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Artigos Segunda-feira, 15 de Abril de 2024, 09:11 - A | A

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Segunda-feira, 15 de Abril de 2024, 09h:11 - A | A

ROSANA DE BARROS

Cama de Gato da Michelle

ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS

Reprodução

Rosana Barros

 

Recebi de presente do Ministério Público do Estado de Mato Grosso, através do Dr. Tiago e Dra. Claire, pela participação na linda campanha “#JuntosPorElas”, o livro “Cama de Gato?!”, das autoras Michelle Diehl e Cristina Soares. 

Cama de gato é uma inteligente brincadeira, principalmente da década de 80, onde, através de fios de barbante, constrói-se formas que passam de mãos em mãos. A finalidade do divertimento é almejar passar o barbante para outras mãos, mudando a forma, mas com o propósito de recuperar o formato de “X”. O verbete, cama de gato, também pode ser entendido como armar uma cilada para outrem. Já no futebol, se perfaz em derrubar o jogador flexionando as costas por baixo, o tirando do contato com o chão. Mas, também já serviu outrora para indicar um local agradável próximo à brasa, onde os gatos gostavam de permanecer. 

Entretanto, no livro citado, é possível a leitura da prazerosa autobiografia da artista plástica e jornalista Michelle Diehl. Nele, sem qualquer filtro, as autoras discorrem sobre as dores e delícias vivenciadas pela protagonista. Vício, transtorno, amores, família, luto, televisão, e traumas, fazem das informações muitas lições de vida.  

Michelle conta que no período pandêmico, de muitas descobertas e perdas, inclusive do seu amado pai, se descobriu nas artes plásticas. Começou observando a filha Rafaela se divertindo ao pintar. Assim, em busca daquela alegria infantil, e pelo amor aos felinos, passou a desenhar e pintar em telas. Os gatos são as suas inspirações primeiras, representando as pessoas excluídas socialmente. Segundo ela, a paixão pela pintura a óleo foi tão “fulminante” que se tornou uma contumaz produtora de quadros. Todas as telas trazidas pelo marido a ela, e que não eram poucas, logo tomaram formas de arte. Diagnosticada com bipolaridade, precisava “matar” o tempo da pandemia da COVID-19, e enxergava na pintura a sua tarefa e, de outro lado, extremo deleite. Após ter pintado uma enormidade de telas, as revendo com a finalidade de corrigir pequenas falhas, teve o “start” de as preencher com pequeninas bolinhas coloridas. Com as bolinhas, passou a retrabalhar novamente as telas, já que sentiu que “as bolas começaram a saltar sobre os gatos; pareciam que tinham vida própria”. 

As bolinhas coloridas, na autobiografia citada, representam a saída encontrada para a resolução de problemas. A bem da verdade, na tentativa de solucionar questões, a artista imprimiu a sua marca: gatos e bolinhas coloridas. Mulheres assim o são: se transformam e se constroem a cada baque. 

Lindamente, a autora conta sobre as mulheres da sua vida: a mãe, a sogra e a filha. Diz que essas o são inspirações pela força, poder, independência e superação. Tem, ainda, em outras tantas célebres mulheres o entusiasmo de criar artes que contam o que elas fazem e significam para o mundo.

Tive o imenso prazer de estar junto à amiga Michelle em sua primeira exposição artística: Meus Gatos. Por lá circularam artisticamente os gatos, gatas e bolinhas coloridas. Ladeada por sua “mamá” em tempo integral, foi contagiante ver a respectiva alegria em poder contar histórias em telas.

Tenho gigantesco carinho por biografias! Elas retratam onde as pessoas erraram e acertaram na vida. Ditou Confúcio: “A palavra convence, mas o exemplo arrasta”. 

Em “Cama de Gato?!”, Michelle humildemente tratou de algo bastante temido socialmente: o transtorno da bipolaridade. Disse como lida em sua vida, como se tratou e se trata, mostrando que tem muito a contribuir, até contando minuciosamente essa dor. Cristina Soares, historiadora e em coautoria, certamente trouxe a parceria inconteste. Cada capítulo da obra é iniciado com reflexivos poemas de Ariel Von Ocker. 

Infelizmente, é assim que me sinto quando termino a leitura de obras que aprecio, terminei... Desejo que as mulheres sejam fortes e tenham os reflexos felinos, encontrando as saídas para os problemas tal como as bolinhas coloridas descobertas pela Michelle.  

(*) ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual e mestra em Sociologia pela UFMT. 

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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