"Vocês precisam dominar a situação. Se não dominarem, estarão perdendo tempo. Eles vão atropelá-los. Vocês vão parecer um bando de idiotas", disse Trump aos governadores, segundo áudio divulgado pelo Washington Post. "Vocês devem prender e julgar as pessoas e elas devem ficar presas por um longo período."
Protestos ontem foram registrados em várias partes do mundo. Em Berlim, no sábado, e em Londres, no domingo, as manifestações se concentraram diante da embaixada americana. Em Amsterdã, uma multidão lotou ontem a Praça do Dam, no centro da cidade. Em Paris, os franceses pediam justiça para Adama Traoré, negro de 24 anos morto pela polícia em 2016.
Em países rivais dos EUA, a onda de violência virou uma chance de ironizar Trump, principalmente na China, que vinha se queixando da interferência americana na repressão aos protestos em Hong Kong. Hua Chunying, porta-voz da chancelaria chinesa, respondeu pelo Twitter a uma mensagem do Departamento de Estado americano com a frase "Não consigo respirar", usada por George Floyd, negro asfixiado por um policial branco de Minneapolis, episódio que desatou a onda de protestos.
"Há diferentes razões para os tumultos, mas as semelhanças são avassaladoras: eles desafiam a lei, subvertem a ordem e são destrutivos", afirmou Hu Xijin, editor do Global Times, jornal ligado ao governo da China. Em vídeo, Xijin elogia o fato de Pequim ter mantido distância dos protestos nos EUA, diferentemente do que fizeram os americanos em Hong Kong.
Na China, a imprensa oficial tem tratado a crise como um sinal da decadência americana - que ocorre ao mesmo tempo em que o país acumula mais de 100 mil mortos pela pandemia de covid-19 e 40 milhões de desempregados. Na sexta-feira, quando chegou a notícia de que Trump havia sido levado para um bunker na Casa Branca, a hashtag #BunkerBoy chegou ao segundo lugar no Twitter.
Os protestos também viraram propaganda no Irã. O chanceler, Mohamed Zarif, publicou no Twitter um comunicado antigo em que o Departamento de Estado dos EUA critica a repressão iraniana, mas substituindo as menções ao Irã pela palavra "América". Até o aiatolá Ali Khamenei se pronunciou. "Se você tem a pele escura, e está caminhando nos EUA, não tenha tanta certeza de que estará vivo nos próximos minutos", dizia a frase em uma conta ligada ao líder supremo no Twitter.
"Este não é o primeiro de uma série de comportamentos ilegais e de violência injustificada por parte da polícia dos EUA", disse o Ministério das Relações Exteriores da Rússia, em comunicado. "O caso se soma à longa história do Kremlin de assinalar os abusos de direitos humanos nos EUA."
Em Washington, autoridades do governo americano entraram na batalha de propaganda. "A diferença entre nós e muitos países autoritários por aí é que, quando algo como isso ocorre aqui, nós investigamos", declarou o assessor de Segurança Nacional Robert OBrien, no programa This Week, da rede ABC.
"O problema é que a posição de Trump agora não é diferente da expressada por outros autocratas", escreveu Ishaan Tharoor, colunista do Washington Post, que lembrou os elogios do presidente americano aos protestos dos "coletes amarelos" na França, quando Trump usou a revolta para criticar o ativismo ambiental do presidente Emmanuel Macron. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Com Agência Estado)
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