O vendedor de equipamentos de telefonia – PBX, telefone, interfone, etc. – Dirceu Carlino tomava umas e outras no Hawaí Lanches, o bar que nem portas tinha, porque quando a turma da boemia ia embora, a cidade já estava acordada.
De repente, chegam ao tradicional bar Naour Belusci e Fauzer Antonio dos Santos, dois amigos seus de Dracena-SP. Foi aquela festa entre os três.
Naour e Fauzer tinham vindo a Mato Grosso para tratar de vários negócios, entre eles vender títulos de um famoso clube de tênis de São Paulo, mas acabaram mudando de planos. E aproveitaram o clima de euforia do inesperado encontro para anunciar uma grande novidade: eles acabavam de comprar uma rádio e Carlino estava contratado, a partir daquele momento, para trabalhar com eles.
A rádio que Naour e Fauzer tinham comprado era a Cultura. Saíram do bar para a emissora, que ficava bem perto dali. Quando Carlino perguntou a hora de encerramento da programação diária, quase caiu duro com a resposta: a exemplo de A Voz do Oeste e da Difusora Bom Jesus de Cuiabá, a Cultura fechava lá pelas oito, nove horas.
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Logo depois emendou a programação, com uma nova atração que ia ao ar a partir das 4 horas da madrugada. Foi aí o começo da mudança na programação da Cultura e por consequência na radiofonia mato-grossense.
A audiência do seu programa estourou em poucas semanas. O apresentador trocou então o Hawaí pelo eternamente lembrado Internacional, o bar da moda em Cuiabá, que reunia nas noites/madrugadas a nata dos intelectuais cuiabanos.
FONTES RADIOFÔNICAS
Entrosando-se aos poucos com os frequentadores do bar, ele ficava até alta madrugada no Internacional ouvindo histórias e estórias da boca de advogados, artistas, escritores, jornalistas, e que depois reproduzia em seu programa.
A versatilidade do programa, com tantas atrações, matava de inveja a concorrência que queria porque saber onde Carlino arrumava tanta novidade para por no ar...
Era 1974, ano da pior enchente do rio Cuiabá que já assolou a capital mato-grossense, com o desalojamento de milhares de famílias ribeirinhas e a destruição de bairros inteiros, como o populoso Grande Terceiro.
As rádios A Voz do Oeste e Difusora Bom Jesus de Cuiabá, ambas com numerosas equipes, brigavam pela audiência da cobertura da tragédia.
A Cultura, com uma equipe de apenas quatro radialistas, não tinha como enfrentar as concorrentes.
CRIATIVIDADE SEM FIM
Uma manhã daquele período dramático que Cuiabá vivia, Dirceu Carlino invade o gabinete do secretário de Interior e Justiça, Salomão Amaral, e que funcionava onde está hoje o Palácio da Instrução, puxando um monte de fios e explode: “Pombas, secretário, a enchente está acabando com Cuiabá e o governo [José Fragelli] não faz nada para orientar a população...”
- E o que é que você quer que eu faça?" - reagiu Salomão.
– Ligue agora para a Telemat e manda instalar aqui dois telefones que já já monto a rádio aqui para dar cobertura total à enchente e orientar essa população indefesa. O governo tem que agir, secretário – disse Carlino.
RDM Online-Reprodução |
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Dirceu Carlino sempre teve muita sabedoria para trabalhar no rádio mato-grossense |
Poucos minutos depois os dois telefones estavam instalados em uma sala da secretaria e a Cultura fazendo uma cobertura sobre os dramas da enchente que faltava gente pra ver...
Quando soube da jogada de mestre de Dirceu Carlino, Jaques Brunini, da Voz do Oeste ligou furioso para o secretário: “PQP, Salomão, o que foi que o fdp desse italianinho fez para ter esse privilégio?” – questionou Brunini, espargindo ódio por todos os poros.
– Ele me deu a ideia que eu aprovei e pronto! – respondeu Salomão, sem dar muita trela para o interlocutor.
CONTRATAÇÕES DO RÁDIO
Por causa do golpe que deu nas duas poderosas concorrentes – A Voz do Oeste era considerada a Rádio Nacional de Mato Grosso, pois tinha rádio- teatro, auditório e até uma pequena orquestra, comandada pelo famoso maestro China – Jaques Brunini convidou Carlino para ir trabalhar na sua rádio, ganhando 50% de comissão de suas produções.
Ele aceitou o convite, mas primeiro teve ficar seis meses de “molho” para se recuperar de uma tuberculose que contraiu no período do em que passou pela Voz do Oeste, bebendo muito nos fins de noites e dormindo pouco para poder revolucionar o rádio cuiabano.
Com a comissão que recebia, o salário de Carlino passou a ser maior do que a retirada mensal de Brunini como dono da rádio...
Em 2009, a Sala de Imprensa da Assembleia Legislativa recebeu o seu nome, e, em abril de 2010, o governador Silval Barbosa (PMDB) entregou-lhe o titulo de cidadão cuiabano, em homenagem da Câmara de Cuiabá.
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Ademar Adams 29/11/2013
Esse deve ter sido tão bom que conseguiu uma aposentadoria na Assembléia maior que dos deputados. Aliás pé um escândalo que mereceria as críticas que ele gostava de fazer ao outros. Mas pergunta se um dia criticou o Riva...
Marcello Garcia 27/11/2013
Tenho orgulho de ser amigo desse nobre "cuiabano". Vez em quando, vou até lá no seu barzinho tomar umas e conversar fiado.
2 comentários