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Artigos Domingo, 17 de Fevereiro de 2013, 15:00 - A | A

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Domingo, 17 de Fevereiro de 2013, 15h:00 - A | A

Renovação católica

A Igreja Católica perdeu milhares de fiéis no último século, muito mais do que nas Reformas Protestantes. E padece na dificuldade de linguagem, de comunicação, de distanciamento clerical, de intolerância que engessa no tempo antigos consensos antigos ...

EDUARDO MAHON

Página do E


Nenhuma religião negocia com o núcleo central da própria existência – a fé. Sem a fé dos fieis, não há religião. No entanto, cada crença agrega mais ou menos dogmas à fé, dependendo da margem de flexibilidade sobre milhares de temas sociais que desafiam uma resposta instantânea de um aparato religioso que costuma meditar longamente.

Religiões mais antigas têm uma cartilha ortodoxa na qual há a revisão causa sofrimentos. É o caso da Igreja Católica que culturalmente domina o imaginário europeu e latino-americano e, por isso, qualquer menção às reformas causa grande expectativa.

No entanto, o mais pitoresco na dificuldade de arejar as práticas e revisar alguns postulados é que os dogmas também foram negociados, resultado não de um esclarecimento repentino ou tradição originária, mas de discussão e votação em assembleias. Resultado de duas dezenas de concílios gerais e regionais, as máximas incontestáveis firmaram-se em debates e não espontaneamente. A dúplice natureza de Cristo veio do concílio de Éfeso; permitiu-se o culto às imagens no concílio de Niceia II; o celibato religioso foi confirmado pelo concílio de Latrão I; entre tantos outros dogmas como a virgindade de Maria (concílio de Constantinopla II), a santíssima trindade (concílio de Niceia), definição do cânon bíblico (concílio de Hipona) etc.

Foram várias condenações igualmente decididas por meio de concílios, como o arianismo, pelagianismo, messalianismo, nestorianismo, monotelitismo, iconoclastia, albigenses, valdenses, entre muitas outras heresias e pecadores. Vê-se, portanto, que tanto os dogmas de fé, como direcionamentos administrativos e políticos, nasceram de assembleia que demandava respostas do catolicismo às circunstâncias. A igreja que tolerava o matrimônio de religiosos com 39 papas casados passou a não mais permitir (concílio regional de Elvira, confirmado pelo concílio de Nicéia); que negociava indulgências, reprimiu a prática anos após (concílio de Latrão e Ravena), entre outras muitas correções de rumos.

Percorrer a história das religiões permite afirmar que houve negociação com quase tudo, menos com a fé. É claro, porque a fé sustenta qualquer igreja. Negociá-la é ver a igreja morrer rapidamente. Todavia, como já anotei alhures, os demais dogmas foram acrescentados, afirmados e reafirmados, modificados, suprimidos, retomados, com o tempo e circunstâncias. Quando o papa Bento XVI exorta pela 'verdadeira renovação' no seio da Igreja Católica, deve-se ler com toda a acuidade possível nas entrelinhas deste que é um dos mais fecundos intelectuais católicos. Três hipóteses de ‘verdadeira renovação’ podem ser levantadas: a) pelo prisma político da administração da igreja; b) pela ótica sociológica, diante da postura dos religiosos; c) pelo entendimento teológico, no qual haveria o maior impacto.

Dificilmente a renovação almejada seria a de revisões dogmáticas, considerando que a mensagem de um antigo cardeal responsável pela Congregatio pro Doctrina Fidei, guardiã justamente do núcleo teológico. Provavelmente, a renovação pretendida por Bento XVI esteja inclinada para o tratamento de problemas internos católicos, ligados mais à política das outras igrejas coligadas ou sui iuris (copta, siríaca, armênia, melquita, maronita, romena, ucraniana, siro-malabar, siro-malancar, etíope, bizantina eslovaca e rutena, eslovaca, búlgara, croata, entre outras), e à obediência hierárquica e forma de reconhecimento vocacional do que revisionismos teológicos. A ‘renovação’ é um termo movediço e enlaçado de múltiplos significados que o cardinalato entende de forma diversa do público leigo.

A Igreja Católica perdeu milhares de fiéis no último século, muito mais do que nas Reformas Protestantes. E padece na dificuldade de linguagem, de comunicação, de distanciamento clerical, de intolerância que engessa no tempo antigos consensos antigos. A comunidade ressente-se, mas é acanhada. Releva condenações, admoestações, penitências, silêncios obsequiosos, e afasta-se lentamente do clero, mantendo costumes cultuais. A renovação que o mundo católico espera pacientemente não é da maliciosa relativização da fé, mas da tolerância, da acolhida, do abraço fraterno, reformas indispensáveis e nada ameaçadoras para o verdadeiro pilar do catolicismo – a fé cristã.

(*) EDUARDO MAHON é advogado em Mato Grosso e colaborador de HiperNoticias.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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