As fotografias do ditador Muammar Gaddafi, morto e sob a mira de dezenas de celulares com câmeras fotográficas, dão uma boa ideia do descontrole que pode tomar a Líbia daqui para frente. É o que afirma o cientista político Heni Ozi Cukier, professor de Relações Internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) de São Paulo, que tem perspectivas pouco otimistas para o futuro do país. Ele prevê tempos difíceis para a Líbia pós-Gaddafi e mais violência em outros países da Primavera Árabe.
Para o especialista, a transição para um regime democrático será ainda mais complicada em um país como a Líbia. O país é dividido em mais de 140 grupos tribais, e o CNT (Conselho Nacional de Transição, órgão político dos rebeldes) parece não ter uma identidade bem definida.
- Não existe liderança, proposta ou propósito político [no CNT]. Eles não nasceram com uma ideia de governo ou uma ideologia, nasceram da insatisfação e para derrubar um ditador. O que os unia era o Gaddafi, e a morte dele vai trazer à tona essas diferenças mascaradas.
Coker compara a queda de Gaddafi à forma como foi capturado o iraquiano Saddam Hussein, preso em 2003 de maneira similar ao ditador líbio: dentro de um buraco, humilhado. A diferença, diz Coker, é que Saddam Hussein foi à julgamento. Já Gaddafi não teve a mesma sorte, e terminou assassinado em circunstâncias ainda não esclarecidas pelos rebeldes.
- Gaddafi foi morto e arrastado pelas ruas, isso mostra o nível de descontrole do CNT em relação às suas próprias milícias. Vai ser muito difícil desarmar essa população e ninguém pode prever o futuro do país. São elementos que indicam a possibilidade de uma guerra civil.
E se o futuro da Líbia promete mais violência e incertezas, as perspectivas para este fim de ano na Primavera Árabe também não são muito agradáveis, diz Heni Ozi Coker. Para ele a morte de Gaddafi deve inflamar ainda mais as revoluções que seguem em curso em países como o Iêmen e principalmente a Síria.
De acordo com Coker, o impacto das imagens da morte de Gaddafi devem tirar o sono de outros ditadores do mundo árabe, como o presidente sírio Bashar al Assad.
- Nesse momento Assad deve estar pensando em como evitar a mesma situação. Ditadores como ele vão olhar para isso [a morte de Gaddafi] e dizer “eu não quero ser o próximo!”. Vai haver mais violência.
Coker crê que os protestos na Síria vão se fortalecer a partir das notícias vindas da Líbia. Para ele, a morte de Gaddafi dá esperança para a população local colocar um ponto final no governo de Assad. Mas ao que tudo indica, o presidente sírio não vai abrir mão do poder. Para o cientista político, o horizonte promete mais repressão e violência para evitar que a Primavera Árabe derrube um quarto ditador antes do fim do ano.
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