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Cuiabanália Segunda-feira, 28 de Outubro de 2013, 17:41 - A | A

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Segunda-feira, 28 de Outubro de 2013, 17h:41 - A | A

COISAS DE MATO GROSSO

Nome de distrito turístico de VG vira grande confusão

Moradores e personagens ilustres da localidade narram histórias e a cultura popular de uma parte do município

NELSON SEVERINO







Bom Sucesso, Bonsucesso, Bon Sucesso – estas três maneiras de grafar o distrito de Várzea Grande, que tem como referência de surgimento a data de 23 de outubro de 1823, conforme Petronilo Gonçalves da Silva, o Fião, 73 anos, descendente do fundador da comunidade ribeirinha, Justino Antonio da Silva Claro, certamente ainda vai provocar muita polêmica.

Apesar da própria população do pacato distrito, que está incluído na Rota do Peixe e que é muito frequentado nos finais de semana e feriados por causa de sua famosa culinária à base de peixes, festas religiosas e no período carnavalesco, aparentemente não estar interessada nessa questão semântica.

Professor de Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), o gramático, lexicógrafo e dicionarista Luiz Antonio Sacconi em sua obra “Não Erre Mais” sustenta que “bom sucesso”, que exprime um desejo, tem que ser grafado separadamente.

E até brinca que “Bonsucesso”, escrita dessa maneira, é o nome de um bairro do Rio de Janeiro, que tem um time de futebol que já fez muito sucesso em outros tempos...

Murjaci de Souza Nunes

Distrito de Várzea Grande é rota de culinária do peixe que atrai turistas e moradores

Autor do livro “Várzea Grande História e Tradição”, o professor José Wilson Tavares, que possui vários títulos, inclusive de historiador pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), e uma pós-graduação em Docência do Ensino Superior pela Universidade Cândido Mendes, não concorda com a separação do nome desse topônimo várzea-grandense.

E justifica: o “Bom” é um adjetivo que designa uma qualidade em oposição ao mal; ”Sucesso” é um substantivo. A junção dos dois termos forma o topônimo – afirma Tavares..

Diretor da Escola Municipal de Educação Básica Maria Barbosa Martins, o professor Tavares vive em Várzea Grande a 16 anos, dos quais morou seis em Bom Sucesso/Bonsucesso/Bon Sucesso fazendo pesquisas para montar um mosaico sobre sua história.

Murjaci de Souza Nunes

Professor José Wilson Tavares já pesquisou história da comunidade e sua influência

É um trabalho difícil, que vai demandar muito tempo ainda, por falta de documentos. Ouvir só depoimentos dos moradores da localidade é insuficiente para resgatar a memória local: fatos importantes são omitidos pelos depoentes para preservar a memória de seus antepassados, principalmente Justino Antonio da Silva Claro.

BONSUCESSO É HISTÓRICO

Para o professor Tavares, a questão da grafia do nome da comunidade ribeirinha várzea-grandense está definida: é Bonsucesso mesmo! Além da tese gramatical que ele defende, em casos de dúvidas com essas sobre a grafia do topônimo, pesquisadores e historiadores consideram os escritos mais antigos como referência.

E, nesse caso, um documento de 1823 de concessão da Sesmaria de Bonsucesso, tendo como um dos herdeiros Justino Antonio da Silva Claro, o topônimo aparece grafado da forma acima, formando uma só palavra.

Além do trabalho na comunidade, o professor Tavares tem buscado ainda outras fontes de consultas, inclusive o Arquivo Público do Estado. Ele já tentou também ter acesso à documentação do Instituto de Terras de Mato Grosso – Intermat, que pode ter herdado importante acervo do extinto Departamento de Terras de Mato Grosso, que poderia ajudar a esclarecer dúvidas sobre a sesmaria que resultou no surgimento da antiga comunidade ribeirinha de Várzea Grande. Mas até agora não foi autorizado a consultar documentos do Intermat.

UMA LONGA HISTÓRIA

REGISTRADA NA MEMÓRIA

DE HERDEIROS DE JUSTINO


23 de outubro de 1823: Justino Antonio da Silva Claro, cuja origem seus parentes desconhecem, desce para a margem direita do Rio Cuiabá para meditar. Encontra um pescador e lhe pergunta: “Como foi a sua pesca hoje?” – “Foi um sucesso, senhor!...” – respondeu-lhe o pescador.

Ao voltar para a sua habitação, depois da meditação, Justino chamou sua companheira, Maria Silva, e disse: “Encontrei a solução para dar nome a essa nossa querida terra onde vamos criar nossos filhos, netos, bisnetos, tataranetos e outros...”

Em seguida, desembainhou o facão que levava na cintura, passou a mão calejada pelo rosto suado e disse pausadamente, olhando para o céu como se buscasse Deus: “Bom Sucesso!”.

Este depoimento, com base nas histórias que foram sendo passadas de pais para filhos ao longo dos anos, foi prestado ao HiperNotícias por Petronilo Gonçalves Filho, o Fião, descendente de Justino, e que apesar dos 72 anos e de ter estudado só até o quarto ano do grupo escolar, tem uma mente muito lúcida e fala com o desembaraço de um letrado.

Murjaci de Souza Nunes

Petronilo Gonçalves da Silva, o Fião, descendente do fundador do distrito de Várzea Grande

Conforme ainda Fião, o patriarca Justino alimentava um grande sonho: dar um escravo para cada filho para ajudá-los em suas lides nas propriedades. Por isso, mantinha uma senzala em suas terras do outro lado do Rio Cuiabá. Mas todos os escravos – que se tornaram livres em 13 de maio de 1888, com a abolição da escravatura no Brasil pela princesa Isabel – que ele doava aos filhos, morriam prematuramente.

No local onde os escravos viviam, de acordo ainda com depoimentos de ancestrais de Fião, eles praticavam com freqüência um ritual chamado batuque. Na realidade, o ritual era uma dança que consistia em batidas sonoras de palmas das mãos e em seguida das coxas dos casais. Detalhes: os pares participavam do batuque completamente nus.

GALINHA CHOCA SE

TRANSFORMAVA EM PERU E

PUNHA MACHÕES PRA CORRER


Hoje com uma população estimada em 3 mil pessoas e em cuja veia de 80% delas corre o sangue de Justino Antonio da Silva Claro, a colônia de pescadores, que virou distrito de Cuiabá, antes da criação do município de Várzea Grande, ao qual foi anexado pela Lei Estadual 126 de 23/9/1948 com o nome de Bom Sucesso, viveu muitos anos no mais completo isolamento.

Na verdade, lembra outro descendente de Justino, Sinésio Epifânio da Silva, o Xoneco, 86 anos, a colônia de pescadores só saiu do marasmo em que esteve mergulhada durante décadas, no período de governo de Júlio José de Campos, de 1983 a 1986.

Nesse período, o distrito ganhou o calçamento, feito com pedras em cortes retangulares, da única avenida da comunidade, Gil João da Silva, e energia elétrica.

Segundo Xoneco e outros moradores, com a escuridão da noite apareciam até assombrações na comunidade.

A mais conhecida e temida que muitas pessoas viram, aparecia num imóvel da avenida da localidade, de onde surgia uma galinha choca, que se transformava em um gigantesco peru, com o seu rabo abrindo em forma de um grande leque, e punha todo mundo pra correr com o seu estranho e medonho cacarejar.

Nas noites de escuridão, mesmo com lamparina nas mãos, não tinha machão que passasse por ali, lembra Xoneco.

Murjaci de Souza Nunes

Morador, Sinésio Epifânio da Silva, o Xoneco, conta histórias e lendas da comunidade

De todas as transformações que a comunidade tem sofrido nos últimos tempos – antes era cerca de 15 habitações humildes e hoje são mais de 100 imóveis, incluindo casarões e estabelecimentos comerciais como as tradicionais e atraentes peixarias – Xoneco só tem uma queixa: o desvirtuamento da tradicional Festa do Peixe, que ele ajudou a criar há 32 anos. Este ano, quem quis comer peixe da festa teve que pagar.

A Festa do Peixe, que já ganhou muito espaço na mídia, inclusive nacional, pela sua grandiosidade, com a participação de milhares de pessoas, é uma homenagem da comunidade bonsucessense, a São Pedro, o protetor dos pescadores e cuja data é comemorada dia 29 de junho.

Há na comunidade quem crê que o pescador com quem Justino falou no dia em que decidiu batizar suas terras com o nome de Bom Sucesso era São Pedro...

Aparentemente, a população local não está nem um pouco preocupada com a grafia do nome da comunidade. O que interessa para seus moradores, cuja principal fonte de rendas é o turismo, é que sua gastronomia, suas festas religiosas e seu carnaval de uma única rua continuam atraindo milhares de visitantes.

A exceção parece ser Fião: “Se na lei que criou o nosso distrito está escrito Bom Sucesso separado, então ela deve ser respeitada...” – pondera o velho morador da comunidade ribeirinha várzea-grandense.

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wagner de souza 29/10/2013

tenque levar em consideração os tipos populares, dos antigos remanescente dessa comunidade. que até hoje faz do distrito de bom sucesso; o melhor lugar para viver e morar.

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Artur 29/10/2013

Esse professor esta por fora. O José Bonifacio explicou bem. É Bonsucesso, assim como o Mixto não é Misto e o Coritiba não é Curitiba.

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José Bonifácio 29/10/2013

Em se tratando de gramática, evidenciando um desejo, a grafia correta é Bom Sucesso. Por se tratar de nome de um lugar, como é o caso em discussão, caracteriza um topônimo. Assim o correto é Bonsucesso.

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3 comentários

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