O dia foi de perdas bem distribuídas pelas ações de primeira linha, de maior peso e liquidez no Ibovespa. Apenas 16 dos 84 componentes do índice conseguiram fechar no campo positivo, tendo Pão de Açúcar (+1,45%), Petz (+1,00%) e Vibra (+0,74%) à frente. No lado oposto, WEG (-4,68%), Embraer (-3,89%), Cyrela (-3,86%), Magazine Luiza (-3,33%) e Direcional (-3,32%) - assim como ontem, um conjunto de nomes exposto ao ciclo doméstico, como são as ações dos setores de varejo e construção.
Entre as blue chips, a principal ação da carteira, Vale ON, caiu 1,55% após uma série positiva em que havia se conectado ao noticiário positivo da China, especialmente o anúncio da construção de uma grande hidrelétrica no país. No grupo das maiores instituições financeiras, as perdas desta quinta-feira ficaram entre 0,45% (Santander Unit) e 1,26% (Bradesco PN). Petrobras ON e PN, por sua vez, tiveram variação de +0,11% (ON) e de -0,16% (PN) no fechamento.
"O dia 1º de agosto está se aproximando e o mês de julho tem feito a Bolsa brasileira se descolar, para pior, de outros mercados emergentes se considerarmos os diferentes ETFs, o que facilita a comparação em dólar", diz Naio Ino, gestor de renda variável da Western Asset. Julho, de fato, tem visto uma reversão de sinal do fluxo estrangeiro para a B3 - especialmente após o dia 9, com a sobretaxa de 50% anunciada pelo governo Trump a produtos brasileiros.
No acumulado do ano, o fluxo de capital externo ainda está positivo em R$ 21,454 bilhões. Mas no mês, até o dia 22, conforme os dados mais recentes disponíveis na B3, a retirada líquida de recursos estrangeiros da Bolsa se aproxima agora de R$ 5 bilhões (-R$ 4,995 bilhões).
A inserção de uma componente política doméstica, para além de questões de natureza comercial, torna o cenário de curto prazo ainda mais volátil e incerto. Trump é conhecido pelo comportamento "errático" - o que não tira da mesa a chance de um recuo de última hora, observa o gestor. Mas o que se tem desenhado para o próximo dia 1º vai ficando mais definido à medida que acordos entre Estados Unidos e parceiros como Japão e, possivelmente, União Europeia vão se desenhando, acrescenta Ino, sem que as portas para uma negociação bilateral com o Brasil sejam abertas.
Nesse contexto, de forma geral, diz o gestor, o que se tem visto é uma redução de exposição ao Brasil, na medida em que a componente externa - o comércio e restrições impostas ao Brasil - tem impacto muito maior sobre as considerações do investidor estrangeiro do que questões locais, como a situação fiscal e o impasse em torno de aspectos como o aumento do IOF. "O estrangeiro faz comparação entre pares e acaba optando por outros emergentes", avaliando caso a caso, aponta Ino.
"Com a iminente taxação de 50% dos EUA sobre o Brasil, uma medida que envolve mais questões políticas do que comerciais, o risco de manter posições na Bolsa brasileira aumenta consideravelmente", reforça Anderson Silva, head da mesa de renda variável e sócio da GT Capital. Segundo ele, a situação atual tem levado investidores que carregam posição há mais tempo a iniciar movimentos de realização de lucros, "inclusive com o objetivo de fazer caixa para eventuais oportunidades, caso ocorra correção mais acentuada em meio à 'guerra político-comercial' que atravessamos" - lembrando, indiretamente, que o Ibovespa vem de máxima histórica nominal, aos 141 mil pontos, no fechamento de 4 de julho.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta que o plano de contingência elaborado pelo governo para responder às tarifas impostas pelos Estados Unidos está concluído e será submetido à análise do presidente Lula. Segundo o ministro, o documento reúne "medidas de todo gosto", incluindo a possibilidade de abertura de linhas de crédito em apoio a empresas afetadas.
(Com Agência Estado)
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