito de Várzea Grande atrai a Sadia e a Coca Cola que estão até hoje gerando milhares de empregos. Neste programa de incentivo fiscal, defendo que as indústrias sejam instaladas nos municípios com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) para reduzir as desigualdades sociais. Hoje, por exemplo, tem Campo Verde e Primavera do Leste com nível socioeconômico altíssimo e logo ali Poxoréu abandonado. 

HNT - É preciso conciliar, em sua visão, o desenvolvimento econômico com avanços sociais?

Júlio - Exatamente! Do contrário, daremos margem ao aprofundamento da desigualdade social. O trabalhador mato-grossense tem uma renda salarial muito baixa enquanto muitos bilionários e milionários do país estão instalados aqui. Nós queremos convocar o empresariado para discutir um plano especial de desenvolvimento em favor de Mato Grosso. Eu quero promover anualmente neste mandato um seminário com a participação da bancada federal, empresários, estudiosos de economia e outros para discutir um modelo socioeconômico de longo prazo a Mato Grosso. Outro tema é a revisão territorial de Mato Grosso. Muitos municípios com erros técnicos em sua dimensão. É um tema a ser enfrentado pela Assembleia Legislativa.

HNT – Há alguma reivindicação na área social?

Júlio - A educação pública é uma área da qual vou cobrar atenção especial do Executivo. Trazer um polo da Unemat para Várzea Grande para facilitar o acesso ao ensino tecnológico e superior para o cidadão que não tem condição de pagar uma universidade particular. A educação é fundamental para que tenhamos mão de obra qualificada para atender aos setores da economia. A educação pública de Mato Grosso, referente ao ensino fundamental e médio, é uma vergonha nacional. É a vigésima do país. Isso passa pelo treinamento de professores, adaptá-los às tecnologias, combater a evasão escolar.

Outro tema que vou defender para o Estado intervir é a terceira idade. O cidadão envelhece e não tem um espaço de acolhimento. Isso passa pelo Estado em parceria com instituições. A política de tratamento as pessoas envolvidas com drogas é dever do Estado. Precisa criar isto em polos regionais. O Estado tem que cuidar do social.

HNT - Há uma história no meio político de que o senhor foi convidado por Fernando Collor de Mello, às vésperas da eleição presidencial de 1989, para ser candidato à vice-presidência da República naquele ano. Isto de fato ocorreu?

Júlio - Na sucessão presidencial de 1989, um grupo de deputados do Alagoas, Acre e outros estados da região Norte e Nordeste defenderam meu nome para ser candidato a vice-presidente na chapa encabeçada pelo Fernando Collor de Mello. O próprio Collor deu o aval e manteve conversas comigo para me convencer do projeto político. Mas, a chapa estava tão enfraquecida na época, com apenas 3% das intenções de voto, enquanto para a disputa ao Senado em Mato Grosso eu aparecia com 70% das intenções de voto. Eu entendi naquela época que seria muito sacrifício. Seria trocar o certo pelo duvidoso. 

Avaliei também que seria uma chapa difícil de ganhar aceitação nacional, pois seria liderada por dois Estados pequenos - Alagoas e Mato Grosso – foi daí que sugeri em substituição ao meu nome Márcia Kubistchek, que era mulher, deputada federal por Brasília, portanto, representaria o Centro Oeste e ainda era filha do ex-presidente Juscelino Kubistchek, mantendo laços com Minas Gerais. Então, somaria muito politicamente e seria a primeira mulher a ser vice-presidente da República.

Fiz parte da comitiva que convidou Márcia Kubistchek, mas ela alegou problemas pessoais na época e preferiu não entrar na disputa. Foi daí que ela sugeriu o nome de Itamar Franco, que era senador de Minas Gerais e havia perdido uma disputa recente ao governo do Estado e somado mais de 3 milhões de votos. Daí, todos sabem o desenrolar da história.

HNT - E como é hoje lidar com a sensação de que a Presidência da República, um dia, esteve tão próxima?

Júlio - Faz parte do destino. Não era meu destino ser presidente da República (risos). Se eu tivesse sido candidato não deixaria ter acontecido o impeachment. Eu trabalharia com habilidade para evitar aquilo, dialogando com os deputados e senadores. Até hoje sou muito admirador do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Um homem inteligentíssimo e muito acima da média em conhecimento. Trabalhei por ele em 89 e votei nele e não me arrependo. Infelizmente houve a perda do mandato. Foi uma perda para o Brasil. Na época um jovem presidente muito disposto a trabalhar pelas correções econômicas que o país precisava. Cometeu erros, mas só comete quem se dispõe a participar da vida pública. Se houvesse habilidade política, e o vice-presidente pode colaborar nisso, aquele impeachment poderia ter sido evitado. 

HNT - Como o senhor avalia esse cenário político do país após uma eleição presidencial extremamente polarizada? E como lidar com esse inconformismo dos derrotados que sinalizam até para violência?

Júlio - O radicalismo é muito forte neste país e dos dois lados. O PT sempre foi muito radical e com críticas até injustas aos seus adversários, notadamente de centro-esquerda e direita. 

O Brasil precisa de um governo pacificador e não acredito que o Lula seja o político adequado para isto. Milhões de brasileiros enxergam em Lula o esgotamento ético e moral. Além disso, existem milhares de radicais em seus entornos, que não aceitam dialogar e se dispõem a quebrar o país financeiramente e infringir leis em busca de um projeto de perpetuação de poder.

Eu vejo com muita preocupação essa divisão do país. O Brasil enfrenta uma situação econômica preocupante. O PT já planeja aumentar o déficit orçamentário. E não vejo razões para intervenção militar. O mundo se modernizou. O ano de 1964 não pode ser referência para 2022. O Lula tem muitos defeitos e o culpado desta crise no país é o Supremo Tribunal Federal que decidiu reabilitá-lo para a disputa eleitoral. Lula não é o líder ideal para pacificar o país e esse sentimento de insatisfação tende a aumentar.

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