Ozempic é a nova "fórmula mágica" para emagrecer. Será que é isso mesmo?

Reprodução/CFF

Nos últimos meses, um nome peculiar começou a chamar atenção e virou sinônimo de emagrecimento rápido. Trata-se do Ozempic, nome comercial da semaglutida, fármaco que funciona de forma similar ao hormônio GLP1 e é utilizado no tratamento de diabetes tipo dois. No entanto, a fama do produto não foi pela sua eficácia contra a síndrome metabólica, mas por estar sendo usado, principalmente pelas celebridades hollywoodanas, como um aliado na perda de peso de forma acelerada. A medicação ficou tão famosa que virou até piada na maior premiação da música estadunidense, o Grammy, que aconteceu no último domingo (4). 

Para desvendar os mitos e as verdades sobre o uso do remédio, o HNT conversou com a endocrinologista Cristianne Serafim da Silva Feuser, mestra em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e membro titular da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - SBEM, que atua em Cuiabá.

Logo de cara, jogando um verdadeiro balde de água fria em quem se interessou pela ‘receita mágica’ para emagrecer, a médica destacou que a indicação, além da diabetes, é para pacientes em tratamento de obesidade, no qual é indicado ‘off label’, isto é, fora da bula, e não para quem apenas quer ‘perder alguns quilinhos’ para entrar naquela roupa que está guardada no fundo do guarda-roupas há anos. 

Mas, afinal, o que é Ozempic e por que emagrece? 

Ozempic (semaglutida) é uma forma sintética do hormônio GLP-1 que os seres humanos produzem no intestino. É indicado para tratar pacientes adultos com diabetes mellitus do tipo 2. A aplicação é feita por meio de uma caneta injetável e está disponível em apresentações de 0,25 mg, 0,5mg e 1mg.

O efeito emagrecedor acontece porque o remédio estimula as áreas do cérebro que controlam o apetite e a saciação, ou seja,  faz com que o paciente sinta menos fome e ingira menos calorias, promovendo o déficit calórico, essencial para perda de peso. 

A endocrinologista salientou que a medicação deve ser sempre utilizada sob prescrição e acompanhamento médico e pode ser fatal, se o tratamento for feito incorretamente. Segundo ela, há registros de casos de desidratação, desmaio, obstrução intestinal e até morte. 

O uso indiscriminado do Ozempic na busca incansável pela magreza trouxe problemas para os pacientes que realmente precisam do remédio para controlar os níveis de açúcar no sangue. Segundo a especialista, o remédio chegou a faltar em farmácias e surgiram versões falsificadas na internet, o que pode trazer sérias consequências para quem optar por utilizá-lo. 

“Temos presenciado um uso indiscriminado no mundo todo. A busca pela magreza e por um perfil de beleza imposto pela indústria da moda e pela mídia faz com que isso aconteça cada vez mais. E esse uso, por vezes sem indicação, tem feito com que o Ozempic já venha a faltar em vários locais. Isso é muito ruim, pois pessoas que realmente necessitam acabam ficando sem o medicamento. Outro ponto grave que tem acontecido é a compra do Ozempic pela internet e, por vezes, o medicamento é falsificado”, ressaltou a endocrinologista à reportagem.

RESSALVAS

Mesmo com indicação médica, não é todo mundo que pode tomar Ozempic. A profissional de saúde explicou que a medicação não pode ser utilizada por pacientes com histórico de alergia a qualquer agonista dos receptores do GLP-1, gestantes e lactentes, em pessoas com menos de 18 anos, pacientes com diabetes mellitus tipo 1 e pacientes com história pessoal ou familiar de carcinoma medular da tireoide ou de síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2. 

O tratamento pode vir acompanhado de diversos efeitos colaterais, principalmente na região gastrointestinal. São eles náuseas, vômitos, sensação de plenitude gástrica, intestino preso ou diarreia, dores de cabeça e fraqueza. 

Inclusive, foram alguns desses sintomas que uma gestora imobiliária de 51 anos, que preferiu não se identificar, sentiu ao tomar Ozempic. Os desconfortos físicos também vieram acompanhados de ideações suicidas por causa do fármaco. 

A mulher contou que começou a tomar a medicação por estar acima do peso e ter condromalácia patelar de quarto grau, que é o amolecimento da cartilagem do joelho que pode trazer dores para as pessoas acometidas pela doença. O emagrecimento foi uma opção para que a mulher postergasse uma possível cirurgia no joelho. 

O Ozempic foi prescrito por um endocrinologista, que acompanhou a paciente nos quatro meses em que ela fez o tratamento. Neste período, a trabalhadora conta que perdeu aproximadamente 14 quilos, cuja meta foi estabelecida pelo profissional de saúde. 

Depois de emagrecer, a mulher parou de tomar a medicação, mas relatou que está conseguindo manter o peso.

O QUE DIZ A FABRICANTE

Procurada pelo HNT, a empresa farmacêutica Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, esclareceu que o remédio deve ser utilizado para o tratamento da diabetes e ressaltou que não apoia o uso para emagrecimento ou sem indicação, conforme a bula. 

"A Novo Nordisk, empresa líder global em saúde, esclarece que Ozempic® foi aprovado pelas autoridades sanitárias para tratamento de adultos com diabetes tipo 2 insuficientemente controlado, sendo que não foi aprovado em nenhum lugar do mundo o uso do medicamento para tratamento de obesidade. Além disso, a farmacêutica não endossa ou apoia a promoção de informações de caráter off-label de seus medicamentos, ou seja, em desacordo com a bula", traz trecho da nota.

Ainda ressaltou que a distribuição do medicamento está regular nas farmácias brasileiras desde setembro de 2023, sendo que somente a caneta com 1mg está com disponibilidade intermitente, nos primeiros seis meses de 2024, devido à demanda maior do que prevista.

"Em relação à escassez, como fornecedora responsável e sempre preocupada com a saúde e segurança de seus pacientes, a Novo Nordisk comunica que a apresentação de Ozempic® 0,25m e 0,5mg está com a disponibilização normalizada no mercado brasileiro desde 28 de setembro de 2023. A apresentação de Ozempic® 1mg seguirá com disponibilidade intermitente durante o primeiro semestre de 2024 devido à demanda maior que a prevista. Importante ressaltar que não há problemas de qualidade ou regulatórios com nenhuma das apresentações do produto", pontuou a Novo Nordisk.

Por fim, a empresa alertou a população sobre os cuidados na hora de adquirir o medicamento pela internet, para evitar a compra de produtos falsificados. 

Veja a nota na íntegra:

A Novo Nordisk, empresa líder global em saúde, esclarece que Ozempic® foi aprovado pelas autoridades sanitárias para tratamento de adultos com diabetes tipo 2 insuficientemente controlado, sendo que não foi aprovado em nenhum lugar do mundo o uso do medicamento para tratamento de obesidade.

Além disso, a farmacêutica não endossa ou apoia a promoção de informações de caráter off-label de seus medicamentos, ou seja, em desacordo com a bula. Em relação à escassez, como fornecedora responsável e sempre preocupada com a saúde e segurança de seus pacientes, a Novo Nordisk comunica que a apresentação de Ozempic® 0,25m e 0,5mg está com a disponibilização normalizada no mercado brasileiro desde 28 de setembro de 2023.

A apresentação de Ozempic® 1mg seguirá com disponibilidade intermitente durante o primeiro semestre de 2024 devido à demanda maior que a prevista. Importante ressaltar que não há problemas de qualidade ou regulatórios com nenhuma das apresentações do produto. Mais informações, como pontos de venda com disponibilidade de Ozempic®, podem ser obtidas com o SAC da Novo Nordisk pelo telefone 0800 014 44 88 ou pelo e-mail [email protected].

Quanto à falsificação de Ozempic® no Brasil, até o momento não foram detectados casos de novos lotes falsificadas em 2024, somente os previamente reportados. A Novo Nordisk segue investigando e denunciando todos os casos de falsificação de que tem conhecimento às autoridades, de acordo com as legislações aplicáveis.

A instituição trabalha com empresas terceiras especializadas no monitoramento e eliminação da oferta ilegal de produtos falsificados, tanto no mundo virtual quanto no “mundo real”. A segurança do paciente está sempre em primeiro lugar para a Novo Nordisk, que seguirá combatendo ativamente todo e qualquer produto falsificado.

A recomendação é que pacientes sempre comprem seus medicamentos apenas em farmácias devidamente licenciadas e que cumpram com todos os requerimentos sanitários exigidos pela Anvisa.

Na hora da compra, desconfie:

• sites e canais não licenciados pela Anvisa para comercialização de medicamentos e que usam os nomes das marcas e/ou adotam aplicativos de vendas e redes sociais para ofertar os produtos;

• embalagem do medicamento visivelmente alterada, em idioma estrangeiro, com aparência farmacêutica (apresentação) diferente da registrada e com informações incorretas sobre o produto – Ozempic® é vendido apenas em canetas pré-preenchidas injetáveis;

• preços muito abaixo dos aprovados pelo governo (todos os produtos Novo Nordisk seguem a tabela da CMED, órgão federal que regulamenta o preço dos medicamentos no país).

Em caso de dúvidas sobre os pontos de vendas ou mesmo sobre o medicamento adquirido, os pacientes podem acessar o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) da Novo Nordisk Brasil, disponível no website www.novonordisk.com.br na seção Fale Conosco.

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