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Como fica menos confuso(?): “o contador, segundo a polícia, seria autor do suposto desvio” ou “o contador, segundo a polícia, é o autor do desvio”? Como soa melhor? “A polícia procura o suposto assaltante de um suposto banco” ou “a polícia procura o assaltante do banco?” , ou também “o homem queimou todo o seu dinheiro” ou “o homem queimou todo seu próprio dinheiro?” .
O excesso de zelo pelo dispositivo constitucional (Art. 5º, inciso LVII da Constituição que trata dos direitos civis: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória") tem resultado, de forma recorrente, em noticiário pendular como se a ambigüidade fosse o principal quesito da notícia.
É visível o redundante temor às ações por calúnia ou difamação, como é, também, exagerada a conjugação na condicional do verbo ‘ter’, salientando-se a curiosa subversão do conteúdo noticioso. Parece até covardia! E, assim, a notícia vira dúvida pela quantidade de frases inseguras e imprecisas.
No noticiário, todos os dias, as redações cansam, usam e abusam de termos como “suposto , teria, seria (...) ”. No jornalismo, fator primaz para o registro histórico, mesmo respeitados os princípios do direito, não se pode, nunca e jamais, colocar a informação em xeque:
- “A polícia persegue um homem que ‘teria’ assaltado supostamente um banco”.
Ora... ! Ou você dá a notícia ou fica no meio do caminho. Se a polícia persegue alguém por um assalto a um banco, é porque houve, de fato, um assalto, e, ao capturar um suspeito, isso não vai tornar necessário o termo “teria capturado”.
Recentemente, assistindo à um jornal, na tevê, me deparei com esta: - “O delegado indiciou fulano de tal por um suposto seqüestro”. A frase quase me leva a considerar tal fato uma grande injustiça: “se o sujeito fez um suposto seqüestro, logo não deveria ser indiciado”, afinal se o seqüestro só “teria” acontecido, como se pode imputar culpa a alguém sobre um episódio que apenas se insere no campo das suposições? Em casos onde a incerteza é o maior predicado da oração, o redator deve se socorrer de expressões que possam afastar e dissipar confusões.
Com minha pequena experiência em assistir aos noticiários, arrisco-me a apostar que o telespectador, ouvinte ou leitor prefere uma mensagem muito mais segura a ter que se ver no labirinto de anfibologias criado pelos noticiários. Uns leitores podem até mesmo ter predileção e nutrir o hobby das mensagens enigmáticas , mas a maioria, aposto, prefere algo menos complicado, menos confuso.
Não estou nem considerando que há os que escrevem que “o pai matou o próprio filho”, e outros: “a mulher incendiou a própria casa”. Vamos esclarecer melhor! Existe filho impróprio? Uma casa só é própria quando está quitada e, quando não está, deveriam escrever “a mulher incendiou sua imprópria casa?
O emprego de condicionais, outrossim, me parece lógico em raros casos, na exceção da regra: “Sebastião Gonçalves dos Reis, que ‘seria’ o prefeito de Várzea Grande, vai processar o ‘suposto’ prefeito Murilo Domingos, que ‘teria’ sido substituído por João Madureira”.
Neste exemplo, é razoável deixar que essas terminologias fiquem, normais e confortáveis, apenas para situações atípicas ou cômicas, como o caso de se tentar explicar ao leitor como pode um município ter um novo prefeito a cada semana.
(*) JORGE MACIEL é jornalista em Cuiabá. E-mail: [email protected]. Site: www.futebolpress.com.br
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honéia Vaz 27/11/2011
Show de bola, Maciel!
Evalin Alves Salomão 26/11/2011
A subjetividade virou moda, deixando a notícia mais como especulação do que informação objetiva. Parabéns, Jorge, pelas observações, pertinentes!
2 comentários