“O resultado da eleição presidencial, quem vence ou quem perde, é condicionado pela situação do país. Momentos de aumento do consumo beneficiam a candidatura governista, foi assim em 1994, 1998, 2006 e 2010. Por outro lado, as situações de crise marcadas por desemprego elevado e inflação crescente acabam por levar a vitória da oposição, como foi em 2002.”
Neste sentido, pouco importa quem está na frente das pesquisas de intenção de voto agora. Essas sondagens medem, pura e simplesmente, recall. O que realmente importa é como estará a percepção dos brasileiros acerca da inflação, do poder de compra, do seu bem-estar individual e familiar e dos problemas que afetam o cotidiano no ano da eleição.
Alguns estudos, feitos na Europa e validados na América Latina, confirmaram a centralidade da inflação e do desemprego como as variáveis macroeconômicas que mais impactam os eleitores. Os votantes premiam ou punem os governantes em função de suas percepções acerca destes dois quesitos. Neste caso, é importante frisar que o grau de responsabilidade atribuído ao presidente é essencial para definir suas consequências na decisão de voto.
Também importa a visão dos brasileiros sobre os principais problemas do país como a segurança e a saúde. A última edição da pesquisa IPSOS revela que a criminalidade é a principal preocupação da população, mencionada por 46%. Outro destaque é a saúde pública (37%). Já a inflação (citada por 36%), continua sendo um fator relevante na vida cotidiana dos brasileiros.
Os dados são favoráveis ao governo no quesito desemprego e desfavoráveis em aspectos com controle dos preços, escalada da inflação, insegurança e saúde. Uma citação de O Animal Social, de Elliot Aronson e Joshua Aronson ajuda a compreender por que as propagandas do governo que destacam o baixo desemprego e o crescimento do PIB vem falhando:
“Quando as pessoas estão com medo e zangadas, os fatos, por si só, nem reconfortam e nem convencem. As informações podem ser eficazes, mas só se estiverem atreladas a soluções de problemas que causam profunda preocupação aos eleitores.”
Dando sequência na análise do quadro político e suas implicações eleitorais, vale a pena buscar mais um autor para compreender o comportamento do eleitorado, desta vez Drew Westen, em O Cérebro Político:
“Contrariamente ao modelo de decisão racional, as decisões que tomamos e as analogias que usamos nos são impostas não apenas pelos dados disponíveis, mas pela forma como tais decisões e analogias nos fazem sentir.”
As pesquisas qualitativas realizadas neste momento Brasil afora revelam alguns sentimentos associados ao governo Lula 3. Predominam sentimentos e emoções associadas a frustração, expectativas não correspondidas, desamparo, abandono, decepção. Isso tanto entre os eleitores que, tradicionalmente votam e buscam alternativas políticas mais à esquerda, quando aos eleitores que se comportam de maneira pendular em função da avaliação que fazem do desempenho do governo.
Por conta destas percepções e sentimentos, o trabalho que se impõem ao governo Lula 3 é bastante árduo. Contudo, alguns episódios de recuperação de popularidade em momentos pretéritos da política no Brasil precisam ser lembrados. O presidente Fernando Henrique Cardoso perdeu bastante popularidade após a desvalorização cambial no início de 1997, recuperou-se e foi reeleito. O próprio Lula perdeu popularidade em 2005 em função do Mensalão e, mesmo assim, foi reeleito. E Bolsonaro, mesmo depois de várias declarações muito infelizes durante a pandemia do Covid-19, consegue se reerguer e perde por pouco a reeleição.
Por fim, cabe uma última reflexão. Se o líder é aquele que aponta o caminho, o governo Lula 3 precisa mostrar para a população onde pretende chegar e quais são os projetos de futuro que estão sendo construídos no presente. Qual sonho está sendo oferecido? E implicitamente, estar-se-á sugerindo a necessidade de se dar continuidade ao atual mandato. Hoje não se vislumbra essa projeção futura. O que representará para o eleitor um quarto mandato para Lula, em que sonho se pode acreditar?
Conclusão. Tudo vai depender de como estará a economia e as percepções dos brasileiros acerca da inflação e dos problemas cotidianos em 2026. Contudo, é bastante improvável que o governo tenha a capacidade, quase que demiúrgica, neste tempo que lhe resta até outubro do ano da eleição, de remodelar os sentimentos negativos associados ao desempenho do governo que, a cada dia que passa, se consolidam nas percepções dos eleitores. Precisará também pensar qual sonho oferecerá aos brasileiros para ser merecedor de um novo mandato. Todas são questões que ainda permanecem sem resposta.
(*) RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política.
Autor de “Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais”; “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” e dos e-books “A falha na distribuição da comunicação”; “O eleitor subconectadoe a realidade do marketing eleitoral no Brasil”; “Marketing Governamental”; “Novas estratégias eleitorais para um novo ambiente político” e “DataMídiaPerformance”.
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