A mãe suficientemente boa

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Na hora do parto, quando o filho Vero* nasceu, Quimera* foi invadida por um instinto maternal. É o bebê que ela imaginava. Perfeito. Dorme a noite toda, está sempre sorridente e não tem cólicas. Ela sempre tem tempo para ela mesma e passa o dia todo com ele. Ela não grita muito menos vacila. Sempre sabe o que fazer. Até cozinhar iguarias para um momento do casal, ela faz. E sente um cheiro de cocô explosivo...

Vem da mão toda suja do barro da fralda do filho. Com olheiras e cabelos desgrenhados, ela acorda da maternidade ideal. Na experiência real, ela não sentiu amor imediato por Vero* e teve dificuldades na amamentação. Ainda assim, encontrou ânimo para voltar a trabalhar mais de 40 horas semanais, sem a obrigatória licença à maternidade. E já pensa em como irá suportar a frustração da separação do filho quando ele for independente e sair de casa. Recorda disso, enquanto tira todas as fezes do bebê e coloca ele na banheira.

Por mais extraordinária que a mãe seja, ela é um ser humano, sujeito a erros e acertos e faz o melhor que pode. Seja por influência do instinto materno, da história familiar, da cultura, do médico, seja atualmente, também, do grupo de mães e mídias sociais. Ela, igualmente, tem expectativas, sentimentos e necessidades.

Só que muitos filhos ainda não têm noção do quanto a mulher, que ouviram a primeira voz desde a primeira vez que o som se fez, como cantarola Ceumar na música mãe, teve que abrir mão de alguns aspectos da vida que tinha para acolher a nova vida. E a critica: Minha mãe nunca estava em casa. Minha mãe me sufoca. Minha mãe é neurótica. Minha mãe é narcisista. Minha mãe não gosta de mim. Minha mãe é vingativa. Minha mãe é deprimida. Minha mãe é perfeita em tudo que faz.

Não existe mãe perfeita nem filho perfeito. E sim, conforme a expressão apontada pelo pediatra e psicanalista inglês Donald Woods Winnicott, a mãe perfeitamente imperfeita e suficientemente boa e o filho suficientemente bom. Ou seja, a mãe faz o que está ao seu alcance e o filho idem. Também, para cada filho há a mãe certa e a que ele precisa e vice-versa.

A mãe nos deu a vida primeiro, o que a torna grande e os filhos pequenos. Sem ela não estaríamos aqui. Não cabe a nós criticá-la, seja qual for o comportamento dela. Bert Hellinger, desenvolvedor da constelação sistêmica, sempre destacou a grande importância da mãe. Ele estabeleceu a seguinte ordem fundamental da vida: os pais dão a vida e os filhos a recebem. Para ele, reclamar da mãe é como rejeitar uma parte de nós. Quem honra a mãe e o pai tem a base para o sucesso, felicidade e bem-estar e se poupa de muitos problemas que surgem por tê-la transgredido.

A constelação familiar auxilia a mulher a se libertar da expectativa da maternidade ideal e aceitar que não precisa ser perfeita para ser boa mãe. Somado a isso, essa terapia é uma ferramenta útil para os filhos abrirem mão do julgamento moral e cobranças sobre a genitora e das consequências disso. E ainda, facilita a transformar os desafios vivenciados em experiências para o próprio crescimento.

Os filhos precisam de mãe humana, perfeitamente imperfeita. Como diria Caetano Veloso na canção todo homem precisa de uma mãe.

Aproveito a oportunidade para honrar a mãe que escolhi para viver esta experiência física, a suficientemente boa e certa a mim e ser grata por me dar a vida, por todo cuidado, atenção, presentes, conselhos que me oferece e comida saborosa feita com todo amor! Mami preciosa, Maria Auxiliadora, eu te amo mais que Maria Izabel e farofa de banana! Farei o que posso para fazer o seu dia das mães especial.

À todas as mulheres que abriram o canal da vida pelo sangue ou pelo coração, desejo neste domingo próximo um Feliz dia das mães!

(*) BRUNA BERTHOLDO é Advogada e Terapeuta facilitadora em Constelação Familiar de bonecos, e escreve para HiperNotícias às terças-feiras. Instagram: brunabertholdocf. E-mail: [email protected]

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