“Segure nossas magníficas lembranças, mas não tenha medo de criar novas”. Essa era uma das tantas mensagens contidas nas cartas póstumas do Gerry no romance “P.S. Te amo”, um dos filmes mais comoventes que assisti. A esposa Holly ficou viúva com apenas 29 anos e o marido teve a ideia de entregar cartas para que fossem entregues após a morte dele. No filme mostra o processo de luto de Holly pela passagem do marido.
A morte é um processo natural da vida, contudo existe o perigo de que esse luto seja reprimido ou negado. Muitas vezes essa atitude se dá por constrangimento ao demonstrar fraqueza ou por não ter um espaço acolhedor, como, por exemplo, ao receber as seguintes palavras de “apoio”: “ele foi para um lugar melhor”, “não fique triste”... ainda que seja boa a intenção, a dor é silenciada. Todavia, rejeitar as emoções não favorece o processo de luto. Do contrário, como diria Shakespare, “a dor que não fala, geme no coração até que o parte”.
De acordo com Bert Hellinger, desenvolvedor da constelação familiar, quando a dor do luto não é expressada adequadamente pelos antepassados, elas permanecem registradas no campo morfogenético e as gerações seguintes podem se agarrar a ela como se fosse deles, por lealdade ao sistema familiar. Por conseguinte, esses descendentes quebram o silêncio podendo ter os seguintes comportamentos: choro com facilidade, estar doente com frequência, trabalhar compulsivamente, não saber expressar o que sente, sentir tristeza, dor ou raiva, sem motivo.
o luto só respeita e honra os mortos quando há entrega à dor
Na abordagem da constelação sistêmica, o luto só respeita e honra os mortos quando há entrega à dor. Isto é, ao ser vivenciado em todas as etapas, tais quais, a negação, barganha, raiva, tristeza, explicação, compreensão, integração, aceitação, independente da ordem e do tempo, por mais assustador que o pesar seja, será possível se conectar com a própria vida, com os objetivos e sonhos. Dessa forma, o sofrimento de uma perda exige o reconhecimento como parte da experiência humana, de modo a criar um novo relacionamento com quem não se pode tocar, mas que vive nas lembranças da comida preferida à data de aniversário, e no coração.
Para auxiliar na conscientização a respeito do luto transgeracional, a constelação familiar é uma ferramenta útil para dar voz às palavras não ditas e emoções não expressadas, sem julgamentos e entorpecimento. De maneira semelhante às cartas do Gerry a sua esposa no filme, que quis mostrá-la que a morte não marca o fim de algo, mas sim uma maneira de olhar para o futuro com esperança renovada.
(*) BRUNA BERTHOLDO é Advogada e Terapeuta facilitadora em Constelação Sistêmica Familiar Individual e Neuroconstelação Escreve para HiperNotícias às terças-feiras. Instagram e facebook: brunabertholdocf E-mail: [email protected]
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