Seguidores de cultos afrodescendentes fazem protesto hoje à noite na Praça da Mandioca

Seguidores de cultos afrodescendentes que moram na região metropolitana de Cuiabá irão se reunir a partir das 19h desta quarta-feira (08) na Praça da Mandioca, Centro Velho, para protestar contra discriminação à sua fé. Segundo estimativas dos próprios seguidores das religiões, há pelo menos mil terreiros em atividade na baixada cuiabana.

Batizado como 1º Encontro contra Intolerância Religiosa, o encontro-protesto pretende reunir centenas de representantes de terreiros de diversos municípios, apesar de estar centrado, claro, na capital e na vizinha Várzea Grande, as duas maiores cidades do Estado.

Marcos Lopes/HiperNotícias

Praticantes de cultos afrodescendentes querem mais respeito às suas religiões

“Queremos um basta, um basta na intolerância, na falta de respeito, nos atos de discriminação e até de violência física praticados contra nossos povos”, disse uma das organizadoras do protesto de hoje, Yalorisá Márcia de Onyra, à repórter Alecy Alves, do jornal Diário de Cuiabá.

Líder de um terreiro em Cuiabá, na matéria, Márcia se diz cansada de perseguições contra quem pratica, os filhos dos praticantes e os deuses que cultuam. “Invadem e destroem nossos templos, agridem nossos filhos”, denuncia.

A polêmica também se tornou comum nas redes sociais, especialmente depois que uma menina de 11 anos foi apedrejada – supostamente por intolerantes religiosos – no dia 16 de junho passado, no Rio de Janeiro, após um batismo de candomblé, culto religioso afrodescendente. Ela teria sido identificada devido às indumentárias típicas do rito.

Em Mato Grosso, esta é a primeira vez que líderes e adeptos de crenças afros como umbanda, candomblé e quimbanda, entre várias outras, resolvem ir às ruas pedir respeito ao direito de liberdade de expressão da fé e contra a intolerância religiosa. Márcia contou que seu filho foi várias vezes hostilizado por colegas e professores como sendo filho de feiticeira e macumbeira e que igrejas evangélicas teriam pastores difamando orixás. 

“Nossos deuses não são responsáveis pelo mal que atormenta, são para auxiliá-las”, disse Márcia.

Por causa da discriminação, os mais jovens estariam com vergonha de assumir publicamente suas religiões. O encontro de hoje marca uma série de eventos públicos organizados pelo movimento “Afoxé Ela Ola”. Os outros dois serão realizados nos dias 05 de agosto e 09 de setembro, sempre na Praça da Mandioca.  O protesto, de cunho pacífico, vai levar os cantos e danças praticados nos cultos para a praça.

Foto da Internet

Há pelo menos mil terreiros de cultos afrodescendentes na região metropolitana de Cuiabá

VISÃO PROTESTANTE

No entanto, o que se tem percebido é uma certa confusão quanto ao se denomina “evangélico” hoje em dia. Enquanto até os anos 1990 o termo era sinônimo de protestante no Brasil, daí em diante passou a ser designativo especialmente de pentecostais e neopentecostais, com algumas denominações declaradamente discriminatórias com relação a outras denominações, mesmo cristãs, e especialmente contra ritos afrodescendentes.

“Vejo sem nenhum tipo de preconceito [a manifestação ou os cultos afrodescendentes], acho que temos que inclusive aprender a tratar cada vez melhor as pessoas que pensam diferente de nós, porque se crermos no Evangelho de Deus, temos que saber como lidar com eles, influenciá-los a amar como Cristo. Se existem igrejas que agem dessa maneira, com certeza não é de denominação presbiteriana, porque não pensamos dessa forma”, disse o reverendo Nelson Gonçalves de Abreu Junior, presidente do Presbitério de Cuiabá da Igreja Presbiteriana do Brasil, maior denominação protestante de Mato Grosso.

Foto da Internet

Líderes evangélicos dizem não ter problemas com religiões afrodescendentes

“Defendemos a liberdade de culto até mesmo porque isso é fundamento constitucional. Nossa constituição dá liberdade de culto a todas as pessoas. Além disso, pregamos a Escritura Sagrada porque acreditamos que essa é a única verdade de Deus, mas não discriminamos ninguém, nem impedimos a entrada de qualquer pessoa em nossas igrejas, sejam elas quem forem e seguidoras de qualquer religião que seja. Católico, cultos afrodescendentes, espíritas, muito pelo contrário, temos muitas pessoas que hoje congregam conosco e chegaram de outros direcionamentos religiosos por causa exatamente do acolhimento que sempre receberam aqui, com muito amor e dignidade também”, argumenta o revendo.

A mesma ideia de liberdade religiosa, filosófica, teológica, é defendida pelo pastor sênior do presbitério de Cuiabá, reverendo Marcos A. Serjo da Costa. “Nunca tivemos problemas com relação a isso [cultos religiosos afrodescendentes]. Os protestantes sempre defenderam a liberdade, porque foi pelo sacrifício espontâneo e liberto que Cristo também nos libertou. As pessoas devem fazer o que bem entenderem e responder frente ao Criador e só frente a Ele”, lembra o reverendo.

Quem praticar, induzir ou incitar a discriminação ou o preconceito religioso pode ser enquadrado no artigo 20 da lei 7.716 do Código Penal Brasileiro, sujeito ao pagamento de multa e ou pena de prisão em regime fechado de um a três anos.

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