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O local do primeiro Arraial, segundo o documento oficial, foi no atual distrito do Coxipó do Ouro, localizado a mais ou menos vinte e cinco quilômetros do centro urbano da cidade.
Neste local primitivo, segundo relatos orais e depois contados pelo primeiro historiador e segundo vereador de Cuiabá, Barbosa de Sá, os bandeirantes paulistas liderados por Pascoal Moreira Cabral encontraram ouro por acaso e, de bandeirantes, viraram mineradores. Havia pouco mais de uma centena deles.
Em homenagem às descobertas iniciais e seus descobridores, temos hoje o bairro Bandeirantes, onde estão localizadas três grandes estátuas, com as figuras étnicas, do branco, do negro e do índio, sendo suas ruas nomeadas com os signatários da ata.
Oficializar a descoberta de ouro era uma obrigação, pois caso contrário eles iriam incorrer em crime de lesa majestade, o que poderia render o corte de suas cabeças.
Ao ler com mais detida visão o documento, constata-se algumas inquietações sobre a origem de Cuiabá.
Ao mesmo tempo em que fala logo no inicio do nome Cuiabá, o mesmo que redigiu o documento dá o nome de Nossa Senhora da Penha de França ao local. Mas os moradores vão chamar o local de Arraial da Forquilha, devido ao encontro de dois pequenos rios em um só, formando uma forquilha.
Contesta-se a veracidade do documento, alegando que ela foi transcrita pela primeira vez depois das descobertas. É interessante lembrar que informar ao rei ou a seu preposto legal (o governador de São Paulo) é ter que pagar o quinto real (imposto de vinte por cento ao rei), além de dividir as terras auríferas com mais gente.
O historiador Rubens de Mendonça, em seu livro Roteiro Histórico & Sentimental da vila do Bom Jesus e Cuiabá, pontua que a ata de fundação foi assinada no Morro da Luz, em frente ao antigo Clube Dom Bosco, como segue:
A lavratura da ata de 8 de abril de 1719 teve lugar nas proximidades do Clube DOM BOSCO, no Morro da Prainha, sob a ramagem de um frondoso “pau d’alho”, onde o Prefeito Vicente Emilio Vuolo fez assinalar com uma placa de bronze, os seguintes dizeres: “Neste local a 8 de abril de 1719, reunidos os Bandeirantes Pascoal Moreira Cabral foi lavrada a Ata de Fundação de Cuiabá”.
Embora o primeiro documento oficializando as descobertas fale desse primeiro povoamento, com o nome de Arraial, devemos lembrar-nos do bairro de São Gonçalo, na região do Coxipó da Ponte. Na microrregião, segundo outra vertente historiográfica, surgiu o primeiro núcleo de povoamento, que embora efêmero, era um entreposto com certo significado, onde paravam sempre Manoel de Campos Bicudo, o primeiro bandeirante português a pisar nesta paragens, e seu filho Antônio Pires de Campos.
Indo nesta linha da polêmica sobre a primazia do lugar onde aconteceu o povoamento original, ela se estende a data de 1722.
Em outubro de 1722, por meio de histórias orais, o já citado Barbosa de Sá fala das peripécias de dois índios domesticados de propriedade do paulista de Sorocaba, Miguel Sutil.
Durante a visita a uma roça às margens do rio Coxipó (atual Coxipó da Ponte), foram procurar mel silvestre e só voltaram tarde da noite. Em vez de mel, mostraram ouro. O episódio além de criar a famosa frase “Ouro ou mel”, ensejou a criação de outro arraial, às margens do córrego da Prainha, nas imediações da atual Igreja de São Benedito e de Nossa Senhora do Rosário.
As descobertas das “Lavras do Sutil” levou a migração da população de Arraial da Forquilha para o novo Arraial chamado de Nosso Senhor do Bom Jesus de Cuiabá.
A dubiedade está posta. Qual a data oficial do aniversário de Cuiabá? 8 de abril de 1719, ou outubro de 1722?
Percebam que hoje a região do Coxipó do Ouro pertence ao município de Cuiabá, mas na época era uma região qualquer sem significado ou limitações geográfica definida. A única definição possível de se alocar é que tudo aqui era invasão portuguesa em território espanhol, definido pelo Tratado de Tordesilhas.
Outras questões levantadas sobre o aniversário de Cuiabá é quanto ao seu nome. De onde vem o nome Cuiabá?
Alguns relembram que o rio tinha muitas cabaças, o que levantou a vertente de que Cuiabá significa rio das Cabaças. Dai surgiu a lenda do índio, ou de um jovem português, que viu sua cuia cair no rio e fez o barulho “bá”. Surgiu ai o nome Cuia que vá, e depois Cuiabá.
O mesmo rio tinha muitas lontras o que designou o termo ”lontra brilhante” do tupi guarani, significado do nome Cuiabá.
Segundo outros, o nome teria sido herdado do nome de uma tribo de índios, os Cuiabases.
A Antropologia afirma que devido à existência da tribos dos bororos vivendo às margens do rio Cuiabá, designou o nome de nossa cidade do lugar onde eles pescavam peixe com arpão, entre o fim do Córrego da Prainha e o rio Cuiabá, que eles designavam de Ikuiapa. Pela corrupção do nome indígena e as transformações do nosso português chega-se ao nome atual CUIABÁ.
Outra situação polêmica é quanto a categoria de bandeirantes como colonizadores de Mato Grosso. Pelo que se sabe, bandeirantes eram, entre outras situações da época, prezadores de índios.
Buscavam índios para alocá-los principalmente nas lavouras de São Paulo. Portanto, nesta categoria inicial, não podemos chamá-los de povoadores e sim de despovoadores dos nativos. No entanto ao se fixar nas terras auríferas, e devido ao tempo de fixação perene, tornaram-se povoadores pelo ouro.
Independente das polêmicas citadas, Cuiabá foi o primeiro núcleo urbano do Estado de Mato Grosso, adquiriu o status de Vila em 01 de janeiro de 1727 e foi elevada à categoria de cidade em 17 de setembro de 1818, por Carta Régia assinada por Dom João VI no Rio de Janeiro.
Mas faltava a Cuiabá o seu maior triunfo, o de ser capital do nosso Estado. Em 1835 isso ocorreu pela lei n. 19, no período regencial do Brasil (1831/1840).
* PEDRO FELIX é professor, historiador e autor de livros de História de Mato Grosso e de Cuiabá, centro da América do Sul. E-mail [email protected]
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