Este artigo parte de uma pergunta: o eleitor brasileiro se cansou da polarização?
Uma nova pesquisa do instituto Quaest apresenta dados interessantes e trazem novos ingredientes ao debate sobre o fenômeno da polarização na política nacional entre o lulismo versus o bolsonarismo. Especialmente quando se pensa na eleição presidencial de 2026.
Felipe Nunes e Thomas Traumann em seu livro Biografia do Abismo escrevem o seguinte: “Esse processo de enrijecimento dos lados leva os eleitores a se tornarem torcedores apaixonados que transformam sua preferência naquilo que define sua posição na sociedade. Ao assumir as cores do lulismo ou do bolsonarismo como as de quem torce para Flamengo ou Fluminense, o eleitor deixa de se importar com uma comparação racional dos dois políticos para transformar sua escolha em parte de sua identidade.”
Mesmo que pesquisas qualitativas já venham apontando esse cansaço em relação à polarização, e que se refletiu em vários lugares nas eleições municipais de 2024, a nova rodada da Quaest divulgada esta semana mostra que 65% do eleitorado acha que Bolsonaro não deveria ser candidato e 66% que Lula não deveria se candidatar à reeleição. E que o índice de rejeição tanto de Lula como de Bolsonaro está bastante alto: 57% dos eleitores rejeitam Lula e 55% rejeitam Bolsonaro.
Como Bolsonaro está inelegível e não poderá ser candidato, a alta rejeição de Lula, em tese, poderia ajudar algum candidato alinhado de Bolsonaro? Se o ex-presidente apoiar algum membro de sua família, a resposta é, inicialmente, negativa uma vez que parece estar havendo uma transferência de rejeição de Bolsonaro para seus familiares. A rejeição de Michelle Bolsonaro está em 51% e a de Eduardo Bolsonaro 55%. A média de rejeição de Lula, Bolsonaro e seus familiares é de 54,5%.
Uma parte significativa do eleitorado parece estar indicando para o bolsonarismo que não aceita a substituição de Bolsonaro por algum membro de sua família. Seria uma estratégia política semelhante àquela utilizada pelo personagem Tangredi no livro O Leopardo, de Lampedusa, que se resume na seguinte máxima: “mudar para que tudo continue como está”. A alta rejeição de Michelle e de Eduardo Bolsonaro é um forte indicador neste sentido.
A rejeição de qualquer um dos outros candidatos testados na pesquisa é bem menor do que a de Lula, Bolsonaro ou seus familiares: 33% rejeitam Tarcísio de Freitas, 31% Eduardo Leite, 29% Ratinho Júnior, 25% Ronaldo Caiado e 22% Romeu Zema. Média de rejeição – 28%.
Os dados indicam que a população está cansada de Lula e de Bolsonaro e deseja conhecer lideranças alternativas. Contudo, este cansaço não quer dizer que o lulismo e o bolsonarismo deixaram de ser as principais forças políticas no Brasil, e nem que, mesmo com grande rejeição, Lula ou Bolsonaro não sejam eleitoralmente competitivos. Mas está claro que a renovação é um ativo que a população desejaria ter como opção na prateleira da eleição de 2026.
A partir deste conjunto de considerações, é legítimo pensar que o eleitor se cansou do lulismo e do bolsonarismo e da rivalidade entre estes dois polos políticos? E que a eleição presidencial de 2026 será marcada por outras clivagens?
Parece ainda precipitado fazer tal afirmativa. Afinal, Lula, um dos lados da polarização, deve ser candidato (e o antipetismo seguirá como um elemento central na composição da decisão de boa parte do eleitorado). No outro campo, qualquer candidato que se lançar, seja um familiar de Bolsonaro ou um governador de um partido de centro-direita, não poderá prescindir do apoio de Bolsonaro (independente do que o STF vier a decidir no processo sobre a eventual tentativa de golpe de estado). Não parece haver espaço para um candidato independente, uma terceira via pura, que não esteja, de alguma forma, ou ligado ao petismo/lulismo ou ao bolsonarismo.
Pode-se concluir que a sombra da polarização está cada vez mais fraca e o eleitor cada vez revela mais desgaste com essa rivalidade, mas parece que ela ainda vai assombrar o pleito de 2026.
(*) RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política.
Autor de “Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais”; “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” e dos e-books “A falha na distribuição da comunicação”; “O eleitor subconectadoe a realidade do marketing eleitoral no Brasil”; “Marketing Governamental”; “Novas estratégias eleitorais para um novo ambiente político” e “DataMídiaPerformance”.
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