“Era um verdadeiro comércio da morte. Recebiam e matavam”. A fala é do delegado Rodrigo Azhen, um dos responsáveis pelo desmantelamento de um grupo de extermínio que atuava principalmente em Várzea Grande. O membro titular da Força Tarefa que investiga o esquadrão da morte, responsável pelas execuções em Cuiabá e Várzea Grande, revelou que os primeiros 17 presos são responsáveis direto por pelo menos 230 homicídios na cidade industrial em três anos. "Eles usavam carros, motos, armas de grosso calibre e máscaras para matar", frisou.
Para realizar essas execuções, os envolvidos eram divididos em policiais, seguranças, informantes, empresários e executores. O executor, segundo interceptações telefônicas, seria José Francisco Carvalho Pereira, o Ceará. Segundo o que aponta as investigações, Ceará já matou mais de 60, dos 230 executados. “Ele vivia de morte. Seria o pistoleiro. Recebia e matava. Não importava quem fosse”, diz trecho do inquérito policial formulado pela Polícia Civil.
Para a delegada Anaíde Barros, titular da DHPP, os próximos passos da operação não podem ser revelados, porém o que foi investigado até agora é que esse grupo, formado por seis policiais que acoitavam a ação dos bandidos, realizou ao menos 40% das mortes. "Os policiais sabiam de cada atuação. e faziam vista grossa", diz o inquérito.
“Eles agiam de maneira mercenária. Não eram justiceiros, eram negociadores de morte. Recebiam e por qualquer motivo matavam. Não eram apenas pessoas envolvidas com crime que morreram, mas sim qualquer pessoa. Bastava pagar que o crime acontecia. Um deles foi por motivo passional, onde a vítima foi revelada em pleno centro de Várzea Grande ao meio-dia”, comentou a delegada.
Esse crime em questão vitimou o empresário Eduardo Rodrigo Beckert, de 35 anos, e aconteceu no dia 5 de abril. Na ocasião, a vítima foi executada dentro de uma caminhonete quando chegava em sua residência, na região central de Várzea Grande.
Rodrigo Azhen, que trabalhou de maneira invisível por dentro das investigações, comentou que destes cinco crimes que esses 17 foram indiciados, todos tiveram participação direta dos policiais e dos seguranças. “Podemos analisar que em quase todos os crimes haviam tiros na cabeça”, frisa, afirmando que o treinamento dos envolvidos ajudava na execução.
Mas, uma pergunta fica no ar: Porque a polícia suspeita de 230 homicídios e só indiciou o bando por 5 casos?
“As provas iniciais que temos é para prender essas pessoas por cinco crimes. Prendemos, aguardando uma possível condenação. Por isso fechamos os inquéritos de maneira que não há como o poder judiciário ter dúvida dessas participações. Eles estão envolvidos com todos esses crimes, mas ainda faltam algumas materializações para fundamentar para aqueles crimes do passado”, explicou Anaíde Barros.
Para a delegada, talvez nem todos os 17 presos estejam envolvidos nos crimes investigados pela Força Tarefa da DHPP.
“Para a gente ter certeza dos crimes e dos criminosos, o trabalho da Politec será essencial. Vamos confrontar o exame de balística dos crimes passados com as armas apreendidas. Se constar que foram usadas, teremos mais provas para nosso trabalho”, destacou o secretário de Segurança Rogers Jarbas.
Outro assunto afirmado pelo secretário foi a investigação da chacina do São Mateus, que ocorreu em fevereiro de 2014 e até hoje choca a população da região de Várzea Grande. A suspeita é que policiais também tenham cometido o crime.
Marcus Mesquita/MidiaNews
Operação Mercenários prendeu 17 pessoas por homicídios na cidade de Várzea Grande
Sem dar detalhes da investigação Jarbas garantiu: “nada vai ficar impune”.
Operação Mercenários
A Operação Mercenários, desencadeada na terça-feira (26), pela Polícia Civil, prendeu 17 pessoas, apreendeu diversas armas e munições. Todos os envolvidos já estão presos em cadeias de Cuiabá e Várzea Grande.
Os seis policiais detidos estão cumprindo prisão preventiva na Cadeia Pública de Leveger. Vale ressaltar que o pedido de prisão foi assinado pelo juiz Otaviano Peixoto, titular da 1ª Vara Criminal de Várzea Grande. O magistrado rotulou o bando como membros do comércio da morte da cidade industrial.
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