Bom Sucesso, Bonsucesso, Bon Sucesso – estas três maneiras de grafar o distrito de Várzea Grande, que tem como referência de surgimento a data de 23 de outubro de 1823, conforme Petronilo Gonçalves da Silva, o Fião, 73 anos, descendente do fundador da comunidade ribeirinha, Justino Antonio da Silva Claro, certamente ainda vai provocar muita polêmica.
Apesar da própria população do pacato distrito, que está incluído na Rota do Peixe e que é muito frequentado nos finais de semana e feriados por causa de sua famosa culinária à base de peixes, festas religiosas e no período carnavalesco, aparentemente não estar interessada nessa questão semântica.
Professor de Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), o gramático, lexicógrafo e dicionarista Luiz Antonio Sacconi em sua obra “Não Erre Mais” sustenta que “bom sucesso”, que exprime um desejo, tem que ser grafado separadamente.
E até brinca que “Bonsucesso”, escrita dessa maneira, é o nome de um bairro do Rio de Janeiro, que tem um time de futebol que já fez muito sucesso em outros tempos...
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E justifica: o “Bom” é um adjetivo que designa uma qualidade em oposição ao mal; ”Sucesso” é um substantivo. A junção dos dois termos forma o topônimo – afirma Tavares..
Diretor da Escola Municipal de Educação Básica Maria Barbosa Martins, o professor Tavares vive em Várzea Grande a 16 anos, dos quais morou seis em Bom Sucesso/Bonsucesso/Bon Sucesso fazendo pesquisas para montar um mosaico sobre sua história.
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BONSUCESSO É HISTÓRICO
Para o professor Tavares, a questão da grafia do nome da comunidade ribeirinha várzea-grandense está definida: é Bonsucesso mesmo! Além da tese gramatical que ele defende, em casos de dúvidas com essas sobre a grafia do topônimo, pesquisadores e historiadores consideram os escritos mais antigos como referência.
E, nesse caso, um documento de 1823 de concessão da Sesmaria de Bonsucesso, tendo como um dos herdeiros Justino Antonio da Silva Claro, o topônimo aparece grafado da forma acima, formando uma só palavra.
Além do trabalho na comunidade, o professor Tavares tem buscado ainda outras fontes de consultas, inclusive o Arquivo Público do Estado. Ele já tentou também ter acesso à documentação do Instituto de Terras de Mato Grosso – Intermat, que pode ter herdado importante acervo do extinto Departamento de Terras de Mato Grosso, que poderia ajudar a esclarecer dúvidas sobre a sesmaria que resultou no surgimento da antiga comunidade ribeirinha de Várzea Grande. Mas até agora não foi autorizado a consultar documentos do Intermat.
UMA LONGA HISTÓRIA
REGISTRADA NA MEMÓRIA
DE HERDEIROS DE JUSTINO
23 de outubro de 1823: Justino Antonio da Silva Claro, cuja origem seus parentes desconhecem, desce para a margem direita do Rio Cuiabá para meditar. Encontra um pescador e lhe pergunta: “Como foi a sua pesca hoje?” – “Foi um sucesso, senhor!...” – respondeu-lhe o pescador.
Ao voltar para a sua habitação, depois da meditação, Justino chamou sua companheira, Maria Silva, e disse: “Encontrei a solução para dar nome a essa nossa querida terra onde vamos criar nossos filhos, netos, bisnetos, tataranetos e outros...”
Em seguida, desembainhou o facão que levava na cintura, passou a mão calejada pelo rosto suado e disse pausadamente, olhando para o céu como se buscasse Deus: “Bom Sucesso!”.
Este depoimento, com base nas histórias que foram sendo passadas de pais para filhos ao longo dos anos, foi prestado ao HiperNotícias por Petronilo Gonçalves Filho, o Fião, descendente de Justino, e que apesar dos 72 anos e de ter estudado só até o quarto ano do grupo escolar, tem uma mente muito lúcida e fala com o desembaraço de um letrado.
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No local onde os escravos viviam, de acordo ainda com depoimentos de ancestrais de Fião, eles praticavam com freqüência um ritual chamado batuque. Na realidade, o ritual era uma dança que consistia em batidas sonoras de palmas das mãos e em seguida das coxas dos casais. Detalhes: os pares participavam do batuque completamente nus.
GALINHA CHOCA SE
TRANSFORMAVA EM PERU E
PUNHA MACHÕES PRA CORRER
Hoje com uma população estimada em 3 mil pessoas e em cuja veia de 80% delas corre o sangue de Justino Antonio da Silva Claro, a colônia de pescadores, que virou distrito de Cuiabá, antes da criação do município de Várzea Grande, ao qual foi anexado pela Lei Estadual 126 de 23/9/1948 com o nome de Bom Sucesso, viveu muitos anos no mais completo isolamento.
Na verdade, lembra outro descendente de Justino, Sinésio Epifânio da Silva, o Xoneco, 86 anos, a colônia de pescadores só saiu do marasmo em que esteve mergulhada durante décadas, no período de governo de Júlio José de Campos, de 1983 a 1986.
Nesse período, o distrito ganhou o calçamento, feito com pedras em cortes retangulares, da única avenida da comunidade, Gil João da Silva, e energia elétrica.
Segundo Xoneco e outros moradores, com a escuridão da noite apareciam até assombrações na comunidade.
A mais conhecida e temida que muitas pessoas viram, aparecia num imóvel da avenida da localidade, de onde surgia uma galinha choca, que se transformava em um gigantesco peru, com o seu rabo abrindo em forma de um grande leque, e punha todo mundo pra correr com o seu estranho e medonho cacarejar.
Nas noites de escuridão, mesmo com lamparina nas mãos, não tinha machão que passasse por ali, lembra Xoneco.
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A Festa do Peixe, que já ganhou muito espaço na mídia, inclusive nacional, pela sua grandiosidade, com a participação de milhares de pessoas, é uma homenagem da comunidade bonsucessense, a São Pedro, o protetor dos pescadores e cuja data é comemorada dia 29 de junho.
Há na comunidade quem crê que o pescador com quem Justino falou no dia em que decidiu batizar suas terras com o nome de Bom Sucesso era São Pedro...
Aparentemente, a população local não está nem um pouco preocupada com a grafia do nome da comunidade. O que interessa para seus moradores, cuja principal fonte de rendas é o turismo, é que sua gastronomia, suas festas religiosas e seu carnaval de uma única rua continuam atraindo milhares de visitantes.
A exceção parece ser Fião: “Se na lei que criou o nosso distrito está escrito Bom Sucesso separado, então ela deve ser respeitada...” – pondera o velho morador da comunidade ribeirinha várzea-grandense.
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wagner de souza 29/10/2013
tenque levar em consideração os tipos populares, dos antigos remanescente dessa comunidade. que até hoje faz do distrito de bom sucesso; o melhor lugar para viver e morar.
Artur 29/10/2013
Esse professor esta por fora. O José Bonifacio explicou bem. É Bonsucesso, assim como o Mixto não é Misto e o Coritiba não é Curitiba.
José Bonifácio 29/10/2013
Em se tratando de gramática, evidenciando um desejo, a grafia correta é Bom Sucesso. Por se tratar de nome de um lugar, como é o caso em discussão, caracteriza um topônimo. Assim o correto é Bonsucesso.
3 comentários