Cheguei à uma sala de Alcoólicos Anônimos em fevereiro de 1996.
Havia passado meus últimos três dias cambaleando entre os bares no entorno da Rodoviária de Cuiabá. Não me recordo como e onde consegui o número do telefone do escritório de A.A., mas uma atenciosa senhora me atendeu. Lembro-me que, arrogantemente e com a voz embargada de uma pessoa embriagada, a indaguei; “o que posso fazer para ajudar Alcoólicos Anônimos?”. Então, de forma delicada e sutil, ela me informou que eu deveria ir a um grupo próximo e lá me seriam reveladas as inúmeras maneiras de colaboração possíveis.
Assim cheguei ao Grupo Central de A.A., insano, débil, falido, desmoralizado, nocauteado pelas consequências dos sintomas da doença alcoolismo.
Às custas de muitas lágrimas e sofrimentos mentais e emocionais, iniciei minha jornada rumo à recuperação através dos Três Legados de A.A.
Graças ao meu Poder Superior consegui assimilar as sugestões do programa e a experiência dos companheiros e companheiras, principalmente de meu padrinho e, um dia de cada vez, os “despertares” se sucederam, à medida em que as circunstâncias surgiam em minha vida.
Não foi fácil. Precisei despertar muita aceitação, tolerância, honestidade comigo mesmo, humildade, resignação, desapego de velhos hábitos, crenças limitantes, aquisição de novos e saudáveis hábitos, controle de instintos naturais exacerbados, reduzindo-os à um patamar sustentável, além da administração de minhas imperfeições humanas (orgulho, egoísmo, egocentrismo, preguiça, vaidade, sentimentos de superioridade e inferioridade, gula, cobiça, inveja, ciúmes, dentre outros).
Foi difícil para um homem de quarenta e um anos de idade, que havia estudado no exterior, trabalhado vinte anos de paletó e gravata, em instituições internacionais e federais, se ver incapacitado de retomar seu antigo padrão de vida, aceitar sua derrota pelo abuso do álcool e ter que recomeçar tudo a partir do zero. Meu primeiro emprego, após um ano e meio de recuperação, foi de digitador, ao lado de jovens moças e rapazes. Cabisbaixo, porém focado naquele propósito consegui me manter. Obviamente, minha experiência e dedicação impulsionaram uma ascensão rápida e consistente naquele trabalho. A Irmandade de Alcoólicos Anônimos havia me fornecido as ferramentas e solidez necessárias ao meu retorno à vida profissional, familiar e social.
Daí em diante, “milagres” começaram a acontecer para mim. Voltei a estudar e cursei Direito. Agora estudo Astronomia e Arqueologia online, apenas para fins de conhecimento e expansão de consciência. Obtive vitórias, ao mesmo tempo em que sofri perdas significativas. Situações que a vida nos impõe, independentemente de ser ou não portador de uma doença incurável. Contudo, meu propósito de vida e minha fé permaneceram inabaláveis.
Vieram os netos, sobrinhos-netos, e muita alegria e amor preencheram meu coração, que jamais supôs ser possível viver, ainda nesta existência, tantas bem-aventuranças e bênçãos.
Hoje reconheço ter recebido o maior tesouro do mundo, de valor inestimável, que é a sobriedade e o domínio de minha vida. Para quem “queria ajudar”, eu é que fui ajudado.
(*) ADRIANO é nome fictício em respeito à tradição do Anonimato.
Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br
Clique aqui e faça parte no nosso grupo para receber as últimas do HiperNoticias.
Clique aqui e faça parte do nosso grupo no Telegram.
Siga-nos no TWITTER ; INSTAGRAM e FACEBOOK e acompanhe as notícias em primeira mão.
