Com o avanço das obras no canteiro central da avenida da Prainha para implantação da via permanente do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), a redução em segundos de vários imóveis situados na base do Morro da Luz em um amontoado de entulhos, através da implosão, depende apenas de uma autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan.
A área do entorno foco da ação vai do trecho do edifício Catalani até à antiga sede da Folha do Estado e onde será construída uma das estações do VLT. A área foi tombada há muitos anos pelo Governo Federal e não pode ser tocada.
Segundo a Secopa, a empresa especializada que vai fazer a implosão dos imóveis, sistema que será utilizado pela primeira vez em Cuiabá para demolição de estruturas de alvenaria de maior porte, já foi inclusive contratada.
A empresa é do Rio de Janeiro, mas a Secopa não sabe o volume de dinamite que será necessário para fazer ruir o conjunto de edificações.
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Além de dois prédios com três andares e o piso, a área a ser implodida é formada num trecho de cerca de 100 metros, por outros dois imóveis de dois andares e o piso, além de sobrados de maior porte encravados no sopé do Morro da Luz e muitas e grandes lojas no térreo.
A Secopa também não sabe ainda por quanto tempo o trecho que será afetado pela implosão dos imóveis vai ficar interditado para a retirada de toneladas de entulhos, pois não há qualquer possibilidade de se conciliar a movimentação de ônibus e veículos pelo menos no trecho do início da Getúlio Vargas até a subida da avenida Coronel Escolástico com a movimentação de caminhões, pás carregadeiras e caçambas que vão remover os restos de construção do local da demolição.
CONFLITO COM SECOPA
Enquanto o problema que envolve a implantação da via permanente do VLT no entorno do trecho tombado pelo Iphan não é resolvido, os comerciantes daquele trecho da Prainha continuam em pé de guerra contra a Secopa.
Eles alegam os donos de imóveis ou quem tem comércio naquele trecho que estão sendo tratados sem a mínima consideração pelo governo. “O que a gente fica sabendo sobre a nossa situação aqui é o que a mídia divulga e nada mais”, reclama uma comerciante do trecho que será implodido.
“O que a Secopa está fazendo com a gente é uma tortura. Uma hora vem um e fala uma coisa, daí a pouco não é mais aquilo. Eu já não durmo mais, emagreci, minha pressão subiu, minha glicose disparou, já estou até com problema de osteoporose de tanto pensar nos problemas que a Secopa tem nos causado”, explode Jairo Rodrigues Guimarães, da Papelaria Coxipó, há 28 anos instalado no local.
"Outro dia abriram um buraco na minha calçada para fazer uma pesquisa arqueológica. Aí uma pessoa que subiu na calçada e seu carro caiu no buraco e ela queria me processar. Se eu fechasse o buraco ia ter criar encrenca com o Iphan", afirma contrariado.
A dona da loja Utilíssima, que ocupa o térreo do local onde funcionou a Folha do Estado, Dilma Gaião, garante que desde 2011 está operando no vermelho e só mantém abertas as portas do seu diversificado comércio à espera da indenização para avaliar que rumo tomar.
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Há 10 anos no ramo, já chegou a ter 25 empregados e hoje tem apenas duas trabalhadoras. Sem fregueses ela não repõe estoques; e sem estoques, não tem fregueses, situação que cria um insuperável círculo vicioso.
Faz mais de duas semanas que Dilma recebeu a visita de um funcionário da Secopa e de um suposto oficial de Justiça, que foram comunicá-la verbalmente que ela tinha 15 dias para desocupar o imóvel. Dilma nem deu bola para a comunicação.
“Só saio daqui com ordem judicial e com a minha indenização na mão, porque o que estão fazendo com a gente é brincadeira. Nós cumprimos todas as nossas obrigações e exigimos um tratamento respeitoso por parte da Secopa”, afirma.
REUNIÕES COM O GOVERNO
Dilma Gaião lembra que em março deste ano os comerciantes tiveram uma reunião na Associação Comercial de Cuiabá com o secretário da Secopa, Maurício Guimarães, quando lhe foi entregue toda a documentação para ser providenciado o pagamento das indenizações.
Na ocasião, Guimarães anunciou que todos os problemas relacionados às desapropriações e indenizações estavam resolvidos. “Ele até brincou com a gente, dizendo que não se tratava de um primeiro de abril”, em alusão a essa data que estava chegando e considerada o dia da mentira...
Só que até agora as promessas de Guimarães não passaram mesmo de um primeiro de abril. Conforme Dilma Gaião, a sucessão de mentiras da Secopa já virou uma estressante rotina na vida dos comerciantes pelo menos no trecho em que ela atua.
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Ela garante também que a demora da Secopa em definir a situação dos comerciantes da Prainha já deixou muitos deles irremediavelmente descapitalizados, alguns dos quais até já faliram. Tem gente que já vendeu casa, carro, chácara, terrenos e continua no “fundo do poço” esperando receber o prometido dinheiro da Secopa.
A comerciante também está muito decepcionada com o governador Silval Barbosa (PMDB), que disse numa recente entrevista a um jornal da cidade que as desapropriações da Secopa estão sendo feitas à força. “O governador Silva Barbosa foi muito inconsequente de falar uma coisa dessas...”, destaca Dilma Gaião.
SEM ALUGUEL
Uma representante da família Catalani, cujos proprietários do imóvel na Prainha vivem na Itália, ressalta que há mais de dois anos nenhuma sala do prédio é alugada por causa da Copa do Mundo em Cuiabá.
“Se a gente alugasse, podia ter problemas na rescisão de contratos quando o imóvel fosse desapropriado. Só que até agora a família só acumulou prejuízos e nada de sair a indenização, que ninguém sabe de quanto será, afirma. O edifício Catalani tem 22 salas, cujos valores dos aluguéis mensais variavam de R$ 500,00 a R$ 1.500,00, dependendo da metragem.
“Aqui na Prainha ninguém é cachorro sem dono, não! A Secopa tem que entender isso e nos tratar com consideração. Todo mundo paga seus impostos e cumpre suas obrigações direitinho, mas exige um tratamento de respeito...”, destaca Marques Martins, gerente da matriz da Pax Nacional em Cuiabá.
A sede da empresa ocupa 600 m2 de área construída em um prédio de 2 andares, além do pavimento térreo e onde trabalham 300 pessoas. “Ninguém é contra o progresso da cidade, mas não vamos aceitar que cheguem aqui amanhã e nos enxote da nossa casa. Nossos direitos têm que ser respeitados...”, afirma Martins.
(Atualizada às 17h52)
Carlos Nunes 06/12/2013
A questão do VLT é que a composição vai ter uns 40 metros, e é difícil fazer curvas com esse comprimento, é sempre melhor ir em linha reta, então tudo o que puderem tirar do caminho, eles vão tirar. A questão do Morro da Luz é complicada, pois o Fares, um dos proprietários, por exemplo, mostrou um projeto da Secopa, onde eles constroem uma estação de energia, dentro do Morro. Parece que ela vai abastecer os VLT's. Como será que os órgãos ambientais vão analisar o projeto? O que eles vão fazer realmente com o Morro da Luz? Quais as consequências diretas e indiretas para a Natureza de uma estação de energia elétrica dentro do Morro? Lá ainda tem muitas espécies de animais, além da rica flora. Ou será que politicamente eles vão passar por cima de tudo isso? Decisão política vale mais do que a Natureza? Afinal de contas Copa 2014 - o circo passageiro mais caro do mundo, é prioridade nacional e estadual; é mais importante do que Saúde, Educação, etc. Do que ambiente, então, vão passar por cima, vão patolar.
nabil 06/12/2013
Respondendo ao Agildo ,segundo a Secopa as desapropriações começaram a partir do inicio da escadaria do morro da luz ate a ilha da banana
Agildo 06/12/2013
Nabil, a garagem Abdala Mansur que tem por ali vai ter que sair também?
Ricardo Almeida 06/12/2013
Acho um perigo permitir que um Administrador inepto, que vive de cometer erros, como o secretario da SECOPA, continue à frente deste tipo de projeto. Os riscos (usando uma quantidade de dinamite que ele não sabe quanto é. Vejam, isso!) são muito grandes.
Nabil 06/12/2013
A matéria esta desatualizada pois o IPHAN não autorizou a implosão. Sou herdeiro de um destes imóveis e a secopa obteve a imissão de posse e não depositou conforme decisão judicial. A impressa esta toda comprometida pois não consegue ser imparcial e publica somente o que a secopa autoriza Este estado esta tomado pela corrupção e desvios de dinheiro que não terá dinheiro para começar um metro de trilho para O VLT.
Dyego Pereira 05/12/2013
Pra mim todos esses predios ao pé do morro da luz deveriam ser demolidos para revitalização da area verde, esse predios não tem nada de históricos, a maioria foram construidos na decada de 60, claro pagando as devidas indenizações aos que tem direito.
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