Recebi de presente do Ministério Público do Estado de Mato Grosso, através do Dr. Tiago e Dra. Claire, pela participação na linda campanha “#JuntosPorElas”, o livro “Cama de Gato?!”, das autoras Michelle Diehl e Cristina Soares.
Cama de gato é uma inteligente brincadeira, principalmente da década de 80, onde, através de fios de barbante, constrói-se formas que passam de mãos em mãos. A finalidade do divertimento é almejar passar o barbante para outras mãos, mudando a forma, mas com o propósito de recuperar o formato de “X”. O verbete, cama de gato, também pode ser entendido como armar uma cilada para outrem. Já no futebol, se perfaz em derrubar o jogador flexionando as costas por baixo, o tirando do contato com o chão. Mas, também já serviu outrora para indicar um local agradável próximo à brasa, onde os gatos gostavam de permanecer.
Entretanto, no livro citado, é possível a leitura da prazerosa autobiografia da artista plástica e jornalista Michelle Diehl. Nele, sem qualquer filtro, as autoras discorrem sobre as dores e delícias vivenciadas pela protagonista. Vício, transtorno, amores, família, luto, televisão, e traumas, fazem das informações muitas lições de vida.
Michelle conta que no período pandêmico, de muitas descobertas e perdas, inclusive do seu amado pai, se descobriu nas artes plásticas. Começou observando a filha Rafaela se divertindo ao pintar. Assim, em busca daquela alegria infantil, e pelo amor aos felinos, passou a desenhar e pintar em telas. Os gatos são as suas inspirações primeiras, representando as pessoas excluídas socialmente. Segundo ela, a paixão pela pintura a óleo foi tão “fulminante” que se tornou uma contumaz produtora de quadros. Todas as telas trazidas pelo marido a ela, e que não eram poucas, logo tomaram formas de arte. Diagnosticada com bipolaridade, precisava “matar” o tempo da pandemia da COVID-19, e enxergava na pintura a sua tarefa e, de outro lado, extremo deleite. Após ter pintado uma enormidade de telas, as revendo com a finalidade de corrigir pequenas falhas, teve o “start” de as preencher com pequeninas bolinhas coloridas. Com as bolinhas, passou a retrabalhar novamente as telas, já que sentiu que “as bolas começaram a saltar sobre os gatos; pareciam que tinham vida própria”.
As bolinhas coloridas, na autobiografia citada, representam a saída encontrada para a resolução de problemas. A bem da verdade, na tentativa de solucionar questões, a artista imprimiu a sua marca: gatos e bolinhas coloridas. Mulheres assim o são: se transformam e se constroem a cada baque.
Lindamente, a autora conta sobre as mulheres da sua vida: a mãe, a sogra e a filha. Diz que essas o são inspirações pela força, poder, independência e superação. Tem, ainda, em outras tantas célebres mulheres o entusiasmo de criar artes que contam o que elas fazem e significam para o mundo.
Tive o imenso prazer de estar junto à amiga Michelle em sua primeira exposição artística: Meus Gatos. Por lá circularam artisticamente os gatos, gatas e bolinhas coloridas. Ladeada por sua “mamá” em tempo integral, foi contagiante ver a respectiva alegria em poder contar histórias em telas.
Tenho gigantesco carinho por biografias! Elas retratam onde as pessoas erraram e acertaram na vida. Ditou Confúcio: “A palavra convence, mas o exemplo arrasta”.
Em “Cama de Gato?!”, Michelle humildemente tratou de algo bastante temido socialmente: o transtorno da bipolaridade. Disse como lida em sua vida, como se tratou e se trata, mostrando que tem muito a contribuir, até contando minuciosamente essa dor. Cristina Soares, historiadora e em coautoria, certamente trouxe a parceria inconteste. Cada capítulo da obra é iniciado com reflexivos poemas de Ariel Von Ocker.
Infelizmente, é assim que me sinto quando termino a leitura de obras que aprecio, terminei... Desejo que as mulheres sejam fortes e tenham os reflexos felinos, encontrando as saídas para os problemas tal como as bolinhas coloridas descobertas pela Michelle.
(*) ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual e mestra em Sociologia pela UFMT.
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