“Em vez de paparicar o celular, o automóvel, o governo ganharia muito mais se fizesse como qualquer país preocupado com as pessoas faz. Se tivesse preocupação com o abastecimento”, diz. “O preço reflete que não tem o produto, é um problema de abastecimento. E este produto não dá para importar. Estou pasmo porque achava que o governo, desde o ano passado, fosse anunciar alguma coisa para esses produtos (agrícolas).”
Para o economista, quando se fala em agricultura no Brasil, fala-se em soja e milho, mas cujo impacto é muito menor que do feijão e do tomate, por exemplo. “Este descuido está nos custando caro. Estamos com o índice de preços explicado por um comportamento determinado pela redução na oferta”, diz.
Esta redução na oferta de determinados alimentos vem sendo creditada a problemas climáticos, que, de fato, explicam parte do vem ocorrendo nos últimos meses. Mas Heron do Carmo diz que há outro fator que influencia a queda na oferta. “A intenção de plantio tem se reduzido para estes produtos, além dos problemas climáticos. Pisaram no tomateiro inteiro”, comenta.
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“O primeiro é um problema de São Pedro mesmo. Esse tipo de produto da agricultura tem relação muito significativa com o tempo. Ou chove ou falta chuva. Isso tem um reflexo enorme e está acontecendo, é indiscutível. O segundo problema é com relação ao mercado externo. À medida que commodities como soja e milho estão com preço elevado no exterior, traz um aumento para dentro também”, explica. Esta situação fica ainda mais agravada devido à variação cambial, lembra.
Some-se a esses fatores ainda o aumento da renda do brasileiro. “À medida que aumenta a renda, se consome mais alimento”, destaca Galvani.
Altas
Com base nos dados do IBGE, o economista Heron do Carmo fez uma classificação e constatou que, nos últimos 12 meses, alimentos como arroz e feijão – essenciais no prato do brasileiro – acumularam alta de 33,79%. Frutas, legumes e verduras tiveram variação de 38,89% em igual período. No caso dos alimentos semielaborados, onde entra o tomate, por exemplo, a alta é de 17,41%.
“Este grupo (semielaborados), que tem um peso de 10% no índice, está 11 pontos acima da inflação, aproximadamente. Se considerarmos a metodologia do IBGE, eles estão adicionando à inflação 1 ponto”, diz.
“O Brasil produz muito alimento para o mundo: soja e milho. Mas produz para o mundo e esquece da gente. Não é incompatível produzir mais soja e mais tomate. Mas como todo mundo quer produzir soja e milho, o governo tem que equilibrar a coisa”, argumenta.
Desoneração da cesta básica
Para Heron do Carmo, a desoneração da cesta básica foi “um tiro no pé”. “O problema dos alimentos não é de imposto, é de oferta. Claro que a desoneração é positiva, mas foi feita para conseguir algo no índice, (...) e o que conseguiu foi um aumento. O que é a desoneração relativa aos 120% de aumento do tomate? Nada.”
O economista diz que o governo devia aproveitar que alimentos como feijão, tomate, batata contam com várias safras por ano e chamar os produtores para negociar. “Com isso garantiríamos a oferta e este ponto percentual a mais de inflação seria descontado.”
Previsões
Apesar do resultado de março, os dois economistas acreditam que a inflação deve recuar nos próximos meses. “(Este resultado) será superado, mas não precisaria passar por este sufoco”, argumenta Heron do Carmo.
“Neste momento, o problema é crucial, mas, no futuro, deve ser amainado. Tomar uma atitude drástica em cima de algo que vai se resolver daqui a um mês, dois meses, é muito radicalismo”, diz Claudemir Galvani.
“Se não ocorrerem geadas nas regiões produtoras no meio do ano, a tendência é de parte deste aumento exagerado ser devolvido, o que contribuirá talvez até para a inflação ficar abaixo do que o mercado está esperando”, estima o professor da FEA/USP.
Pressão do mercado financeiro
Galvani, da PUC, critica a “pressão enorme” que o mercado financeiro faz para aumentar a taxa de juros. “Toda vez que o governo mexe na taxa de juros, dá um passo em relação à recessão. O financiamento fica mais caro, reduz a demanda interna e aumenta os custos do capital de giro das empresas produtivas. Não faz sentido querer reduzir a inflação via recessão. É fundamental não deixar a inflação crescer, mas não podemos deixar o desemprego aumentar. Temos que crescer.”
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