Estudos anteriores já apontavam que o tamanho da cabeça no nascimento era um fator determinante para a média de QI na vida adulta. O novo estudo, no entanto, mostra que a mudança na medida no início da vida também pode contribuir para o desempenho cognitivo na vida adulta.
"Diversos fatores podem comprometer o crescimento do cérebro durante a gestação, como o tabagismo materno e a ocorrência de infecções na gravidez. A boa notícia é que, mesmo quando a criança nasce com a cabeça pequena, o desenvolvimento posterior pode favorecer a melhora do QI", destaca Marina de Borba Oliveira Freire, autora do estudo e doutora pelo programa de pós-graduação em epidemiologia da UFPel.
A pesquisa é fruto da tese de doutorado de Marina e utilizou os dados de mais de 4 mil bebês acompanhados ao longo de 30 anos, entre 1993 e 2023, na Coorte de Nascimentos de 1993 na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul.
Os dados indicam que, a cada aumento de um desvio-padrão (medida que compara o desenvolvimento de uma criança em relação a outras da mesma idade) no perímetro cefálico durante o primeiro ano de vida, o QI na vida adulta tende a ser 1,3 ponto mais alto. E aumentos maiores podem gerar mais pontos no QI, ou seja, a elevação é proporcional.
Esse efeito, segundo a autora, é ainda mais forte quando o crescimento ocorre nos primeiros seis meses, fase considerada crucial para o desenvolvimento do cérebro.
O estudo cita o exemplo de um menino que nasceu com 31,9 cm de perímetro cefálico, valor abaixo do registrado em 97% dos nascimentos masculinos, conforme os padrões da Curva de Crescimento Infantil da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ao longo do primeiro ano, a criança alcançou 46,1 cm, a média esperada para a idade. Esse "salto" representou uma previsão de QI, aos 18 anos, três pontos acima do que ele teria se tivesse mantido a mesma diferença inicial em relação aos meninos de sua idade.
"A ideia para os próximos passos é justamente tentar entender quais fatores estão relacionados com o crescimento do perímetro encefálico para investir em políticas públicas que possam melhorar o momento inicial da vida, mas que vão ter impacto lá na frente", pontua Marina.
Apesar da necessidade de mais estudos, a pesquisadora cita que alguns fatores podem ajudar no desenvolvimento do perímetro cefálico dos bebês, como a amamentação exclusiva, estimulação adequada para a idade e construção de vínculos.
Segundo Evelyn Santos, gerente de investimento e impacto social da Umane, todas as unidades de saúde do País são orientadas a realizar consultas mensais de acompanhamento do crescimento, desenvolvimento e vacinação até o sexto mês de vida. Após esse período, o acompanhamento deve ocorrer a cada três meses até o bebê completar um ano.
"Quando pensamos em termos populacionais - considerando, por exemplo, que mais de 100 mil crianças nascem por ano em São Paulo -, acompanhar o desenvolvimento pleno desse grupo é fundamental para garantir que a maioria alcance todo o seu potencial no futuro, seja em aspectos como QI ou nas relações desse indicador com outras dimensões da vida", diz a gerente.
Evelyn também destaca que a atenção primária tem um papel fundamental nessa questão. "Hoje, temos uma boa cobertura em vários municípios do Brasil. Quando o médico de família está presente nas equipes, ele realiza o acompanhamento integral de todas as famílias e está capacitado para monitorar o desenvolvimento infantil, encaminhando para um pediatra ou uma rede mais especializada caso seja identificado algum desvio."
"Então, conseguir fazer com que essas famílias sejam atendidas na atenção primária é muito importante", adiciona.
O que é QI?
QI é uma medida usada para avaliar a capacidade intelectual de uma pessoa em relação à média da população. Ele é calculado a partir de testes padronizados que analisam habilidades como raciocínio lógico, compreensão verbal, memória e resolução de problemas. A pontuação média é geralmente 100, e valores acima ou abaixo indicam desempenho superior ou inferior ao esperado.
Embora o QI ofereça uma estimativa do potencial cognitivo, ele não abrange todas as formas de inteligência, como criatividade, habilidades sociais ou emocionais. Marina reconhece essa limitação, mas explica que, ainda assim, a medida é uma das melhores formas disponíveis para medir inteligência.
(Com Agência Estado)
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