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“Será que estamos vivendo em uma sociedade condenada?”
Fiquei intrigada quando li uma opinião emitida por uma filósofa russo-americana Ayn Rand (judia, fugitiva da revolução russa, que chegou aos Estados Unidos em 1920), de como detectar se uma sociedade está condenada. Disse ela: “Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência mais que pelo trabalho e que as leis não nos protegem deles mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada”.
Refleti, então, sobre a história sócio-política do nosso país e nem quero dizer a que conclusão cheguei porque se eu perder a esperança de um Brasil melhor eu terei perdido toda a ternura e toda a força que impulsiona o meu viver. A estratégia é acreditar e contribuir de alguma forma para que haja uma reflexão sobre o nosso papel no contexto social e afastar o desânimo que insiste em lutar com a esperança.
A promulgação da Constituição Federal em 88 trouxe essa esperança. Foi o grande marco para a instalação do estado democrático de direito. Definiu os direitos e garantias fundamentais do cidadão assegurando o exercício pleno da cidadania. Depois vieram as leis, as emendas, as mudanças, o desrespeito aos ditames da carta magna, os corruptos, o comodismo e tudo isso abriu espaço para o desânimo.
Muita coisa evoluiu, mas faltou a evolução do caráter de muitos homens públicos – em cargos eletivos ou não – que sem medo de errar, não conseguem trabalhar para garantir ao povo uma vida mais digna até porque entram na vida pública para seu proveito próprio e de seus protegidos. Se assim não fosse a miséria e a insegurança social não teriam atingido esse caos. Estou sendo dura? Então, reflitam sobre o que aconteceu no cenário político nas últimas décadas.
Passamos 20 anos ouvindo que a direita roubava muito e que tudo era oculto já que não tínhamos acesso a nada porque a informação vinha a cavalo. Aí a tecnologia virtual chegou e com ela as informações em tempo real. Com um discurso de moralidade já, o grande partido de oposição, aquele que gritou 20 anos contra a corrupção, assumiu o poder. Que maravilha. Convenceram-nos de que aquela realidade mudaria, que seria um Brasil novo, que a corrupção e o desmando até então existentes, seriam coisas do passado.
Era a chance da virada. E o que vimos? Um mar de corrupção recompensadora já que todo mundo soube e mesmo assim permitiu que navegantes espertalhões se transformassem em homens riquíssimos em poucos anos. Mas como o povo é movido pelo discurso bonito e pela emoção, reconduziu o mesmo grupo na direção do país. E o que temos presenciado nos últimos meses? Um mar de corrupção que alimenta a instabilidade social. Quem mesmo que detecta que estão metendo a mão no dinheiro público? É a chefia? Não, a mídia. Quando a bomba estoura, aparecem os pilotos do barco em discursos bem escritos, apontando as providências contra os piratas, mostrando moralidade. Cai ministro, entra ministro, há prisões, solturas, e vira um “converseiro” só. O povo se espanta, fica chocado, se reúne no boteco para criticar e... a vida continua. Nós aqui embaixo nadando em águas turbulentas para sobreviver e os expropriadores do erário público no barco, lá em cima, bem alicerçados pelo poder.
Aí vem um jornalista correspondente do Jornal espanhol El País, em meados de julho e pergunta, cheio de razão: “Que país é este que junta milhões numa marcha gay, outros milhões numa marcha evangélica, muitas centenas numa marcha a favor da maconha, mas que não se mobiliza contra a corrupção?”
Será que a nossa sociedade está condenada ao ostracismo, à escravidão, ao fracasso, às desigualdades esmagadoras que ferem a dignidade da pessoa humana? Refletir sobre isso é o primeiro passo para se provocar mudanças.
(*) JANETE GARCIA DE OLIVEIRA VALDEZ é Advogada militante em Pontes e Lacerda, Professora Licenciada em Letras e colaboradora de HiperNotícias. E-mail: janetegar@hotmail.com
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Janete Garcia de Oliveira Valdez 05/10/2011
Obrigada pela leitura e comentário, Mário. É bem por aí mesmo. Abraços
Mario 04/10/2011
Em resumo: A Constituição trouxe a esperança, mas o Governo nao governa. A Educação não educa. A Segurança não segura. A Saúde não cura. O Judiciário não judicia. "Que País é esse?" Parabéns Dra. Janete pela matéria.
2 comentários