A falsa garantia foi mais do que um deslize. Ela destacou a incerteza em torno da liderança de Patel no FBI, quando a credibilidade do departamento - e a do próprio Patel - estão sob pressão extraordinária.
Patel agora se aproxima das audiências de supervisão do Congresso dos Estados Unidos, que devem ocorrer nesta terça-feira, 16, e na quarta-feira, 17, nas quais enfrentará não apenas perguntas sobre essa investigação, mas dúvidas mais amplas sobre se ele pode estabilizar uma agência federal de aplicação da lei fragmentada por disputas políticas e turbulências internas.
Os democratas estão prontos para pressionar Patel sobre a demissão de executivos seniores que gerou um processo judicial, sua insistência nas queixas do presidente americano Donald Trump relacionadas à Rússia, mesmo depois do fim da investigação, e uma reorganização de recursos que priorizou a luta contra a imigração ilegal e os crimes nas ruas, embora o FBI tenha sido definido por décadas por seu trabalho em ameaças complexas, como contra a espionagem e a corrupção pública.
Isso se soma às questões sobre o tratamento dado aos arquivos do caso de exploração sexual de Jeffrey Epstein, a adição de um codiretor adjunto para trabalhar ao lado do diretor adjunto Dan Bongino e o uso de polígrafos em alguns agentes nos últimos meses para identificar fontes de vazamentos. Os republicanos, por sua vez, provavelmente se unirão em sua defesa ou redirecionarão os holofotes para os críticos do FBI.
As audiências oferecerão a Patel seu palco mais importante até agora e, talvez, o teste mais claro para saber se ele pode convencer o país de que o FBI, sob sua supervisão, pode evitar agravar seus erros em um momento de violência política e desconfiança crescente.
"Devido ao ceticismo que alguns membros do Senado tiveram e ainda têm, é extremamente importante que ele tenha um ótimo desempenho nessas audiências de supervisão", disse o ex-executivo do FBI, Gregory Brower, que atuou como seu principal funcionário para assuntos congressuais.
O FBI se recusou a comentar sobre o próximo depoimento de Patel ao comitê.
Erro gerou dúvidas sobre capacidade
O assassinato de Kirk é um caso minuciosamente acompanhado, não apenas por se tratar da mais recente onda de violência política nos EUA, mas também por causa da amizade de Kirk com Trump, Patel e outras figuras e aliados da administração.
Enquanto agentes de Salt Lake City conduziam a investigação após a confirmação da morte do influenciador na última quarta-feira, 10, Patel publicou em seu perfil no X (antigo Twitter) que "o suspeito pelo horrível tiroteio" estava "sob custódia". O governador de Utah, Spencer Cox, disse em uma entrevista coletiva quase simultânea que "quem fez isso" seria encontrado, sugerindo que as autoridades ainda estavam procurando. Pouco depois, Patel postou que a pessoa sob custódia havia sido liberada.
"Isso não transmite a mensagem que você quer que o público receba", disse o executivo aposentado de contraterrorismo do FBI Chris O'Leary. "Teve o efeito contrário. As pessoas começam a se perguntar o que está acontecendo."
Questionamentos
Na quinta-feira, 11 , uma entrevista coletiva programada para a tarde foi cancelada devido a "desenvolvimentos rápidos", enquanto Patel e Bongino viajavam para Utah. Ela foi realizada à noite. Patel compareceu, mas não falou.
À medida que a busca se prolongava, Patel desabafou com raiva com funcionários do FBI na quinta-feira sobre o que ele percebia como uma falha em mantê-lo informado, incluindo o fato de não ter recebido rapidamente uma fotografia do suspeito do crime. A informação foi confirmada por duas pessoas familiarizadas com o assunto, que não estavam autorizadas a discuti-lo e falaram sob condição de anonimato. O jornal americano The New York Times já havia divulgado anteriormente detalhes da ligação.
Questionado sobre a análise de seu desempenho, o FBI emitiu um comunicado dizendo que trabalhou com as autoridades locais para levar o suspeito de efetuar o disparo fatal, Tyler Robinson, à Justiça e "continuará a ser transparente com o povo americano".
A resposta geral de Patel não passou despercebida nos círculos conservadores. O estrategista proeminente Christopher Rufo postou no X que era "hora dos republicanos avaliarem se Kash Patel é a pessoa certa para dirigir o FBI".
Em uma entrevista coletiva na sexta-feira, 12, e nas redes sociais no sábado, 13, Patel destacou sua supervisão da investigação, enfatizando sua decisão de divulgar fotografias de Robinson como um avanço importante no caso. O pai de Robinson o reconheceu nas fotos, desencadeando uma série de eventos que resultou na entrega do filho às autoridades.
Patel recebeu apoio de Trump no sábado. O republicano repostou no X uma publicação de uma jornalista do Fox News Channel que disse ter falado com Trump, e que o presidente afirmou que Patel e o FBI "fizeram um ótimo trabalho".
Demissão de executivos do FBI
No mesmo dia em que Kirk foi morto, Patel também enfrentou uma ação judicial movida por três executivos seniores do FBI demitidos em um corte ocorrido em agosto, que eles caracterizaram como uma campanha de retaliação da administração Trump.
Entre eles estava Brian Driscoll, que, como diretor interino do FBI nos primeiros dias da administração Trump, resistiu às exigências do Departamento de Justiça para fornecer os nomes de agentes que investigaram o motim de 6 de janeiro de 2021 no Capitólio.
Driscoll alegou no processo que foi demitido após questionar o desejo da liderança de encerrar o trabalho de um agente envolvido em um programa piloto do FBI, que havia sido erroneamente identificado nas redes sociais como parte da busca do FBI por documentos classificados na propriedade de Trump em Mar-a-Lago.
A reestruturação segue uma tendência que começou antes de Patel assumir, quando mais de meia dúzia de executivos seniores foram forçados a sair sob a justificativa do Departamento de Justiça de que eles não poderiam ser "confiáveis" para implementar a agenda de Trump.
Desde então, houve uma rotatividade significativa na liderança dos 55 escritórios regionais do FBI. Alguns saíram por promoções ou aposentadorias, mas outros por ultimatos para aceitar novas funções ou se demitir. A chefe do escritório de Salt Lake City, uma experiente investigadora de contraterrorismo, foi retirada de sua posição semanas antes de Kirk ser morto em uma faculdade de Utah, segundo pessoas familiarizadas com a decisão.
Mudança de prioridades do FBI sob Patel
Patel chegou ao FBI já sendo um crítico da liderança da agência, inclusive por investigações sobre Trump, que ele afirma terem politizado a instituição. Sob a coordenação de Patel e da procuradora-geral Pam Bondi, o FBI e o Departamento de Justiça se envolveram em investigações politicamente delicadas, como a que envolve a procuradora-geral de Nova York, Letitia James.
Ele se moveu rapidamente para reformular a agência, com o FBI e o Departamento de Justiça trabalhando para investigar uma das principais queixas do presidente republicano em relação a investigação sobre a relação do republicano com a Rússia. Trump chama essa apuração, que não estabeleceu uma conspiração criminal entre a Rússia e a campanha de Trump, de "farsa".
O Departamento de Justiça pareceu confirmar, em um comunicado incomum, que estava investigando o ex-diretor do FBI James Comey e o ex-diretor da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) John Brennan, figuras centrais na saga da Rússia, sem informar exatamente o motivo. Pam determinou que as evidências fossem apresentadas a um grande júri.
Críticos da nova investigação sobre a Rússia consideram que se trata de uma tentativa transparente de virar a página após a forte reação negativa que o FBI e o Departamento de Justiça sofreram junto à base de Trump, após o anúncio em julho de que não divulgariam documentos adicionais do caso Epstein.
Enquanto isso, Patel elevou o combate ao crime de rua, ao tráfico de drogas e à imigração ilegal ao topo da agenda do FBI, em alinhamento com a agenda de Trump.
A agência não se desculpa por sua atuação agressiva nas cidades americanas que a administração Trump afirma estarem consumidas pelo crime. Patel afirma que as milhares de prisões resultantes, muitas relacionadas à imigração, são "o que acontece quando você deixa bons policiais serem bons policiais".
Mas alguns estão preocupados de que o foco no crime de rua possa desviar atenção das ameaças sofisticadas de corrupção pública e segurança nacional, pelas quais o FBI tem sido, há muito tempo, principalmente - senão exclusivamente - responsável. Com informações da Associated Press
*Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado pela equipe editorial do Estadão. Saiba mais em nossa Política de IA.
(Com Agência Estado)
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