A liberdade, em sua face mais complexa, é tanto um dom quanto um fardo, e poucos pensadores abordaram com tamanha profundidade essa dualidade quanto Kierkegaard. A liberdade, em sua face mais complexa, é tanto um dom quanto um fardo, e poucos pensadores abordaram com tamanha profundidade essa dualidade quanto Kierkegaard.
Considerado um dos precursores do existencialismo, o filósofo dinamarquês vê a liberdade não como um estado de realização plena, mas como uma condição que inevitavelmente conduz o ser humano à angústia e ao medo. Para Kierkegaard, a liberdade é o que define a existência humana, mas ela nos coloca diante de um abismo de incertezas, exigindo decisões constantes e, ao mesmo tempo, a responsabilidade por essas escolhas.
No pensamento do Pe. Sertillanges, resumindo a responsabilidade moral de se estar no mundo, na própria obrigação de ganhar a vida, a pessoa deve ganhá-la ao menos sem sacrificar, como acontece tantas vezes, a liberdade de sua alma.
De volta a Kierkegaard, ele descreve a liberdade como a condição fundamental do ser humano, que consiste em sua capacidade de escolher, agir e se transformar. Essa liberdade é inseparável da consciência e da individualidade. O ser humano não é determinado por forças externas ou por uma essência imutável, mas é "condenado a escolher" – e essa escolha abre um leque de possibilidades.
A liberdade está intrinsecamente ligada ao conceito de "possibilidade infinita". Em suas obras, especialmente em O Conceito de Angústia, Kierkegaard explora a ideia de que a liberdade humana, ao não ser limitada, confronta o indivíduo com uma série de opções que exigem uma escolha autêntica e consciente.
Sartre vaticina: “estamos condenados à liberdade”. Aqui, vontade, escolha e responsabilidade é a sentença diária que se sujeita quem habita este o mundo: “não somos aquilo que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós”.
Essa possibilidade infinita, no entanto, não traz apenas alegria, mas gera uma sensação de vertigem. Kierkegaard compara a liberdade a um "abismo" no qual o ser humano é lançado. Ao perceber que cada escolha abre e fecha caminhos, o indivíduo é tomado por um medo profundo de errar, e isso traz "angústia", mas não como um simples medo de algo específico, mas o sentimento de incerteza na percepção de seres responsáveis pelas próprias vidas, à beira de selar destinos.
E qual seria o resultado prático disso? Como não suportam o peso das decisões, os seres humanos buscam formas de evitar o enfrentamento da liberdade, recorrendo a sistemas de crenças, normas sociais ou comportamentos automáticos. Esses comportamentos, segundo Kierkegaard, refletem o "medo de ser", uma aversão à responsabilidade que vem com a autonomia. É desesperador.
Quando se tenta evitar a angústia da liberdade, acaba-se caindo em uma vida de conformismo e de alienação. O desespero, nesse sentido, não é um estado de tristeza, mas uma recusa a aceitar a própria liberdade e responsabilidade, o que, para Kierkegaard, leva qualquer indivíduo a viver de acordo com valores e expectativas que não são realmente seu, afastando-se de sua verdadeira essência. Uma "cópia" de outros, invés de ser um "original".
Uma solução para se lidar com essa angústia, seria o denominado “salto de fé”, em que a pessoa se relaciona melhor com a alteridade e, também, com o transcendente, enfrentando o “nada”, próprio da condição humana. A liberdade, portanto, consiste na “justa medida” (Platão). Caminhos abraçados, escolhas que não voltam, eis a sentença implacável que tanto angustia.
É por aí...
(*) GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO tem formação em Filosofia, Sociologia e Direito. Autor do livro de Filosofia “É por aí...”.
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