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Artigos Sábado, 15 de Fevereiro de 2014, 08:00 - A | A

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Sábado, 15 de Fevereiro de 2014, 08h:00 - A | A

Causos de Mato Grosso 6

O retrato

ANÍBAL ALENCASTRO






Gabriel Soares / Hipernotícias

Na década de 20 o garimpo em Mato Grosso oferecia novas oportunidades de “riquezas” para aqueles aventureiros vindos de outras paragens. O diamante era o principal objetivo da febre avassaladora daqueles viajantes sonhadores



O município de Poxoréu ainda não existia oficialmente, mas o primitivo vilarejo de São Pedro estava ali, recebendo de braços abertos aqueles destemidos pioneiros.


Numa das levas de migrantes chega também no rude vilarejo, Severino, um baiano em busca, como os outros, do seu eldorado.

Em um velho carroção de tábuas trazia consigo, além de sonhos de ficar milionário, as pesadas tralhas de um garimpeiro.


Timidamente escondida, enrolada em míseros trapos de pano, buscando abrigar-se do frio, enfiada nos fundos do carroção, lá estava Joana, uma pobre e infeliz mulher, sofrida pelo tempo e aos loucos caprichos daquele rude e malvado senhorio.


Permanecendo o tempo suficiente no vilarejo de São Pedro apenas para a aquisição e localização de sua nova catra1 de exploração diamantífera, além de abastecimento de víveres para permanência no acampamento. Em seguida partiu mata adentro, a procura do famoso garimpo de Alto Coité.


A mata ainda era infestada de índios bravios, além de outros perigos, porém Severino abraçado a sua velha carabina não se intimidava.


Logo chegara naquele seu novo pequeno mundo de desafios a sua coragem, principalmente à sua força física, pondo-se a trabalhar imediatamente, ele e sua valente companheira Joana.


Aquele estranho casal viveu por longo tempo como animais selvagens, “socados” naquela mata, isolados por completo da sociedade, a algumas léguas do vilarejo.


De vez em quando, Severino deslocava-se até a vila para vender seus minguados xibius2, produto do seu árduo trabalho lá no garimpo, e sempre se empanturrando de aguardente em companhia de prostitutas da zona do baixo meretrício, onde gastava todo seu mísero dinheiro.


Severino retornava ao garimpo quase de bolsos vazios, esbravejando e sempre reclamando do pouco dinheiro ganho, que mal sobrava para as despesas dos suprimentos.


Já se passava mais de um ano, quando, um belo dia, o danado do Severino bamburrou3: encontrara quase que por encanto, nas lavras diamantíferas, uma preciosa pedra, um diamante dos mais valiosos.


Seus olhos brilharam tal qual a intensidade do brilho do seu belo diamante. Na sua cabeça vieram ideias mil: riqueza, mulheres, mulheres!


Por um momento, Severino estancou seus mirabolantes sonhos de “olhos abertos”. Lembrou-se de Joana. O que fazer com essa mulher? “Não posso levá-la comigo, vai me atrapalhar!...” – pensava consigo mesmo...


O demônio apoderou-se de sua perturbada mente, e movido por impulsos maléficos, dirigiu-se aquela pobre criatura a que um tanto lhe servira, e num golpe brutal, desferiu mortais facadas em seu peito, deixando aquele franzino e frágil corpo inerte e sem vida.


Ocultou aquele mísero cadáver numa tosca cova profunda. E pensou consigo mesmo: “Pronto, estou livre! Nunca ninguém a tinha visto mesmo...”


Em seguida rumou para o vilarejo de São Pedro, onde tratou logo de vender o precioso diamante. Era tanto dinheiro que o cabra não sabia ao que fazer. Passou a comprar tudo o que aparecia pela frente. Os amigos apareceram. Severino tornou-se um cidadão conceituado na vila.


Passado algum tempo, Severino apaixonou-se por uma linda moça, filha de um destacado cidadão local. Namoro vai, namoro vem, logo pediu a moça em casamento, marcando já a data do enlace matrimonial.


O esperado dia finalmente chegara e o pequeno vilarejo parou para a celebração do casamento do milionário Severino.



Após a estrondosa festa, com foguetório e tudo, Severino mandou chamar um fotógrafo para registrar o acontecimento. Tira foto daqui, tira foto dali... pronto, pose para a foto oficial. O casal de noivos se posicionou â frente do fotógrafo (tipo lambe-lambe).


Passou-se uma semana do acontecimento e chega a sua residência o fotógrafo, trazendo o maço de fotografias. Foi a maior alegria rever as cenas da festa, porém logo Severino sentiu a falta da foto principal,.a foto oficial do casal.


O fotógrafo, meio desconsertado, tentava explicar o incidente, dizendo: “Seu dotô, essa fotografia não saiu bem, não foi minha culpa, não sei porque razão ela ficou manchada, mas se o senhor quiser podemos bater outra chapa...”


– Não interessa outra chapa, quero aquela – retrucou Severino dando uma ordem definitiva ao lambe-lambe: “Volta lá, e me traga a chapa, quero vê-la!...”


Daí a pouco volta o fotógrafo apavorado, trazendo a foto defeituosa, abrindo o envelope trêmulo e entregando para Severino a tal foto.


Ao olhá-la, Severino deu um grito de horror: atravessada na forma horizontal, posicionada em frente ao casal, estava Joana, sua vítima.


Severino ficou abalado. Não suportou a emoção e confessou o seu hediondo crime...


Catra – local de exploração de diamantes.


Xibiu – diamante de pouco valor

Bamburrou – encontrou o precioso diamante


*ANÍBAL ALENCASTRO é geógrafo, pesquisador, escritor  e colaborador do HiperNotícias.

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias www.hnt.com.br

 

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