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Cuiabanália Domingo, 17 de Novembro de 2013, 08:42 - A | A

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Domingo, 17 de Novembro de 2013, 08h:42 - A | A

ENTREVISTA DA SEMANA

Cuiabá vive mais um teste com Jogos dos Povos Indígenas

Marcos Terena, coordenador dos XII Jogos Indígenas, fala na criação dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas

NELSON SEVERINO





Coordenador técnico do XII Jogos dos Povos Indígenas e respeitado articulador político, o piloto comercial e administrador de empresas Marcos Terena, da etnia xané, de Mato Groso do Sul, pode ser considerado como o maior responsável pelo sucesso da competição que movimentou Cuiabá durante a semana, com a participação de centenas de índios do Brasil e de 16 países que vieram prestigiar os jogos. Bom para Cuiabá, cuja imagem foi projetada para o mundo inteiro através de dezenas de jornais, revistas e televisões, que dedicaram grande espaço ao evento dos indígenas.

Os Jogos dos Povos Indígenas chegam a 12ª edição com uma nova conquista: a criação dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas que serão realizados no Brasil em 2015. Já foi definido na reunião do Grande Conselho que aprovou a criação da competição em nível mundial que o certame será realizado no mês de julho para evitar que os atletas indígenas sejam submetidos ao sacrifício de enfrentar disputas debaixo de um sol causticante como aconteceu este ano.

Um aviso de Marcos Terena: os indígenas estão se preparando para assumir o comando da Fundação Nacional do Índio – Funai. Motivo: o homem branco brasileiro não está preparado para entender o moderno índio brasileiro, que nada tem a ver com a população dos tempos de Darci Ribeiro e dos irmãos Vilas Boas. E Terena garante que os Jogos dos Povos Indígenas terão papel importante para os índios conseguirem esse objetivo. “A Funai é dos índios e será dirigida pelos índios...” – afirma. Marcos Terena já é piloto da Funai.

Mayke Toscano/Secom-MT

Marcos Terena, diretor do Comitê Intertribal e coordenador dos XII Jogos Indígenas

HiperNoticias – Como o senhor avalia o XII Jogos dos Povos Indígenas?


Marcos Terena – Eu creio que nós atingimos dentro do plano do trabalho e das nossas possibilidades, aquilo que estávamos esperando. De um lado, conseguimos trazer para Cuiabá quarenta e oito etnias do Brasil e dezesseis países que vieram com suas representações de homens, jovens e pessoas mais velhas para debatermos, por exemplo, a criação e o lançamento do I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas e ao mesmo tempo fazermos esta grande celebração dos povos indígenas do Brasil. Nós estamos contentes por termos atingidos nosso objetivo, apesar das dificuldades, mas essas dificuldades são assim mesmo. Nenhum índio reclamou da chuva, mas reclamou das estruturas das ocas que foram construídas [no Jardim Botânico] para abrigar os participantes dos Jogos dos Povos Indígenas em Cuiabá.

HiperNotícias – Então a competição atingiu todos os objetivos?

Marcos Terena – As competições dos Jogos dos Povos Indígenas estão divididas em três modalidades, três níveis de alcance. Por exemplo: temos os jogos que nós chamamos de complementais. Foram realizados aqui o futebol, jogos de intercâmbios inter culturais, no caso do arco e flecha, que é comum para a maioria dos povos indígenas e aqueles interativos e demonstrativos, o huka huka, o futebol de cabeça, que é tipicamente específico de cada povo e não necessariamente de toda a coletividade indígena. Então, com três blocos de modalidades esportivas a gente mostrou para as autoridades do Governo Federal e do Estado que o Brasil tem vários esportes e não somente o futebol, a capoeira...

HiperNotícias – Promover a integração dos povos indígenas, com a presença de tantas delegações, foi o principal objetivo do XII Jogos dos Povos Indígenas?

Marcos Terena – A integração foi superada pela celebração durante a realização dos Jogos dos Povos Indígenas. Mas é claro que quando temos a oportunidade de juntar quarenta e oito etnias indígenas de dezesseis países, isso mostra a força que os povos indígenas do Brasil têm no relacionamento internacional, através das Nações Unidas (ONU), da Organização dos Estados Americanos (OEA), onde existem fóruns de debates. Esta relação, este intercâmbio de valores culturais fez com que a gente chegasse a Cuiabá para construir esse processo de nível internacional como os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. Com isso, pode ser que o brasileiro ainda não percebeu que nós estamos construindo um circuito mundial de esportes indígenas tradicionais, que vem desde a Ásia, a China, Japão, Filipinas, passando pela África, Oceania, Europa e chegando as nossas Américas. Creio que chegamos a um ponto que não tem mais volta. Temos que buscar uma autenticidade, baseada no fato de que no esporte não basta competir. É preciso construir o respeito mútuo, o respeito ao meio ambiente e o respeito à mãe terra.

HiperNotícias – Os governos federal e estadual apoiaram efetivamente o XII Jogos dos Povos Indígenas?

Marcos Terena – O Governo Federal através do Ministério do Esporte sempre apoiou os Jogos dos Povos Indígenas. Este ano, nós tivemos um interesse pessoal de alguns ministérios através dos seus ministros como a da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial [Maria Helena de Barros] e da Cultura [Marta Suplicy] e também do Governo do Estado, que gerenciou os recursos e também deu suporte financeiro para que os índios saíssem de suas terras com conforto e segurança, assim como também nas cidades. Nestes jogos, pela primeira vez na história do Brasil, os índios tiveram um seguro de vida já ao sair das aldeias e até, regressar depois das competições em Cuiabá. Este foi um trabalho feito pelo Comitê Inter tribal, pelos próprios indígenas, demonstrando que nós não precisamos de intermediários nas relações entre o governo e os povos indígenas em suas aldeias.

Marcos Vergueiro/Secom-MT

Abertura dos XII Jogos Indígenas, em Cuiabá

HiperNotícias – A participação de jornalistas do Brasil e do mundo inteiro nos jogos realizados em Cuiabá mostra a capacidade de organização dos povos indígena?

Marcos Terena – A imprensa é uma aliada que sempre ajudou os povos indígenas nos seus objetivos dentro do cenário mundial e brasileiro. Muitas vezes, como se viu em Cuiabá, alguns setores da imprensa tentaram usar o contexto dos jogos, as dificuldades que a gente enfrenta em qualquer lugar, como mote para atender interesses políticos regionais e locais. Isso não interessa para nós, não fazemos parte desse cenário. Por exemplo: a questão da água, da alimentação, tinha um cardápio pré-estabelecido há mais de um ano. Em relação ao deslocamento das etnias que vieram, o plano de ação foi construído há mais de um ano, assim como a desse espaço aqui nessa região chamada Sucuri, onde realmente era uma terra de cobras, um lixão abandonado, mas os pajés acharam que era o local adequado. Mas para nós índios, as dificuldades que a imprensa coloca como catastróficas não eram verdadeiras, nada tinha a ver com a nossa disposição. Tanto que os povos indígenas estão saindo daqui com a saúde boa, foram bem alimentados e o único problema físico que enfrentaram foi o calor, mas que é uma situação típica de Cuiabá.

HiperNotícias – Além do apoio financeiro os governo federal e estadual prestigiaram o evento?

Marcos Terena – Em relação ao Governo Federal destacamos a participação da Justiça, da Polícia Federal, da Policia Rodoviária Federal. O Estado criou uma comissão de todas as secretarias do governo para atender aos jogos e a Prefeitura da cidade também demonstrou que este evento era de interesse da população e de todos os setores, tendo em vista que Cuiabá também aproveitou bastante o certame como uma cidade sede da Copa do Mundo de 2014. A gente não sabia dessa polêmica sobre se vai terminar ou não as obras antes da copa. Ela é importante. A gente ficou aqui 10 dias e concluímos que também participamos de uma etapa desse trabalho, pois com a construção da estrutura que nos abrigou, a região do sucuri vai ter energia elétrica que não tinha.

HiperNotícias – A participação do povo cuiabano na competição foi a que o senhor esperava?

Marcos Terena – A gente sentiu muita falta da presença popular, mas esse lugar é muito distante. Creio também que falhamos na divulgação, principalmente mostrando que era um evento permanente todo dia, toda noite, e também um evento gratuito. Não era um show dos índios, mas era uma busca dos índios, de uma nova relação com a sociedade. É claro que a gente conseguiu estabelecer essa linha de amizade a de superação de preconceito, porém podia ser melhor, principalmente quando uma cidade sedia um evento como a Copa do Mundo A presença da mídia internacional foi importante por que a gente colocou Cuiabá no cenário mundial.

HiperNotícias – Os Jogos Mundiais Indígenas devem passar a ser realizados a partir de quando?

Marcos Terena – Primeiramente eu queria deixar registrado que o nome do evento é Jogos Mundiais dos Povos Indígenas’’. Foi aprovado em Cuiabá e o primeiro certame acontecerá, de acordo com nossa projeção, no mês de julho de 2015 no Brasil para que nem os brasileiros e nem os estrangeiros tenham problemas de temperatura e muito menos com a chuva. Como o evento será realizado em um mês de férias escolares, esperamos que professores, alunos e seus familiares tenham efetiva participação nos jogos para dar maior incentivo aos atletas indígenas.

Marcos Vergueiro/Secom-MT

Carlos Terena homenageia o governador Silval Barbosa

HiperNotícias – Marcos Terena, essa competição, com a repercussão que está alcançando, pode incentivar o surgimento de novas lideranças indígenas em Mato Grosso e no Brasil?

Marcos – Nós trabalhamos com esse sonho, com essa possibilidade, porque quem idealizou os jogos dos povos indígenas no Brasil, foi o Carlos Terena [irmão de Marcos]. Eu faço apenas a articulação política das atividades junto aos governos estaduais e junto às embaixadas dos países convidados. Iniciamos uma nova experiência fazendo uma relação diplomática das embaixadas dos países convidados. Esse trabalho não foi feito pelo governo, pelo Itamarati, mas sim através da gente, numa busca para mostrar que temos capacidade para isso também. Ao mesmo tempo, nós mostramos a importância de construir esse processo através da juventude porque se não tivermos os jovens nos acompanhando, quem vai dar continuidade ao nosso trabalho?.Uma ONG? A Funai? São setores que não nos ajudaram nesse processo e que nós até evitamos encontrar para não nos atrapalharem.

HiperNoticias – Os direitos dos povos indígenas – como a inviolabilidade de suas reservas, à educação, á saúde – têm sido respeitados?

Carlos – Aqui nos Jogos Indígenas nós procuramos envolver os setores do Governo Federal envolvidos com o índio, principalmente a Secretaria de Saúde Indígena vinculada ao Ministério da Saúde e a Funai, subordinada ao Ministério da Justiça, mas especialmente a Funai não quis participar, justificando falta de recursos. Porém não queríamos a Funai só marcando presença no evento. Qualquer dia, num futuro não muito distante, nós pretendemos assumir a Funai, que é do índio. Politicamente e administrativamente a Funai está fragilizada, porque o homem branco moderno não sabe tratar com o índio moderno. Não somos o índio dos tempos do Darci Ribeiro, dos irmãos Vilas Boas. É um novo cenário. E a Funai precisa se adaptar a isso. Eu quero dizer que os índios estão se preparando cada vez mais para atingir o objetivo de assumir a Funai, inclusive através dos jogos indígenas..

HiperNotícias – Quais são os maiores problemas que as etnias indígenas, principalmente as que vivem na Amazônia, tem enfrentado para preservar seus valores culturais?

Carlos Terena – Creio que é a globalização. Po.r isso, com base nos jogos dos Estados Unidos nós criamos um outro cenário que chamamos de ocas digital, ou seja, vamos mostrar os computadores, internet e ao mesmo tempo vamos estabelecer um mecanismo de treinamento para que a nossa juventude conheça, aprenda mais também com os mais velhos, com os caciques para compreenderem que esta linguagem entra na aldeia sem pedir licença. Então precisamos usar esta tecnologia da informação, para fortalecer a nossa luta, a busca da demarcação das terras e principalmente gerar novas consciências que superem os preconceitos.

HiperNotícias – Com a população indígena em crescimento, suas lideranças não pensam e eleger representantes políticos para defender os interesses das etnias?

Carlos Terena – Este é um desafio também que é preciso considerar, mas temos um problema que é as regras eleitorais. A regra eleitoral de hoje, como ela está posta, é uma grande janela para corromper o eleitor. Isso tem sido citado por vários setores especializados. Não é que nós não sabemos votar; é que nós não temos oportunidades de colocar nossas pretensões no debate político para participação do índio no processo político como ele é.Temos votos indígenas, mas não é suficiente para eleger um deputado federal, senador muito menos governador ou presidente da República. Mas estamos sempre incentivando a participação nesse processo como ele é para a gente também gerar opinião e a consciência que é preciso nos gabaritarmos através do título eleitoral para atingirmos o objetivo da representação política, que é claro sempre será diferente da experiência do Mário Juruna em 1982 quando foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro.

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