Nas tarde de domingo o Estádio Eurico Gaspar Dutra era o ponto de encontro dos torcedores cuiabanos, era o templo do futebol em Cuiabá antes do advento da construção do Verdão, os dirigentes eram amadores, sim, mas extremamente apaixonados, honestos e sempre respeitando as tradições de suas agremiações.
E, para homenageá-los, vamos citar apenas os principais: pelo Dom Bosco nos lembramos do eterno Presidente Joaquim de Assis, pelo Mixto lembramos-nos do grande e inesquecível Professor Ranulfo Paes de Barros e pelo lado do Operário o Comendador Rubens dos Santos. Cada um na sua forma de administrar e de envolver com o clube e com a cidade, cada um ao seu jeito carregaram essas agremiações nas costas, mas deixaram suas contribuições para a história do futebol de Cuiabá.
A história registra passagens importantes, onde cada Clube produzia uma forma de emoção e faziam com os torcedores apaixonassem cada vez mais por tudo que relacionava com o seu clube, e a rotina não ficava só dentro das quatro linhas, pois envolvia o mundo do misticismo, e nas proximidades dos clássicos, cada clube tinha o seu Pai de Santo: o Operário mandava buscar o Carrapato em Corumbá, e ele fazia aquelas oferendas de terreiros para derrotar os adversários, e no Mixto para não ficar para trás contratava o reforço espiritual do Pai de Santo Noêmio, que também fazia as suas mandingas e colocando as oferendas para fazer o seu time vencer e para prejudicar os adversários colocava os nomes de jogadores na boca de sapo, costurando-a e fincando alfinetes no corpo do animal para que os jogadores contundissem; era o mundo envolvente do futebol cuiabano.
O futebol não vive sem os torcedores, e os clubes vivem das emoções torcedores e por isso, não podemos esquecer-nos dos grandes torcedores, que agitavam as bandeiras nas arquibancadas do Dutrinha, eles faziam parte do espetáculo e davam vida ao nosso futebol.
Pelo lado do Dom Bosco tinham como os seus grandes torcedores: Armindo Pipoqueiro; Henrique Palminha, Carlinhos Iéié, e lá no último degrau da arquibancada do Dutrinha, víamos o famoso Professor João Crisóstemo andando nervosamente de um lado para o outro, suspendendo as calças e penteando os cabelos respirando fundo, e não podemos esquecer também do Mexidinha, os torcedores diziam para ele assim: “mexe ai mexidinha, e ele mexia o corpo inteiro”.
Pelo lado do Clube Operário, fica a lembrança dos torcedores símbolos como: o grande Zarour que aos gritos incentivava o tricolor da fronteira; Dona Mariana na sua inigualável agitação e amor ao Clube e Calazans com o seu grito tradicional – “ vamos Opeeeeeeeeeeerário”.
E, pelo lado Mixto tinham as figuras de “Chincharrinha”, a grande torcedora “Nhá Barbina” com aquela enorme bandeira alvinegra a tremular e com aquela voz rouca, soltava os gritos pelo seu time do coração: Mixto, Mixto, Mixto.
Nas tarde de domingo o Dutrinha ficava lotado, tinha até torcedores que assistia os jogos dependurado nos muros, era paixão pura, era emoção que nascia no fundo das almas dos torcedores, e era uma rivalidade sadia, sem violência, tanto é que ninguém saia ferido, ao fim dos jogos vinham somente as dores de cabeça pelas derrotas e as alegrias pelas vitórias, e tinha a Equipe da Peteca, sob o comando do mais laureado narrador esportivo, o grande Ivo de Almeida, que sabia promover os jogos, e passa a semana inteira gritando nos microfones : alô, alô, Areão, Lixeira e Baú: Mixto chamannnnnnnndo; alô; alô; alô Capela do Pisarão, Engordador, Manga e Cristo Rei: Operário chamannnnnndo.
Ficam aqui, apenas os registros das passagens de uma era emocionante do futebol cuiabano, por que hoje, apesar da construção da linda Arena Pantanal, o que vemos é uma estrutura de luxo para um pobre futebol, e com as sequencias de administrações ridículas e péssimos gerenciamentos, conseguiram apequenaram o nosso futebol, com a ressalva do Cuiabá Esporte Clube, que vem carregando o futebol cuiabano nas costas e transformou na esperança e alento para que os outros clubes possam crescer e em enquanto esse Clube que trás o nome desta cidade existir, o futebol cuiabano não morrerá.
E fica aqui nossa homenagem póstuma com a morte do seu fundador, o ex-jogador Luiz Carlos Toffoli, o Gaúcho, um dos fundadores do Cuiabá Esporte Clube, que morreu nesta quinta-feira (17) vítima de um câncer de próstata, aos 52 anos. Foi também, ex-jogador do Palmeiras e do Flamengo.
*WILSON CARLOS FUÁH é economista, especialista em Recursos Humanos e Relações Sociais e Políticas.
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