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Cidades Domingo, 16 de Abril de 2023, 17:46 - A | A

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REPRESENTATIVIDADE NOS SETORES

Homenageado pelo prêmio Jejé de Oyá relata importância do olhar social da engenharia

Para Marcio do Nascimento, engenheiro civil e gerente regional da Vanguard em Cuiabá, a premiação traz um destaque para pessoas que antes não eram vistas

CAROLINA ANDREANI
Da Redação

Com atuação de 24 anos na área de construções, Marcio do Nascimento Ferreira, engenheiro civil e gerente regional da construtora Vanguard em Cuiabá, é um dos quatro homenageados da segunda edição do Prêmio Jejé de Oyá. Ao traçar um perfil da vida do homenageado, é possível ver o motivo de ele ser um destaque: a atenção ao outro. Marcio compartilha do pensamento de que a engenharia deve ser elaborada para as pessoas e que o setor, muitas vezes elitizado, deve abrir portas para mentes diversas e que pensem no coletivo.

Para o gerente regional, o Prêmio traz um destaque e representatividade para pessoas que antes não eram vistas. Marcio confessa que recebeu surpreso a notícia de ser um dos homenageados e que ficou bastante emocionado e agradecido por ser lembrado. O engenheiro cuiabano, formado pela Universidade Federal de Mato Grosso, relembra que ouviu muito falar do ícone Jejé e encontrou com ele pessoalmente por poucas vezes.

“Como é uma figura muito conhecida, uma figura muito histórica e marcante na cidade de Cuiabá, todo mundo já ouviu falar de Jejé e sabe da história dele, né. Sabe da importância que ele tinha para a representação da negritude na cidade. Era um colunista social que conseguia estar permeando todas as camadas sociais da cidade. Daí, por isso, a importância dele. Ele ouvia todo mundo, de todas as classes, de todas as cores”, comenta o gerente da construtora.

Marcio entende também na homenagem uma ligação com Jejé e diz que o fato de ser um dos homenageados é também entender que as pessoas percebem o que ele faz e o que ele gosta de fazer. O engenheiro cita a marca Vanguard, criada para atender um espírito jovem e inovador. Reforça ser importante o setor acompanhar as inovações, seja de qual for o âmbito. “Representando muito assim na figura do Jejé, que era inovador, que rompia barreiras, que se mostrava, apesar de tudo, e o nosso trabalho é tentar construir uma cidade mais justa, uma cidade mais equilibrada, para que todo mundo possa usar”, expressa.

Apesar de ainda existir o pensamento de que a engenharia não passa de apenas edificações, o que mais há no setor é a busca pelo lado social. “Não adianta criar uma ilha de luxo e prazer dentro de um condomínio. O condomínio ele tem que ser bom pra fora, ele tem que ser bom pra comunidade em volta. Ele tem que ser positivo e trazer ações positivas para a comunidade que tá no entorno dele. Você não vive em uma ilha”, pondera Marcio.

Marcio diz ainda que procura levar o debate social sobre a negritude para a construção civil. Quando o lugar é preparado para alguém morar, ele deve ser pensado para qual tipo de público vai atender. No caso de Cuiabá, os empreendimentos devem atender a sociedade cuiabana e os espaços precisam ser pensados para atender a todos. O modo de falar, contar história e de mostrar o produto deve estar alinhado com o que será representado como sinônimo de sociedade cuiabana, como avalia. "Na hora em que alguém olha uma marca, a pessoa precisa se identificar com ela, não só com a atitude, mas também com o jeito de pensar da marca. E nós somos pessoas negras, mestiças, e você tem que trazer essa representatividade na tua comunicação, no teu projeto, nos ambientes que as pessoas vão usar. Isso tem que refletir o nosso povo”, diz.

O construtor destaca que para de fato ter a missão alinhada com a sociedade, é necessário pensar em como o debate pode ser levado por meio de uma marca grande e traçar mudanças. Pondera que o ramo da engenharia também precisa estar atento a todo tipo de debate social e mente. Para ele, não adianta as pessoas da comunidade não estarem representadas dentro de uma empresa. “Tá sempre pensando em compor uma equipe mais heterogênea, mais colorida, mais diversificada, pra você ter boas ideias. As inovações não vêm de uma única cabeça. Vem de várias cabeças que pensam de formas diferentes, que foram criadas de formas diferentes, existem culturas diferentes. Quando você mistura isso, sai muita coisa boa, sai muita ideia boa”, completa ele.

Sobre as pessoas ainda rejeitarem o assunto do racismo e julgarem esses debates como ‘mimimi’, o engenheiro civil pondera: “quem conseguiu nascer dentro de uma família que tem todas as facilidades estruturais e nunca passou por uma rejeição, nunca passou por uma dificuldade de se sentir pertencendo a um lugar, às vezes, não entende. Você entrar num ambiente e as pessoas olharem assim: ‘uai, tem alguém no lugar errado’. E a pessoa saber que tá no lugar e que precisa estar lá porque aquele lugar é dela. Então, você tem que entender e tentar se colocar na pele do outro, de verdade. Então as vezes o que é encarado como ‘mimimi’ ou uma falta de firmeza de caráter, às vezes é muito por não se colocar de verdade no lugar do outro”, conclui ele, reforçando que esse discurso, por muito tempo, não existiu e que, agora que existe, deve ser falado.

Arquivo Pessoal

Marcio homenageado Jejé

 

TRAJETÓRIA DE VIDA

Marcio do Nascimento Ferreira é filho de mãe professora e pai engenheiro agrônomo, que se conheceram em Cuiabá. A mãe atuou na educação estadual a vida toda. A família materna dele veio do Ceará. A avó materna era negra e morreu aos 101 anos. “Uma pessoa com muita força de caráter, muita força de vontade”, lembra ele da matriarca.

O homenageado estudou em colégio de padres até a 8ª série, cursou Edificações na antiga Escola Técnica (hoje IFM) e passou no vestibular para Engenharia. O curso na UFMT até hoje é visto de maneira elitizada, aonde o acesso é maior para quem vem de escolas privadas. Marcio relata que na Escola Técnica havia pessoas dos mais variados tipos, raças e gêneros, mas, ao chegar, à universidade, deparou-se com algo diferente.

“Quando você vai pra faculdade, você sente que dá uma filtrada né. Principalmente em um curso de Engenharia. Na minha época, tinha pouca mulher. Era uma sala de aula notadamente masculina, poucas mulheres [...] No desenvolvimento ao longo da formação do curso, você percebe que essa diferença de formação básica existe. As pessoas de formação básica precária sofrem um pouco no curso de Engenharia, eu acho que sofrem na maioria dos cursos”, problematiza.

Ele ainda relata que era um dos estudantes que tinha que estudar e trabalhar. O gerente tinha uma empresa de informática com alguns amigos da faculdade, onde se viravam dando treinamento de informática e estudando engenharia. Na turma dele, nem todos conseguiram o diploma. De um total de 45 pessoas, apenas 13 conseguiram se formar. Ele conta que alguns professores chegaram a falar que não era possível trabalhar enquanto estuda engenharia. “Mas a gente não pode, né [não trabalhar]. Como é que você vai sobreviver? Você tem que trabalhar”, questiona ele.

Logo que se formou, foi contratado pela Grupo Plaenge, responsável pela marca Vanguard. Na empresa, passou pelos setores de execução de projetos, relacionamento com cliente e ações da companhia em Cuiabá. Ele conta que o setor de relacionamento com a pessoa trouxe o olhar mais atento ao público e foi uma escola para ele, já que precisava lidar e ser sensível às pessoas dos mais variados tipos e culturas.

O engenheiro tem dois filhos cuiabanos, de 12 e 16 anos. Marcio diz que pretende dar a melhor formação para eles. “Porque a gente tem que educar e criar pessoas pro mundo de hoje. Quando você tá atento às pessoas, você se depara com muita coisa que não bate muito com o que você pensa, mas você tem que tentar entender. Ou tentar colocar o olhar no olhar do outro e tentar conviver da melhor maneira possível. A minha vida hoje eu dedico ao trabalho e à educação dos meus filhos, tentando formar eles pessoas boas pro mundo [...] que tragam algo positivo para esse mundo [...] Espero deixar neles uma marca que consiga que eles sejam agentes transformadores de um mundo um pouquinho melhor, um pouco mais compreensivo e que seja mais inclusivo do que o mundo que eu vivi”, expõe.

PRÊMIO JEJÉ DE OYÁ

O Prêmio Jejé de Oyá visa reconhecer os personagens negros de Cuiabá e da Baixada Cuiabana pelas histórias de luta, resistência, produção independente, capacidade criativa, empreendedorismo comercial e cultural, conhecimento educacional científico, merecimento e pertencimento étnico racial-religioso. Nesta edição, quatro personagens de destaque social são os homenageados. Profissionais que se destacam em 10 áreas de atuação serão premiados, após serem escolhidos por um júri técnico que observa pontos relevantes como: sociedade, profissionalismo, competência e comprometimento. Cada homenageado e as personalidades que receberão a premiação serão apresentadas no dia 29 de abril, no Teatro Zulmira Canavarros, em Cuiabá, a partir das 19h.

Jejé de Oyá, ou José Jacintho Siqueira de Arruda, foi um colunista social, alfaiate e carnavalesco. Filho biológico do casal Egídio Nunes de Arruda e Benedita de Siqueira, Jejé nasceu em Rosário Oeste, em 3 de junho de 1934. Ainda criança, foi acolhido em Cuiabá na casa de Catarina Monteiro da Silva Cuiabano, onde foi adotado por Crescêncio Monteiro da Silva e Luiza Monteiro da Silva.

Figura histórica do carnaval cuiabano, desfilou nos bailes, clubes, blocos e avenidas da cidade entre 1954 e 2010. Participou de grandes e importantes momentos da história social e política mato-grossense. Jejé, como era conhecido desde criança, marcou sua época como símbolo maior da luta contra o preconceito racial e sexual. Ganhou a simpatia da Capital sendo eleito em consulta popular do jornal Diário de Cuiabá como a personalidade que tinha a “cara da cidade”, entre outras honrarias públicas, foi condecorado como Comendador do Comércio Mato-grossense. Após seu falecimento, em 11 de janeiro de 2016, em sua residência, em Cuiabá, o governo do Estado sancionou uma lei reconhecendo o decano Jejé de Oyá como Patrono do Colunismo Social Mato-grossense.

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