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Artigos Quarta-feira, 26 de Fevereiro de 2020, 15:29 - A | A

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Quarta-feira, 26 de Fevereiro de 2020, 15h:29 - A | A

ALIANA COSTA

Mudanças: na infância, na mídia e nas instituições

ALIANA CAMARGO COSTA

Arquivo pessoal

Aliana Camargo Costa

Na sequência de artigos convido o leitor a pensar sobre a relação entre crianças e a mídia, mais propriamente o Youtube. Observando e refletindo sobre as aflições quando pensamos que a tecnologia condiciona transformações que muitos atores sociais não conseguem medir e tão pouco analisar. E atenção! Estou utilizando o termo condiciona e não determina como muitos desavisados querem jogar na conta da mídia. Sempre há o entusiasmo de que é a mídia a culpada por tudo, será?  

Ao pensar que a criança é fruto do meio, é importante entender essas transformações culturais e sociais. No momento em que o público infantil está cada vez mais conectado e consome discursos para crianças e sobre crianças, é necessário voltar a atenção para a produção de sentidos e julgamentos delas sobre as mídias. É neste intuito que venho me esforçando para compreender a relação entre mídia e educação, porque esse estudo é “fundamentalmente um fenômeno social” e que afeta a todos nós educadores e responsáveis pela infância.  

Num esforço para compreender rápidas mudanças, o escritor britânico David Buckingham, voltado para o estudo da relação entre mídia e educação, define como estratégias em seu livro Crescer na Era das Mídias: considerar o lugar das crianças na família; as experiências educacionais e profissionais das crianças; e os usos que elas fazem de seu tempo de lazer. O autor britânico nos instiga a pensar no contexto contemporâneo brasileiro - quais perguntas são necessárias para entendermos a relação entre crianças e o Youtube, e o que isso pode nos levar enquanto contexto educativo? Neste sentido, lembro Zygmunt Bauman novamente, citado no artigo anterior: as perguntas certas são mais necessárias que as respostas, uma das razões é porque podem nos mover. 

Para entendermos melhor precisamos recorrer ao contexto histórico, em como chegamos até aqui. O ambiente familiar estável e tradicional começou a ser diluído no inicio da crise de representação, mais intensamente nos anos 1980. Assim, a figura do pai e da mãe como tutores da criança no lar passou a mudar, muito por conta do aumento do divórcio, do índice de violência em casa como principal cenário de crimes contra crianças, nas relações homoafetivas e na falta de tempo dos pais no cuidado com elas. 

Essa falta de tempo destinado às crianças foi revertida no sentido da ‘valorização econômica’ da infância. Elas detêm poder de compra, basta pensar que agora perguntamos a elas o que elas querem ver, vestir, calçar, comer etc. Por conseguinte, a indústria de bens de consumo infantil investiu em tecnologias, programas de TV, brinquedos, câmeras de vídeo, computadores domésticos, crescendo vertiginosamente a competitividade comercial neste setor. Precisamos concordar - o capitalismo sabe fazer o seu papel, um tanto quanto voraz. 

Nesse cenário entram as tecnologias digitais que revolucionou o processo de produção na indústria da mídia. As mudanças podem ser compreendidas pela proliferação em vários sentidos, seja no maior número de canais de televisão, no crescimento vertiginoso dos youtubers, na multiplicação de formas de mídia digital: videogames, computadores, celulares etc. No processo de convergência pelo âmbito tecnológico e econômico, na qual a intertextualidade é característica mercantilista e dominante da mídia contemporânea. Soma-se a isso a questão interativa compreendida como a libertação das restrições das mídias tradicionais, como a televisão. Em minha pesquisa de campo, as crianças na qual pesquisei disseram que a televisão para elas se resumia a Youtube ou Netflix, um cenário muito diferente das novelas na qual crescemos. Agora as narrativas são multivariadas e com elas as referências recheadas de infinitas possibilidades culturais, sociais e econômicas. 

Com a pulverização das mídias e o acesso das tecnologias ao campo doméstico (tanto em consumo quanto em produção), fez crescer um sentimento de insegurança e instabilidade. As hierarquias estabelecidas se romperam, à medida que emergem novas formas culturais e identitárias, e essas identidades são multivariadas e potencializadas pelas mídias. Neste sentido, Zygmunt Bauman, através do seu livro O Mal-estar da pós-modernidade (1998), irá contribuir para a educação dizendo que esse sofrimento contemporâneo é fruto de uma crise entre pais, alunos e professores, e que desencadeou a ideia de liberdade em detrimento da segurança. E mais, Bauman diz que há negação dos pais e professores perante o cenário que se desenha, um cenário em que as crianças gozam de tanta liberdade que não sabem o que fazer com ela. 

Há três grandes tendências identificadas nas mudanças econômicas e institucionais nas indústrias da mídia que afetam as nossas vidas: a privatização, a integração e a fragmentação. A privatização das mídias atende ao grande imperativo – exibir anúncios e propagandas – não raro vemos uma enxurrada de anúncios, e basta fazer qualquer tipo de pesquisa sobre determinado assunto de nosso interesse que as bolhas formam os cruzamentos de dados e lhe direcionam para anúncios que lhe agradam. 

Infelizmente a regulamentação sobre as funções sociais e culturais do meio são abandonados, o que prejudica as TVs públicas, por exemplo, que vão sendo minadas por dentro pela comercialização. Outra tendência, a Integração, favorece que a convergência econômica  seja feita tanto horizontal como vertical, gerando mudanças na estrutura organizacional e institucional da comunicação, formando grandes conglomerados da mídia mundial cujo poder é a definição do que serão consumidos no panorama global/local, receptores como objetos de consumo e mudança do cenário a partir de parcerias comerciais de grandes empresas multimídias com o objetivo de expandir o mercado e gerar simplesmente: lucro.

Por fim, na fragmentação os públicos estão se tornando mais especializados e fragmentados, constituindo ‘nichos de mercado’. Causando impacto na indústria de broadcasting (centralizadora) e expandindo a cultura do narrowcasting (narrativas para públicos específicos.)

 

É neste cenário de narrativas específicas que dois youtubers vem despontando no cenário brasileiro: os irmãos Lucas Netto e Felipe Netto. Mas estes merecem um capítulo à parte, uma reflexão sobre como é construída o poder dos youtubers diante de crianças e jovens ávidos por entretenimento. 

 

(*) ALIANA CAMARGO COSTA é jornalista, Mestre em Estudos de Cultura Contemporânea pela UFMT e Doutoranda em Educação pelo Programa de pós-graduação  em Educação da UFMT.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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