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Artigos Quarta-feira, 16 de Julho de 2025, 09:02 - A | A

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Quarta-feira, 16 de Julho de 2025, 09h:02 - A | A

VANESSA MARQUES

Suspensão do deputado Janones: recado do Legislativo contra a política performática?

VANESSA MARQUES

A suspensão de três meses imposta ao deputado André Janones (Avante-MG) pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados não surpreendeu ninguém em Brasília. Nos bastidores, a medida era tratada como certa, mesmo às vésperas do recesso parlamentar. Com maioria conservadora, o colegiado já vinha demonstrando que iria avançar com algum tipo de punição. Janones, que promete recorrer ao Plenário, viu seu caso ser encerrado no Conselho por 16 votos a 3, um placar que, por ora, torna improvável a reversão da pena, especialmente porque o Plenário também conta com maioria de direita. Mas na política, nada é previsível.

A acusação se refere a um episódio de confronto direto com o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), durante discurso do bolsonarista na tribuna. A cena resultou em uma confusão generalizada no plenário, exigindo a intervenção da Polícia Legislativa, um episódio que, infelizmente, não é mais raro no Congresso. O perfil performático de alguns parlamentares, especialmente da chamada “bancada do selfie”, tem exigido cada vez mais da segurança da Casa.

Janones nega as acusações e afirma ter sido agredido fisicamente por parlamentares da extrema-direita. O vídeo da confusão viralizou, com mais de 1,5 milhão de visualizações e milhares de interações somente no Instagram. A postagem sobre o recurso à decisão também teve forte desempenho, com 345 mil visualizações em quatro horas, além de dezenas de milhares de curtidas, comentários e compartilhamentos.

O episódio lança luz sobre uma questão central e ainda pouco debatida na política: os limites entre o mandato parlamentar e a performance digital. Até que ponto o Legislativo aceitará que seus membros atuem como influenciadores, calibrando seus discursos conforme a lógica algorítmica das redes sociais digitais? A punição imposta a Janones sinaliza uma mudança institucional diante da crescente espetacularização da política ou é apenas uma tentativa de silenciar, ainda que momentaneamente, uma figura incômoda à direita bolsonarista e desafeto declarado de um dos principais líderes do engajamento digital no país?

Não se trata de isentar ou condenar Janones, mas de analisar o contexto mais amplo. A política performática, moldada para o consumo no formato atual imposto pelas redes, não foi criada por ele. Ao contrário, é uma ferramenta amplamente usada por diversos parlamentares.

É, no mínimo, irônico que muitos dos que se escandalizam com o estilo de Janones sejam os mesmos que exploram, com maestria, o discurso espetacularizado, de viés neopopulista, sustentado por uma retórica polarizadora para ampliar sua base digital.

A decisão do Conselho de Ética envia um recado político, e não apenas disciplinar, justamente num momento em que se intensificam os debates sobre o papel dos parlamentares influenciadores. É possível que este seja apenas o primeiro de muitos episódios em que o Legislativo tentará impor algum tipo de fronteira entre o cargo público e a persona digital. Mas é preciso cautela, pois a separação entre o que pertence à esfera pública e o que se configura como estratégia de engajamento está cada vez mais difícil de identificar.

Mais do que um duelo entre dois deputados ou uma rivalidade regional, a suspensão de Janones nos obriga a refletir: qual o modelo de representação que queremos sustentar? O desafio, como sempre, é encontrar o ponto de equilíbrio entre liberdade política e responsabilidade institucional, duas dimensões em permanente tensão no palco digital da política brasileira.

(*) VANESSA MARQUES é jornalista, mestre em comunicação na Espanha, e atua há 20 anos na comunicação política. Integra o Grupo de Pesquisa Informação Pública e Eleições (IPÊ), da Universidade de Brasília (UnB), onde desenvolve pesquisas sobre espetacularização da política, neopopulismo e plataformização do discurso político.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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