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Colunistas Segunda-feira, 10 de Julho de 2017, 11:35 - A | A

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Segunda-feira, 10 de Julho de 2017, 11h:35 - A | A

A tribo dos sem noção

PETU ALBUQUERQUE

Michely_Figueiredo

 

Quando descobri que estava gestando uma vida em meu ventre, também tive o desprazer de conhecer um lado “sombrio” da sociedade na qual vivemos.  Ao passo que a barriga começou a dar sinais, junto surgiram comentários nada agradáveis sobre a nova missão que passaria a exercer, sendo responsável por um novo ser. A crueldade e variedade das declarações me deixou realmente espantada.

Vale lembrar que a gestação é um período no qual a mulher vive uma montanha-russa de sensações. Tudo aflora. Os sentidos ficam mais aguçados. A interpretação e internalização daquilo que lhe é dito também é potencializado. E qual não foi meu espanto ao descobrir, participando de uma roda de gestantes, que os comentários desnecessários e sem razão de ser não ocorriam somente comigo, mas com a maior parte das gestantes que ali estava presente.

A primeira reação das pessoas é dizer que você é louca. Louca por abrir mão da liberdade que tem para criar um filho. Louca porque a sociedade está muito violenta. Louca porque vai arruinar sua vida profissional. Louca porque o país está em crise, porque vai destruir o seu corpo e assim por diante.  Se a gestação é de gêmeos então, prepare-se. Todos os absurdos aparecem em dobro!

Depois de reprimir a mulher pela escolha de ser mãe, surgem os infinitos conselhos dos palpiteiros de plantão. Se você decidi partilhar a informação de que sua escolha é pelo parto normal, já foi dada a “deixa” para mais esculhambação. Mas por que sofrer se a ciência lhe deu opções de trazer uma criança ao mundo sem dor? Como se as dores do parto não fossem ser sentidas por você, mas por um terceiro. Já cansei de dar explicações sobre as razões que me levaram a optar pela maneira natural de trazer mais um ser ao nosso mundo. Mas entre elas está o fato de que reduz drasticamente os riscos à saúde da mãe e da criança. Além disso, entendo que a dor faz parte do processo de transição para a maternidade.

Vai amamentar? Poxa, depois prepare-se para fazer plástica. Será que esse leite vai sustentar essa criança? Menina, dá logo mamadeira. É muito mais prático. Vai ter que desmamar mesmo quando voltar a trabalhar... Gente, já pararam para pensar como esse tipo de comportamento é desagradável? Como é chato ter que lidar com essa enxurrada de palpites que não foi pedida? Além do mais, esse tipo de atitude apenas desestimula quem está passando por um vendaval de mudanças, tendo que lidar com uma série de novidades.  Mudanças no corpo, no humor, na forma de raciocinar. Apenas reflitam como este tipo de atitude pode ser danosa.

Existem também aqueles que adoram contar tragédias relacionadas à gestação, ao parto e à criação do bebê. A frase mais corriqueira é: aproveite para dormir enquanto pode. Porque depois que ele nascer, você nunca mais dormirá.”

Curioso é perceber que os pais não recebem o mesmo tipo de tratamento. Pelo contrário, o que mais colhem são elogios pelo grande feito. Mais uma vez vemos aqui refletido o machismo ainda pujante em nossa sociedade.

Ao descobrir que estava esperando um menino, parei para refletir como faria para educá-lo de uma maneira que não replicasse a educação machista que também recebi. Afinal de contas, a tribo dos “sem noção” só deixará de existir quando deixarmos de fomentar essa diferença entre homens e mulheres. E a educação é o único caminho para esta mudança.

 

Petu Albuquerque é uma mulher balzaquiana, observadora da vida, aspirante à psicoterapeuta reencarnacionista e que tem fé na mudança.

 

 

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