A influencer Michelle Zavodini é acusada de se beneficiar irregularmente do Programa Nacional de Reforma Agrária em Mato Grosso. Também são apontados pela mesma irregularidade uma servidora pública e um fazendeiro. A inclusão dos três em um assentamento vinculado ao Projeto de Assentamento Tapurah/Itanhangá (a cerca de 450 km de Cuiabá), é alvo de denúncia que questiona a destinação de terras públicas e os critérios de seleção do programa.
A Assoplan (Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Planalto) denunciou o caso à DPU (Defensoria Pública da União) e ao MPF (Ministério Público Federal), alegando que Michelle Zavodini não se encaixa nos critérios socioeconômicos do programa.
A entidade, que representa 70 famílias sem-terra na região, destaca que o estilo de vida ostentado pela influencer nas redes sociais contrasta com o perfil dos beneficiários da reforma agrária.
Michelle Zavodini exibe uma vida de luxo nas redes sociais, posando para fotos com lanchas, aviões particulares e viagens. Ela é natural do interior do Paraná, e se mudou para Mato Grosso, em 2018, para trabalhar no escritório do irmão, Leandro Zavodini.
Leandro é produtor rural e proprietário da Agrícola Maripá, com sede em Lucas do Rio Verde (a 300 km de Cuiabá). Depois disso, Michele abriu uma escola infantil, que foi fechada durante a pandemia, e se tornou influencer.
A denúncia, obtida pela Repórter Brasil, aponta que, além da influencer, também foram incluídos no cadastro de beneficiários do assentamento Tapurah/Itanhangá em 27 de dezembro de 2024, um fazendeiro e uma servidora pública.
O fazendeiro é Alex Stein Fortes, ele já foi processado pelo próprio Incra, por suspeita de posse irregular de lote no assentamento, desmatamento e contratos simulados.
A servidora da Defensoria Pública do Estado do Mato Grosso em Tangará da Serra (a 240 km de Cuiabá), é Karen Larissa Torres. Ela não reside no assentamento, mas sua família ocupa um lote há anos. Pelo cargo no serviço público ela recebe um salário de cerca de R$ 9 mil. A legislação veta a participação de servidores públicos em programas de reforma agrária.
Outro lado
Michelle Zavodini afirmou ao Repórter Brasil, não ter conhecimento da denúncia e não quis se pronunciar. Seu irmão, Leandro Zavodini, não respondeu aos questionamentos. Karen Larissa Torres disse desconhecer a denúncia e negou residir no assentamento. O advogado de Alex Stein Fortes declarou que não comenta processos judiciais em andamento.
A Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso informou que abrirá um procedimento interno para apurar o caso envolvendo a servidora Karen Torres.
O Incra informou que os cadastros da influencer e do fazendeiro estão bloqueados e podem ser excluídos, mas o da servidora pública permanece ativo. Segundo o órgão, nenhum dos três chegou a receber benefícios como linhas de financiamento, e o contrato de concessão de uso da terra não foi emitido. No entanto, os lotes seguem vinculados a eles, impedindo a distribuição para outros beneficiários.
Disputa por terras
O assentamento Tapurah/Itanhangá, criado em 1995, deveria beneficiar mais de mil famílias em uma área equivalente ao município do Rio de Janeiro. No entanto, ao longo dos anos, as terras foram alvo de grilagem e ocupadas por grandes produtores de soja.
Documentos do MPF e da Polícia Federal revelam que centenas de lotes foram transferidos irregularmente para grupos familiares e fazendeiros, com denúncias de ameaças, contratos ilegais e uso de laranjas.
Em 2023, a Justiça Federal determinou a retomada de 170 lotes, mas a posse ainda é disputada judicialmente.
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