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Cidades Domingo, 21 de Maio de 2023, 09:49 - A | A

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MARCAS DA PANDEMIA

Vereadora relata perda dos pais em poucos dias com adeus caloroso: "você foi a melhor filha"

O HNT foi em busca de histórias para relembrar o quanto a doença foi devastadora e inicia uma série de matérias para falar do legado da covid-19

CAROLINA ANDREANI
Da Redação

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu, no dia 5 de maio, que a covid-19 não representa mais uma emergência de saúde global. Apesar da redução do nível de alarme, não significa que a doença terminou e deixou de ser uma ameaça. Além disso, o legado deixado pela covid-19, além de englobar incontáveis avanços do ponto de vista científico, deixou amargas lembras a famílias do mundo inteiro. O HNT, então, inicia uma série de matérias para relembrar as transformações sofridas a partri da decretação da pandemia.

“Ele me deu um beijo na testa e falou pra mim ‘você foi a melhor filha’. Mal conseguia falar”, conta a vereadora de Chapada dos Guimarães, Fabiana Nascimento de Souza (PTB), sobre o momento antes de ver o pai intubado, em 2021. Durante a pandemia, a também advogada perdeu pai e mãe e quase perdeu o irmão por complicações da doença. O vírus os levou antes mesmo de eles terem a chance de receber a vacina.

Mesmo diante de um cenário que seja mais ‘tranquilo’, o HNT inicia a contar histórias para relembrar o quanto a doença foi devastadora e que os números revelados em painéis demonstram a ação devastadora do coronavírus.

De acordo com Painel Coronavírus, até esta sexta-feira (19), havia 702.421 mortes acumuladas desde o início da pandemia, em 2020. Só em Mato Grosso, 15.380 pessoas morreram em decorrência da doença. Algumas pessoas podem esquecer desses números, mas quem passou pela dor e o sofrimento de enfrentar a morte e a tentativa de sobreviver de um ente querido nunca esquecerá. É o caso da advogada e vereadora por Chapada dos Guimarães.

No começo de 2021, ela perdeu a mãe e, quatro dias depois, o pai para o coronavírus. O irmão precisou ficar em tratamento em casa cerca de 15 dias. Ela lembra que a época era fim de ano e que ela e os familiares mais próximos, por convivência, pegaram covid. Na casa da frente, morava o irmão. Na casa de Fabiana moravam ela, seu filho, seu pai e sua mãe. “Eu sei que a gente passou o Natal junto, todo mundo com covid. Nós jantamos juntos com covid. Eu, meu pai, minha mãe, meu filho [...] eu acho que ela ficou ruim dia 27 e acho que foi intubada dia 29”, relembra a advogada.

A vereadora foi eleita em 2020. Em 2021, ela conta que tomou posse dentro do hospital, junto ao pai. “Eu passei a virada do ano. Meu pai foi do dia 31 pra dia 1º pro Santa Rosa. Minha mãe já tava intubada. E eu tomei posse dentro do hospital com meu pai. E eu ruim, cuidando dele [...] Eu não tive tempo de me cuidar, eu não tive tempo de sentir dor”, recorda ela. “Eu lembro que era virada, porque tinha fogos estourando longe. E eu tava lá, sentada do lado dele, segurado na mão dele e pensando na minha mãe intubada. E ele perguntando da minha mãe todo tempo”, relembra.

Os pais de Fabiana eram casados há de 46 anos. O pai pedia para ver a mãe, mas Fabiana não podia ligar e nem levá-lo para visitar a esposa. A advogada conta que o pai começou a ficar ruim com toda a situação. “Ele sabia que eu tava mentindo, porque os dois conversavam no olhar. E eu ficava inventando que ela lá não podia. Mas ele ‘eu posso visitar ela’. Falei: ‘não pode, é covid’. ‘Mas eu tô com covid, eu posso ir lá. Eu quero ver sua mãe, preciso falar com ela’. Ele foi muito ficando nervoso. Quando eu vi, ele tava deitado e deu um grito. Fui lá e ele: 'falta de ar'”, relata. Conforme a vereadora, a partir daí, o pai precisou de cuidados médicos. Quando o pai foi socorrido, a saturação dele estava em 76%.

Em seus relatos, Fabiana lembra que os hospitais estavam lotados, mas que fez de tudo para tentar salvar os pais. Ela conta o drama, que muitas famílias passaram, quando o pai foi intubado. Muitas pessoas tinham medo do que podia acontecer depois que alguém fosse intubado por conta da covid, já que era uma das últimas saídas.

“Eu despedi dele [do pai] antes dele ser entubado [...] ”, mas a doença chegou e pegou todos desprevenidos. “Eu peguei e falei ‘pai, o senhor vai ter que tomar um remédio e dormir. Eu quero dizer pro senhor que o senhor foi o melhor pai do mundo. E te pedi perdão por tudo se eu não fui uma boa filha pro senhor e pedi também em nome dos meus irmãos’. Ele me deu um beijo na testa e falou pra mim ‘você foi a melhor filha’. Mal conseguia falar”, diz ela emocionada.

O CENÁRIO

A advogada narra cenas que viu no período caótico da pandemia. “Eu vi coisas horríveis e olha que eles [equipe médica] eram perfeitos, eles faziam de tudo pelos pacientes [...] Eu vi médico chorar por ter acabado de intubar um colega. Eu vi menina de 30 anos gritando mãe, fazendo hemodiálise, gritava ‘mãe’. Enfermeira segurava na mão dela: ‘mãe, pelo amor de Deus, eu quero a senhora’”, conta. Fabiana diz que, no final, não aguentou ver os pais intubados. Ela revela que, de tanta dor que passou, não foi ao enterro e não conseguiu ir ao cemitério até os dias atuais.

Fabiana fala também sobre a falta de estrutura de hospitais públicos no Brasil e critica a atuação do poder público. “Os médicos fizeram tudo que eles podiam. As pessoas não sabem fazer gestão municipal, estadual, sem corromper a saúde. É muito difícil você ver, não tem recurso, não tem remédio, não tem estrutura [...] Não tem como você dar um tratamento de um hospital particular em um público. Por que? Os médicos são os mesmos, mas a estrutura é diferente”, enfatiza.

A perda dos pais de uma vez desestruturou toda a família. “Foi uma perda muito grande. Ainda eles moravam comigo, eu que cuidava deles. Viajavam todo ano comigo. Nossa família é muito ligada, eu, meu pai, minha mãe, meu irmão, minha irmã. Eu olhava eles [os pais] todo dia pra dormir, se tava tudo bem”, diz ela, sobre a antiga rotina diária. Fabiana conta que se separou muito cedo e quem criou seu filho foram os pais. O menino de 16 anos também sentiu muito a morte dos avós.

Ela expõe que, até os dias de hoje, ás vezes acorda perdida, pois os pais eram sua base. A vereadora vive a vida pública atualmente, mas sente falta da vida privada de antes da pandemia. “Você sair pra trabalhar politicamente pra zona rural e cuidar das pessoas. E você saber que antes tinha alguém que cuidava do seu filho e, depois, você não ter quem cuida. Então, mudou muito a minha vida pública hoje, porque meu filho depende de mim 100%, pra tudo. Antigamente, ele dependia sim de mim, mas ele tinha minha mãe, e era nosso esteio, meu pai”, diz ela emocionada.

Um mês depois dos pais de Fabiana morrerem, a vacina chegou ao Brasil. Ela conta que quando tomou a vacina, chorou muito “pela oportunidade que eu tive”. A vereadora ainda critica a politização por trás da busca pela vacina, pois a demora fez com que muitas pessoas morressem, como os pais dela. A advogada sente que as doses poderiam ter chegado antes e salvado a família dela. Perguntada sobre o que pensa em relação a isso, a vereadora responde “um pouco de revolta”.

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