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Artigos Sexta-feira, 07 de Dezembro de 2012, 08:00 - A | A

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Sexta-feira, 07 de Dezembro de 2012, 08h:00 - A | A

Mensalão: o fato e as versões – v. 2.0

Adoro entrar em bola dividida, ainda mais quando o oponente, no campo das ideias, é um velho amigo. Dito isso, entro de sola para confabular com o corajosamente escrito pelo célebre e convicto comunista Manoel Motta.

RUY FERREIRA

Divulgação


Adoro entrar em bola dividida, ainda mais quando o oponente, no campo das ideias, é um velho amigo. Dito isso, entro de sola para confabular com o corajosamente escrito pelo célebre e convicto comunista Manoel Motta.


Salta aos olhos ao ler o escrito do fraterno colega o desejo intimorato de perdoar os dirigentes do PT, independente dos feitos e malfeitos que tenham cometidos. Ao abrir seu artigo já concede a eles o direito de fazer lambança, isso porque outros fizeram no passado. Negativo dileto amigo, aqui sem restritiva. Pois o passado tem esse condão de evitar que sigamos no presente em erro lá trás cometido por outros ou por nós mesmos. Em especial, quando o erro é um crime, tipificado nos códigos e leis do Brasil.

Ao mesmo tempo em que admoestava com ternura os companheiros dirigentes petistas por criarem o imbróglio com permissividade relativa, baixou o cipó no lombo dos ministros do STF por fugirem de suas limitadas atribuições e em sua versão realizarem um julgamento político. Nivelou assim o julgamento do mensalão do PT ao ocorrido com o poeta e jornalista Raúl Rivera, em Cuba, que desde o momento da prisão até o julgamento transcorreram apenas 72 horas, sem possibilidade de defesa e todo realizado a portas trancadas.

Raúl foi preso, julgado e sentenciado a 20 anos de prisão por escrever sobre o drama de 300 presos políticos da ilha de Fidel Castro. Aquele foi um julgamento político. Enquanto aqui nas terras tupiniquins o realizado pelo STF demorou processualmente mais de 7 anos entre a denúncia e o início do julgamento, respeitou-se o direito a ampla defesa e foram seguidos os ritos previstos nas leis brasileiras.

Para alguém com a imensa bagagem amealhada na vida política, afasta de si mesmo a assertiva de que o Partido dos Trabalhadores errou. Mas, no mesmo parágrafo nos deixa com a dúvida que se errar o mesmo erro de outros que anteriormente tanto criticavam é uma claudicação política. Se não é um erro político, então o que é? Afinal, em minha opinião, errou o partido por meio de seus dirigentes que respondem por ele criminal, eleitoral e inclusive politicamente.

A meu ver não existem dois entes chamados partido político, um abstrato limitado ao campo da ideologia e outro pessoa jurídica representada por pessoas e que atua politicamente na sociedade. Ambos se fundem em uma mesma coisa. Personificam uma mesma instituição.

Em seguida o experiente cientista político analisa e dá duas marteladas certeiras: outros erros partidários cometidos pelo PT que nunca serão perdoados pelos brasileiros progressistas: a covardia em participar do colégio eleitoral que elegeu Trancredo Neves, e pela via parlamentar extinguiu a ditadura militar. Segundo: Recusar a assinar, inclusive Lula, a Constituição do Brasil, elaborada com a participação de constituintes do próprio partido. Aqui, me apego ao amigo para proclamar dois erros políticos que jamais serão esquecidos por aqueles que desejavam a normalidade democrática.

Daí em diante fico entre a perplexidade do argumento usado pelo amigo cronista: crime político, para chamar à razão os dirigentes petistas. Negativo. A intenção de uso e o destino dado a milhões de Reais não interessa ao julgador e muito menos à sociedade. Quem rouba é ladrão e por esse crime deveria ser julgado. Se o dinheiro roubado do Banco do Brasil vai ser usado para comprar consciência de parlamentar é uma agravante e não uma justificativa. Da mesma forma, se for para fraudar a legitimidade das eleições via financiamento ilegal ou caixa 2.

No caso do mensalão do PT é fato que a coisa não se deu no decorrer das eleições e isso implica em uma continuidade no tempo que ultrapassa a falácia do crime eleitoral. E, ao mesmo tempo, concordo com Manoel a respeito dessa forma nojenta de financiamento de campanha, onde empresas que nunca tiveram ou terão título de eleitor colocam dinheiro em campanhas de candidatos visando auferir lucros extorsivos no futuro. Isso é asqueroso. Basta o fundo partidário para realizar a campanha eleitoral, o resto é pura invenção de quem deseja encher os bolsos e ao mesmo tempo inflacionar o custo da campanha.

E novamente me atiro aos braços generosos de Motta quando um erro político do PT em considerar o julgamento do mensalão ilegítimo. Estamos em plena vida democrática no Brasil, nenhuma instituição está impedida de funcionar. Quanto a tal base aliada, a condenação de parlamentares (Roberto Jefferson, Valdemar da Costa Neto, João Paulo Cunha, Pedro Correa, José Borba, Romeu Queiróz, Carlos Alberto Rodrigues, Pedro Henry e José Dirceu) é suficiente para responder a dúvida do querido analista, assim como a origem do recurso público: Banco do Brasil.

Interessante o artifício usado de trazer a baila à compra de votos para a reeleição de FHC, pois deixa a impressão que se tentar justificar o atual pelo crime do passado. Naquele faltou Procurador da República isento e republicano capaz de processar o crime dos tucanos. E sou plenamente a favor de sua apuração, mesmo que não seja mais possível punir os mortos, pelo menos para registro histórico.

Ao partir para o fecho da brilhante análise política, Manoel tenta colocar a sociedade como julgadora de crimes, e não é nem pode ser, ou voltaremos aos linchamentos em praças públicas. As eleições são escolhas em listas fechadas que nada tem a ver com o julgamento criminal do mensalão, afinal escolheram-se prefeitos e vereadores. O mensaleiro João Paulo Cunha, único candidato do PT à prefeitura foi defenestrado da candidatura pela condenação criminal, tornando-se um “ficha suja”. Nenhum mensaleiro foi eleito em 2012. Logo, não se pode afirmar que há influência do julgamento nas eleições. Vamos esperar 2014 e ver se esses nomes aparecem como candidatos, mesmos os absolvidos ou com pena prescrita. Até lá, a sociedade vai amadurecer o resultado do julgamento que ainda não terminou.

E, como ele, me despeço do leitor dizendo que há continuidade de malfeitos no governo petista. Cada dia mais perto de protagonistas de acontecimentos ainda não esclarecidos, como as lambanças da Erenice na Casa Civil e Rosemary, na representação da presidência em São Paulo. No frigir dos ovos, os petistas erraram politicamente e também cometeram crimes. E, em minha estreita visão política, isso é um fato e não só uma versão.

(*) RUY FERREIRA é Doutor em Educação, Ciência e Tecnologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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