Não há manchete que dê conta do vazio. Há um ano, no dia 7 de junho de 2024, calou-se uma das vozes mais ruidosas e necessárias da imprensa de Mato Grosso, Mário Marques de Almeida. Jornalista de traço firme e verbo cortante, ele fez da caneta seu estilingue e da sátira, um espelho incômodo para os poderosos.
Criador do lendário personagem Mané Catraca, Mário foi mais do que um cronista político, foi um pensador de rua com alma de redação. Seu personagem falava a língua do povo e o pensamento da elite crítica. Deixava os engravatados coçando a cabeça e os leitores com um leve sorriso de canto de boca, sorriso de quem sabe que a verdade, mesmo dolorida, precisa ser dita com humor.
Veterano da chamada Era de Ouro da Imprensa mato-grossense, quando os jornais impressos moldavam o rumo da política, Mário foi figura central nas redações e nos bastidores do poder. Passou pela Folha de Dourados, Correio Cacerense, Folha de Rondonópolis, Correio do Leste, Diário de Cuiabá e tantos outros. Fundou o Olhar Direto e o Página Única, trincheiras digitais onde sua pena continuou ferina até os últimos dias.
HNT TV
Jornalista Mário Marques de Almeida durante entrevista ao HNT TV: baluarte da imprensa mato-grossense
O Estado também reconheceu sua voz. Foi Secretário de Comunicação na gestão Carlos Bezerra em Rondonópolis, Secretário Municipal de Comunicação de Cuiabá no governo de Roberto França, e Secretário de Estado de Comunicação de Mato Grosso. Assumiu ainda, por três vezes, a presidência da Imprensa Oficial (IOMAT).
Nos últimos anos, assumiu novamente a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Rondonópolis, a convite do prefeito José Carlos do Pátio, com quem mantinha amizade, confiança e afinidade política. Mesmo já doente e acamado, Mário permanecia ativo: aconselhava, guiava e articulava com a mesma visão estratégica de sempre. Era ouvido como se ainda estivesse à frente da redação, porque de certa forma, sempre esteve.
A primeira-dama Neuma de Moraes e o prefeito externaram profundo pesar, lembrando o legado que ele deixa para a comunicação pública e para o jornalismo ético. Sua ausência não foi só uma perda pessoal, foi um baque institucional.
Aos 76 anos, Mário era mais do que um jornalista veterano. Era um patriarca, um amigo, um mentor. E acima de tudo, era um avô apaixonado. Se havia algo que superava seu amor pelo jornalismo, eram os seus netos, por quem ele dava a vida sem hesitar. Eles foram, até os últimos momentos, seu maior motivo de alegria e esperança.
Sua família guarda esse amor com orgulho e saudade: sua esposa Eliane, seus filhos Amanda (sua primogênita, moradora de Rondonópolis), Noêmia, Giovani, Juliana e Bianca, além de seus netos e suas irmas, que foram o combustível mais doce de sua existência.
Ele nos ensinou que jornalismo se faz com coragem, que a crítica precisa de compromisso e que a palavra, bem usada, é mais poderosa que qualquer cargo.
Hoje, o silêncio da sua ausência ecoa alto. Mas o que ele plantou, continua florescendo.
E a verdade é essa: a imprensa de Mato Grosso ficou menor sem ele. Mas o tinteiro segue cheio. Seu estilo, seu legado, suas lições continuam inspirando os que ainda acreditam que jornalismo é mais que ofício, é missão.
(*) GIOVANI FERREIRA é diretor do www.pagianunica.com.br.
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