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Artigos Sexta-feira, 07 de Agosto de 2020, 09:29 - A | A

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Sexta-feira, 07 de Agosto de 2020, 09h:29 - A | A

NEILA BARRETO

José de Paula: um artesão da arte

NEILA BARRETO

Reprodução

Neila Barreto

José Correia de Paula é cuiabano de “tchapa e cruz” como gostava de dizer, nascido em 1943, filho de Otacílio e dona Ermelinda Corrêa de Paula que desde pequeno o incentivara para as suas habilidades artísticas, além de uma amiga que morava próximo a sua casa, uma espécie de ajudante, que o levava para assistir aos desfiles carnavalescos do bloco do “Zé Maria”, no bairro Terceiro, às margens do rio Cuiabá, o qual foi demolido pelas enchentes de 1974, em Cuiabá. Toda aquela festa foi paixão à primeira vista. Foi um verdadeiro artesão do carnaval, como gostava de ser conhecido e reconhecido.

O carnavalesco “Zé Maria”, na verdade era José Maria de Moraes, nascido em Santo Antônio de Leverger-MT. Carnavalesco, nascido a 17 de dezembro de 1925 e falecido a 29 de maio de 2001. Fundador da Escola de Samba Coração da Mocidade, do ex-bairro Grande Terceiro, em Cuiabá-MT, no qual “Zé de Paula” se inspirou para a sua vida toda.

Conheci “ Zé de Paula” quando trabalhei na secretaria municipal de turismo de Cuiabá. Lá ele restaurou a sala das devoções, dos santos e altares, no Museu do Rio “Hid Alfredo Scaff”, criada na gestão do Ex prefeito Roberto França e, desmontada desde a gestão municipal de Mauro Mendes e, não restaurada na atual gestão. Os altares e santos foram trazidos para uma sala no Clube Feminino. Hoje para o museu as relíquias, ainda, não retornaram ao local. Será porquê? A população cuiabana é tão devota dos santos festeiros e, hoje privados da sua visitação.

“ José de Paula era engenheiro agrônomo de profissão formado pela Faculdade de Agronomia, de Belém, no Pará, em 1968. Após a formatura retornou a Cuiabá e passou a exercer a profissão no Ministério da Agricultura, onde aposentou-se, porém, a fascinação pelo carnaval foi maior. Em 1967, aos 24 anos de idade, aconteceu seu primeiro desfile no carnaval na Escola de Samba “Deixa Cair” na capital e, a partir daí, passou a vida inteira se dedicando as festas e festejos populares, além da sua paixão pela folia carnavalesca, onde mais de 50 foram dedicados ao carnaval mato-grossense, criando milhares de fantasias para as escolas de samba e blocos de rua. Na Escola de Samba “Deixa Cair” permaneceu por seis anos, entre os anos de 1968 a 1973. Depois migrou para a escola de samba “Estrela do Oriente”, da carnavalesca Ana Tereza, no bairro Araés, também, na capital, que vivenciou por 18 anos.

A jornalista Gabriele Schimanoski, em 2016, deixou registrado em site de Cuiabá que, “Zé de Paula “passou como carnavalesco pelos Caprichosos do Terceiro e, entre 2002 e 2003, a escolhida foi a Unidos do Morrinho, escola de Santo Antônio do Leverger-MT, a 35 km de Cuiabá. Entre os trabalhos que mais marcaram a carreira de “Zé Paula” está o samba enredo de 1979, que teve como tema “Visita do Rei do Maracatu ao Reino de Nagô”. Para entrar no tema, o artesão de carnaval contou que visitou 27 candomblés em Cuiabá, com o objetivo de pesquisa, conhecimento e aprimoramento dos seus projetos

Para Schimanoski, “ Zé de Paula” deixou perpetuado nos carnavais cuiabanos, a sua beleza física e o seu talento pessoal quando disse que: “ eu desfilei quase nu. Minha fantasia era Oxumaré, entrei na avenida com apenas um tapa sexo, um arco-íris na cabeça e uma cobra. Imagine isso em 1979, aquilo foi um escândalo. No dia seguinte estava em todas as capas de jornais. E o mais interessante, quem me levou no carro na avenida foi meu pai”, contou à época. Quanta satisfação em ter o pai como parceiro, numa época em que poucos entendiam a sua profissão e o seu talento!

“ Fui o primeiro modelo negro do Brasil”, declarou à imprensa Zé de Paula uma vez. Morou 8 anos em São Paulo-SP, fez trabalhos na Europa. Ousou, estudou, rompeu preconceitos. Voltou para Cuiabá e foi convidado para desfilar como destaque no carnaval, numa fantasia de “Rei Zulu”, no Coração da Mocidade, do qual fazia parte os mais importantes cordões da época e no grupo formado, ainda, por nomes como “Estrela D'Alva” e “Estrela do Oriente”, até 1993. Belas memórias do carnaval mato-grossense! Após, permaneceu até 2001 na Caprichosos do Grande Terceiro e, entre os anos de 2002 e 2003, permaneceu na Unidos do Morrinho, escola de Santo Antônio do Leverger.

Um fervoroso defensor nas artes regionais, “ Zé de Paula” perpassou pelo siriri, cururu, pelos resplandecentes carnavais de Santo Antônio de Leverger, pelo saudoso Bode de Karuá, de Chapada dos Guimarães e, sempre afirmou que, o carnaval de Mato Grosso não deixava a desejar para os grandes centros como o Rio de Janeiro e São Paulo.

Francisco das Chagas, da página Cuiabá de Antigamente, informou que “Zé de Paula” foi o primeiro modelo homem de Cuiabá. Abriu o mercado para os demais que vieram depois dele. Desfilou até para Denner. Fazia desfiles nos transatlânticos. O maior carnavalesco e criador de figurinos e de grandes peças de teatro. Faleceu esquecido pela sociedade, informou Chagas.

Figurinista cultural popular de grupos folclóricos e carnaval, cenógrafo, costureiro, produtor de manifestação popular, diretor administrativo do Museu do Rio “Hid Alfredo Scaff”, carnavalesco, coordenador e avaliador de festival mato-grossense de cururu e siriri, contribuiu fortemente com o teatro, o siriri, o cururu e o carnaval, desde a segunda metade do século XX até os dias atuais. Presidente da Federação Mato-grossense de Cururu e Siriri. Coordenador da Federação de Mato Grosso representando a cultura mato-grossense onde representava, a tradição do cururu e do siriri, com responsabilidade e dedicação. Vice-presidente da federação de cururu e siriri.

Foi carnavalesco do inesquecível “Urubu Cheiroso”, do bairro Araés, nos anos de 1990 tendo como Presidente e fundador o professor Severino Pereira Costa (Nino), já falecido, onde deu muitas vitórias e alegrias ao Urubu Cheiroso. 

Herdou da sua mãe a arte de costurar. A arte de coser fios e vidas. A arte de ousar, romper, realizar. A arte de se dedicar a sua terra e a sua gente. Antigamente as moças e rapazes primavam em fantasias, cada uma mais linda do que a outra. Lembramos, a propósito, as famosas costureiras e costureiros: Erci Addor, Zezita Réche, Maria Vieira, Lucy Spinelli, Zé de Paula, Nego, Pepito, João Cabral, Nafia e Maci, em sua criatividade para brilhar nos salões da elite cuiabana nos festejos de Momo.

Faleceu em Cuiabá, em 05 de agosto de 2020, esquecido pelos grandes dirigentes dos carnavais e pela população da sua terra natal, sozinho e poucos amigos. É a vida. Assim foi com Cesário, Gege, Henry Montgomery e outros.

 

(*) NEILA BARRETO é jornalista, escritora, historiadora e Mestre em História e escreve às sextas-feiras para HiperNotíciasE-mail: [email protected]

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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