Imagine viver em um mundo onde as palavras chegam distorcidas, os sons se perdem no ar e o riso das pessoas queridas parece distante. Para quem enfrenta a perda auditiva, o silêncio não é paz, é tristeza e isolamento. Trata-se de uma condição muitas vezes invisível, mas com consequências profundas na saúde emocional, nos vínculos familiares e na vida social.
Muito além do ouvido
A perda auditiva não é apenas a redução da capacidade de ouvir. Ela é uma barreira que interfere diretamente na comunicação, na autonomia e na própria identidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde, mais de 430 milhões de pessoas no mundo convivem com algum grau de deficiência auditiva incapacitante, e a tendência é que esse número cresça. Sem tratamento, a perda auditiva está associada a maior risco de depressão, ansiedade e até declínio cognitivo.
Feridas emocionais invisíveis
O impacto psíquico é silencioso, mas devastador.
O silêncio se instala gradualmente, apagando sons e isolando vidas.
A perda auditiva provoca isolamento social, dificuldade para acompanhar e compreender diálogos, leva muitas pessoas a evitar encontros e eventos, gera ansiedade e insegurança, medo de não compreender ou de não ser compreendido e interfere diretamente na autoestima, causando sensação de inferioridade e abalando a autoconfiança.
Estudos indicam que a perda auditiva não tratada dobra o risco de sintomas depressivos, especialmente em idosos, mas também afeta adultos em plena vida ativa.
A tensão nos vínculos sociais e familiares
Em casa, a repetição constante de frases como “O que você disse?” e o volume alto da TV podem gerar impaciência e afastamento. Na vida social, as conversas em grupo tornam-se um desafio, provocando cansaço e frustração.
Os danos não afetam apenas a pessoa com perda auditiva, mas também familiares e amigos próximos. Muitas vezes, a pessoa se cala em razão da frustração que a condição provoca.
O silêncio, nesse caso, não é escolha, mas consequência.
O dia a dia com barreiras
Pequenos detalhes revelam o peso da perda auditiva e não podem ser ignorados, pois possibilitam diagnóstico precoce. Nos estágios iniciais, os sinais mais comuns incluem: dificuldade em ouvir em ambientes ruidosos, pedir para repetir frequentemente, aumentar o volume de dispositivos como rádio e TV, dificuldade em entender a fala ao telefone e percepção de sons como abafados ou sussurros.
Esses indícios, embora sutis, merecem atenção e avaliação médica para evitar a progressão da perda auditiva.
Quando não percebemos o som de um alarme ou buzina no trânsito, quando encontramos dificuldade para interagir em ambientes ruidosos, como restaurantes e reuniões, ou quando compreender conversas se torna um esforço constante, a autonomia funcional já está comprometida. Essa limitação pode gerar medo, insegurança e dependência de terceiros.
Caminhos para romper o silêncio
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado, seja por meio de aparelhos auditivos, implantes cocleares ou terapias de reabilitação, são essenciais para preservar a qualidade de vida.
A presença e a compreensão da família e dos amigos desempenham papel fundamental, adotando estratégias simples como falar de frente, articular bem as palavras e manter contato visual.
Além disso, políticas públicas que garantam acesso ao diagnóstico, aparelhos e acompanhamento especializado são urgentes. A perda auditiva não é apenas um desafio individual, mas uma questão de saúde coletiva.
O direito de ouvir e ser ouvido
Perder a audição é mais do que perder sons, é perder conexões, histórias e momentos que constroem quem somos.
Reconhecer e tratar a perda auditiva preserva a saúde mental, a autoestima e a dignidade. Todo ser humano tem o direito de ouvir e, acima de tudo, de ser ouvido.
O silêncio imposto pela perda auditiva não é apenas ausência de som, é ausência de palavras que constroem laços, afetos e histórias que dão sentido à vida.
(*) ANDREA MARIA ZATTAR é advogada, membro da ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS MULHERES DE CARREIRA JURÍDICA – ABMCJ.
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