Com máxima a R$ 5,5949 pela manhã, o dólar à vista fechou cotado a R$ 5,5619 (+0,07%), passando a acumular valorização de 2,35% em julho. As perdas da moeda americana no ano, que chegaram a superar 12% no início deste mês, quando a taxa de câmbio tocou R$ 5,40, agora são de 10%.
Operadores também citaram a melhora da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas últimas rodadas de pesquisas eleitorais, reforçada hoje por levantamento da Genial/Quaest, como um dos fatores para a recuperação do dólar em relação ao real.
Ontem à noite, o Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR, na sigla em inglês) abriu investigação sobre supostas práticas comerciais desleais do Brasil, sinalizando dificuldade nas negociações em torno das tarifas de 50% que os americanos prometem impor a produtos brasileiros a partir de 1º de agosto.
A leitura é a de que o tarifaço do presidente americano, Donald Trump, que hoje voltou a elogiar o ex-presidente Jair Bolsonaro, favorece Lula e reduz as chances de um candidato à direita do espectro político, em tese mais comprometido com a austeridade fiscal, vencer o pleito em 2026.
Segundo o estrategista-chefe da EPS Investimentos, Luciano Rostagno, o comportamento do dólar no mercado local reflete o aumento das tensões comerciais entre Estados Unidos e Brasil. Ele vê também certa cautela em relação ao quadro fiscal, diante das expectativas pela decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre o aumento de alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pleiteado pelo governo, mas derrubado pelo Congresso por decreto legislativo.
"Temos também a melhora na popularidade do Lula, que eleva a percepção de risco fiscal, especialmente após a eleição de 2026", afirma Rostagno, acrescentando que o dólar já se desvalorizou bastante em julho, "corrigindo" parcialmente o movimento dos últimos meses. "De certa forma, a postura do governo brasileiro de buscar o diálogo com os Estados Unidos, em vez de partir para o confronto, evita uma desvalorização maior do real".
O governo brasileiro enviou carta ao americano, segundo informou hoje o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), em que critica a tarifa de 50%, mas reafirma o compromisso com o diálogo, buscado pelo Brasil desde maio.
No início da tarde, a divisa desceu até a mínima de R$ 5,5569, na esteira do aprofundamento das perdas da moeda americana no exterior, após notícia do The New York Times de que Trump teria apresentado um rascunho do que seria uma carta de demissão de Powell, cujo mandato termina em maio de 2025.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas, o Dollar Index (DXY) já vinha em queda e despencou, furando o piso dos 98,000 pontos, com mínima a 97,714 pontos. O DXY reduziu as perdas em seguida, com o desmentido de Trump.
Apesar de tecer novas críticas a Powell, a quem classificou de "terrível", o presidente dos EUA disse que não planeja demiti-lo, embora tenha conversado com republicanos sobre o tema. "A menos que haja fraude na reforma, não vamos demitir Powell", disse Trump, em referência à reforma na sede do Fed.
Divulgado pela manhã, o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) e seu núcleo permaneceram estáveis em junho ante maio, diante de expectativa de ligeiro avanço, e registraram alta menor que a esperada na comparação anual. Economistas avaliam que os efeitos das tarifas ainda vão se materializar na inflação, o que justificaria postura cautelosa do Fed, embora dirigentes da instituição já tenham sinalizado possibilidade de corte de juros neste mês.
"O Fed parece estar procurando ganhar tempo para ter sinais mais claros de para onde a economia americana está caminhando. É muito difícil avaliar qual vai ser o resultado dessa postura errática do governo Trump sobre a inflação e atividade", afirma Rostagno, da EPS Investimentos.
(Com Agência Estado)
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