Mato Grosso, conhecido por sua biodiversidade e força econômica, convive com uma ameaça silenciosa e crescente: o avanço das doenças negligenciadas. Essas enfermidades, pouco abordadas pela indústria farmacêutica, afetam principalmente populações em situação de vulnerabilidade social. Embora provoquem sofrimento, incapacidades e até mortes, essas doenças seguem invisíveis aos olhos do grande público apesar de políticas de saúde aprimoradas.
As doenças negligenciadas mais comuns no estado incluem hanseníase, leishmaniose, dengue e chikungunya. São condições que persistem especialmente em locais com baixa cobertura de saneamento básico, desmatamento acelerado, urbanização desordenada e acesso limitado a serviços de saúde. Esses fatores, somados à falta de informação, criam um cenário propício à proliferação dos vetores que transmitem essas doenças.
Nos últimos anos, dados apontam um aumento preocupante de casos em diferentes regiões mato-grossenses. A leishmaniose, por exemplo, transmitida pelo mosquito-palha, deixou de ser restrita a áreas rurais e passou a atingir centros urbanos, inclusive bairros populosos. Já a hanseníase — uma enfermidade milenar e com cura disponível — ainda é diagnosticada tardiamente, o que leva a sequelas físicas permanentes e à manutenção da cadeia de transmissão.
Esse cenário se agrava quando observamos a dificuldade de acesso a unidades de saúde em regiões remotas. Muitas pessoas desconhecem os sintomas iniciais dessas doenças e não recebem o atendimento adequado a tempo. O resultado é um ciclo contínuo de adoecimento, agravamento de casos e aumento da sobrecarga no sistema público de saúde.
Vale destacar que o avanço das doenças negligenciadas não afeta apenas os indivíduos atingidos. Ele compromete a saúde coletiva, impõe custos elevados ao sistema de saúde, prejudica o desenvolvimento humano e evidencia desigualdades sociais que ainda persistem no estado. A omissão diante dessas doenças é, também, um reflexo da invisibilidade de comunidades inteiras que vivem à margem da atenção pública.
Diante desse quadro, é urgente que a população esteja informada e envolvida. A informação é o primeiro passo para a prevenção. Conhecer os sintomas mais comuns, buscar atendimento médico ao menor sinal de suspeita, exigir saneamento básico, colaborar com o controle de vetores (como o combate aos criadouros de mosquitos) e apoiar pesquisas e projetos de combate a essas doenças são atitudes fundamentais para mudar essa realidade.
O crescimento das doenças negligenciadas em Mato Grosso é um alerta que exige ação coletiva. Cuidar da saúde da nossa população passa por reconhecer esse problema, investir em soluções estruturais e fortalecer a consciência social. Juntos, podemos construir um estado mais justo, saudável e preparado para enfrentar os desafios invisíveis que ainda assolam muitos mato-grossenses.
(*) ROGÉRIO NUNES possui graduação em Farmácia-Bioquímica (1997) e doutorado em Farmacologia de Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos (2012), ambos pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Atua nas áreas de ensino, pesquisa e desenvolvimento de projetos de inovação tecnológica. É professor adjunto da Universidade Estadual de Mato Grosso (UNEMAT) e, atualmente, exerce a função de coordenador do Parque Tecnológico de Mato Grosso.
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