O médico Pedro Victor Coutinho, da Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá, fez um desabafo em sua rede social nesta quarta-feira (25). Ele afirma que o subfinanciamento e a “incompetência administrativa” levaram a instituição à beira do caos.
Alan Cosme/HiperNoticias
Segundo a publicação, a Santa Casa está com uma dívida de R$ 6 milhões à equipe médica, referentes ao pagamento de salários, sobreavisos e plantões. Além da dívida de R$ 3 milhões em atraso à folha de pagamento geral, que excluí a equipe médica.
A unidade da Capital tem o déficit de R$ 700 mil mensais, o que faz com que o que recebem não seja o suficiente para administrar a instituição. Alguns dos repasses são provenientes da Prefeitura, por meio da Secretaria de Saúde, além de acordos com o governo e emendas. O atraso nesses repasses totalizam R$ 20 milhões.
O médico relatou toda a sua trajetória na profissão e seu sonho em dedicar sua vida ao Sistema Único de Saúde (SUS). Ele contou que está na instituição há cinco anos e vê-la na atual situação é “desolador”.
“Sonhei em dedicar minha vida profissional ao Sistema Único de Saúde, o SUS. Filho de pai médico, que dedicou toda a vida ao SUS fazendo carreira no serviço público, mesmo sentindo na pele o sofrimento e a distância que essa dedicação causou, escolhi sonhar e seguir meus ideais de lutar por um sistema de saúde público digno”, desabafou.
“A pior morte não é a morte do sonho em si, a pior morte é a morte do sonhador em que o sonho habita! Nesse instante, a Santa Casa de Misericórdia é um abatedouro de sonhadores. Será possível continuar sonhando?”.
Alan Cosme/HiperNoticias
Diretor Antonio Preza
O diretor da Santa Casa de Cuiabá, Antônio Preza, alertou que o principal problema da instituição atualmente é que os repasses não são suficientes para cobrir os custos. Ele relata que antigamente era possível fazer empréstimos para cobrir e “levar as coisas”, mas hoje em dia não tem como fazer nada e é preciso resolver o problema.
“Já falamos, conversamos com prefeito, governador, o povo da assembleia, povo do Ministério Público, avisamos todo mundo que ia chegar nessa situação, e chegou”, disse.
Segundo ele, o prefeito da Capital, Emanuel Pinheiro (MDB) prometeu uma reunião nesta sexta-feira (27) para tratar sobre os atrasos. A instituição está com um indicativo de greve a partir da próxima segunda-feira (30).
Ainda, uma assembleia geral foi agendada pelos médicos para esta sexta-feira (27) às 19h para debater sobre a atual crise financeira em que vive a instituição.
Confira a íntegra da publicação:
“Já fazem sete anos da conclusão da especialização, foram árduos e ao mesmo tempo prazerosos nove anos de formação. Após dois anos de idas e vindas desencontradas de tentativas frustradas de encontrar um lugar para desenvolver esse sonho, recebi convite pra entrar no corpo clínico da santa casa de misericórdia de Cuiabá, instituição bicentenária na capital mato-grossense, quase sinônimo desse sonho, aceitei prontamente. La se vão cinco anos de dedicação quase exclusiva a essa instituição, vê-la na atual situação e desolador. Uma mistura cruel de subfinanciamento com incompetência administrativa a levaram à beira do caos.
De um lado a direção do hospital nos mostra uma dívida das secretarias de saúde municipal e estadual para a Santa Casa totalizando acima de vinte milhões de reais, dívida essa que não é reconhecida pelo menos em sua maior parte pelas secretarias.
De outro lado, emendas parlamentares destinadas a custeio da Santa Casa que nestes anos todos não evitaram a chegada a esta situação. Uma dívida com o corpo clínico (equipe médica) estimada em 6 milhões de reais, referentes a atrasos no repasse de IVQ desde outubro de 2017, produção e sobreavisos desde janeiro de 2018 e plantões desde abril 2018. A dívida com a folha de pagamento geral, excluindo os médicos, ultrapassa 3 milhões de reais em atrasados referentes a 2 meses.
A pior morte não e a morte do sonho em si, a pior morte e a morte do sonhador em que o sonho habita! Nesse instante a santa casa de misericórdia e um abatedouro de sonhadores. Será possível continuar sonhando?”
Outro lado
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde, afirmou que todos os pagamentos estão em dias. A pasta afirma que só no ano de 2018, mas de R$ 30 milhões foram repassados à unidade de saúde.
"A Secretaria Municipal de Saúde informa que os pagamentos com a Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá estão em dias. No dia 16/07 foram pagos mais uma competência da contratualização, sendo R$ 274.025,67 dos serviços Hospitalares de Alta Complexidade, R$ 247.304,87 dos serviços Ambulatoriais de Nefrologia; R$ 470.900,74 de serviços ambulatoriais de Alta Complexidade. Ao todo foram repassados no ano de 2018 o montante de R$ 30.702.461,24.
A secretaria informa que no final do ano passado e neste ano a Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá recebeu de Emendas Parlamentares para custeio o montante de R$ 18.905.732,00 já repassados pela secretaria municipal. A Secretaria informa que o único recurso que ainda não foi repassado foram os Incentivos de IVQ- Índice de Valorização de Qualidade referente às competências Abril e Maio no valor mensal médio de R$ 63.000,00 que está aguardando suplementação Orçamentária.
Os Incentivos de IVQ do mês de Março estão sendo pagos na data de hoje (25/07). As demais solicitações do ano anterior como os leitos de retaguarda que não faz parte da contratualização que está vigente, estão em processo de auditoria do SUS que emitirá o parecer nos próximos dias. Sobre o Incentivo Municipal da Fonte 100 apenas o do mês de maio está em aberto".
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Carlos Nunes 27/07/2018
O negócio é que constantemente a Imprensa Nacional mostra que a crise nas Santas Casas é nacional, assim como dos Hospitais Filantrópicos do país. Não é exclusividade de Cuiabá ou de Mato Grosso. Alegam que o preço ofertado pelo SUS, pelos serviços, não cobrem os custos, as despesas. Aí, teria que perguntar pros Hospitais Particulares: conseguiriam sobreviver se dependessem só do SUS? A tabela do SUS é uma vergonha...não cobre custos nem despesas, ou cobre? Quanto o SUS paga por uma consulta, por uma cirurgia, etc.?
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